Uma atitude desastrosa de um deputado inexpressivo foi minimizada e ele seguiu a vida. O alvo era uma mulher que esse parlamentar pensava ser inferior a ele. A agressividade do machista e misógino se alicerçava na impunidade que impera no País. Não, não é o deputado Arthur do Val (Mamãe Falei) o sujeito da abertura desse artigo. A referência é feita ao deputado Jair Bolsonaro, quando, em 2014, atacou a deputada Maria do Rosário (PT-RS), dizendo que “jamais ia estuprar você porque você não merece”. Na sequência do vídeo, Bolsonaro chama a parlamentar gaúcha de “vagabunda”. O resultado, todos conhecem. Esse deputado não foi punido por falta de decoro parlamentar e tornou-se presidente.

O exemplo multiplica-se. Em 2018, um exército misógino se aglutinou em torno da candidatura do mesmo Bolsonaro à Presidência. Com um discurso contra a corrupção, o grupo abrigava conservadores que, pouco a pouco, vão se revelando como nocivos. Iludiram aqueles que não queriam enxergar o que propunha esse comando bolsonarista. O deputado Arthur do Val e suas falas machistas contra as ucranianas são apenas uma pequena mostra do que o bolsonarismo é capaz de produzir. Ele disse que as mulheres ucranianas são “fáceis porque são pobres” em plena guerra, em que as mulheres e seus filhos são as maiores vítimas dessa tragédia. Apesar de o presidente ter condenado o Mamãe Falei, o discurso é o mesmo. São bolsonaristas sendo bolsonaristas.

A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) tem agora uma oportunidade de contrariar a lógica do poder e cassar o mandato do youtuber. Na política, quase nunca a sensatez é levada em consideração. A namorada, essa sim, já cassou o relacionamento. Recentemente, a Alesp fez vistas grossas para o assédio sexual sofrido pela deputada Isa Penna pelo deputado Fernando Cury. O vídeo que circulou nas redes sociais deixou evidente o momento em que Cury coloca a mão de forma desrespeitosa em Isa. Punir Arthur seria uma forma da Alesp repensar seus procedimentos e dizer que não compactua com práticas misóginas. Mas, vai depender mais das relações que o Mamãe Falei tem dentro da Casa, do que a gravidade dos fatos.

O Podemos, partido em que Arthur estava filiado agiu rápido e ele viu que teria pouco espaço para se redimir. A única opção foi se desvincular da legenda para não prejudicá-la ainda mais. O mesma conduta foi tomada pelo parlamentar em relação ao MBL. Seus líderes fazem questão de manter o apoio a ele nas redes sociais, como é o caso do deputado Kim Kataguiri e do blogueiro Renan dos Santos. Os dirigentes têm utilizado o episódio para atacar quem critica Arthur, mas viram o candidato a Presidência, Sergio Moro, abandonar parlamentar, já que ele poderia prejudicar sua candidatura.

No imbróglio, o MBL é um capítulo à parte. Desde o caso do vereador Fernando Holiday (que já não está mais no Movimento), acusado de orientar alunos a denunciar professores, e da história de Kim Kataguiri que apoiou a existência de um partido nazista no Brasil, os escorregões têm desintegrado o grupo. Mamãe Falei já está fora da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. A tentativa de oxigenar a política nacional, produzindo novas lideranças, fracassou totalmente.