O presidente brasileiro Jair Bolsonaro desembarca no domingo 20 em Davos, na Suíça, para a 49ª edição do Fórum Econômico Mundial, o Woodstock do livre mercado e dos defensores do mundo globalizado. Apesar de seu discurso antiglobalista — constantemente martelado pelo chanceler Ernesto Araújo —, Bolsonaro vai ser o primeiro presidente latino-americano a falar na sessão inaugural do Fórum, na terça-feira 22. Na ausência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o brasileiro pretende ser o destaque dessa edição. Com um discurso de 45 minutos, ele deve falar sobre corrupção, reforma da Previdência e a intenção do Brasil de abandonar a postura de neutralidade na diplomacia mundial. O ministro da Justiça, Sérgio Moro, também estará presente e falará sobre o combate ao crime organizado e à corrupção. Da delegação brasileira fazem parte também Paulo Guedes, ministro da Economia, João Doria, governador de São Paulo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro e representantes da Eletrobras e da Petrobras. Além de discursos no Fórum, haverá encontros com autoridades e um jantar com representantes da América Latina.

NOVA REPUTAÇÃO

O evento de quatro dias, que ocorre em um resort em meio a montanhas nevadas, esse ano tem como tema “Globalização 4.0: Moldando uma Arquitetura Global na Era da Quarta Revolução Industrial”. Defender o capitalismo e o liberalismo costuma ser a receita certa para agradar aos participantes. Foi o que aconteceu com Lula em 2003, quando, recém-eleito, saiu do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, onde estava reunida a elite da esquerda antiglobalização, para apresentar suas credenciais capitalistas em Davos. Em 2014, Dilma Rousseff, no último ano do primeiro mandato, foi a Davos para tentar atrair investidores em meio à crise econômica e de confiança no País.

Agora o Brasil é esperado em um novo contexto. Bolsonaro é criticado pela imprensa internacional, que o classifica como um paladino da ultradireita. Diante de 60 chefes de Estado ou governo de países como Japão, Alemanha, Espanha, África do Sul e China, o presidente terá a oportunidade de firmar uma imagem diferente no evento. Não será fácil. Seu governo tirou o Brasil do pacto de Migração da ONU, titubeia sobre a permanência no acordo de Paris e recusa-se a seguir com a demarcação de terras indígenas. Davos possui uma agenda dominada por temas ambientais, direitos humanos e dos migrantes, e posições contrárias a essas pautas costuma desagradar os presentes.

Um relatório publicado pelo Fórum aponta como principais ameaças globais para 2019 temas que entram em contradição direta com Bolsonaro: o surgimento de um nacionalismo que pretende reconfigurar as disputas geopolíticas e as regras de acordos comerciais. Ainda é cedo para afirmar até que ponto o Brasil realmente seguirá para a direção que o Fórum repudia. Por enquanto, a vontade do País de romper com acordos multilaterais está mais no discurso ideológico do que em medidas práticas. A própria ida da equipe a Davos representa, no entanto, a prova de que é impossível para um governo que quer aquecer a economia de seu país não se render ao encontro, mesmo que no presidente predomine os mais pulsantes sentimentos antiglobalistas.