Evaldo Mocarzel já tinha alguns documentários no currículo, mas o grande divisor de águas de sua carreira é Do Luto à Luta, de 2005. Ele fala das influências sobre As Quatro Irmãs.

O título, obviamente, tem algo de Tchekhov, mas o que a gente vai encontrar de influência em As Quatro Irmãs?

Fiz doutorado na USP e durante o curso discutia muito um conceito com meu orientador e professores – a performatividade, que extrapola a questão das técnicas de interpretação. Uma influência muito forte foi (Ingmar) Bergman, Persona, a relação da atriz com a enfermeira, seu isolamento e a recuperação. Vera (Holtz) sofre de lapsos de memória quando tenta se lembrar da própria vida. Mas eu pensei em outro filme dos anos 1950 – Mônica e o Desejo, que fascinou Godard e Truffaut, ainda no tempo deles como críticos. Há uma cena emblemática em que Harriet Andersson olha para a câmera e fica encarando o espectador, e Bergman, que a dirigia. Minha ideia foi fazer com que Vera encarasse o buraco negro da câmera para superar o impasse e resgatar as próprias lembranças por meio da interatividade com as irmãs.

É, portanto, um filme de resgate da memória…

É isso e algo mais. Porque as irmãs, e a Vera, resgatam a memória transitando por esse casarão da família em Tatuí, que vai fazer 100 anos. Participas do processo fazzer pratos da família Fraletti Holtz, como o bacalhau do ‘pai Pedro’. A Vera, como atriz, como a truqueira que é, é ela mas também o pai, a mãe. Ela transita pela lembrança recriando seus afetos. E uma coisa que me parece essencial. O filme retrata uma época em que havia muito inocência e carinho entre as pessoas. Eu brincava com a Vera dizendo que a gente estava construindo um afresco civilizacional do tempo da delicadeza.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.