O Ministério Público do Paraná denunciou três homens nesta última quinta-feira (4) pelos crimes de associação criminosa, cárcere privado, tortura, redução a condição análoga à escravidão e retenção de documentos pessoais, os quais teriam acontecido na clínica de reabilitação Líber Centro Terapêutico, no balneário Pontal do Sul, em Pontal do Paraná (PR). Os acusados são o dono do estabelecimento e ex-internos que atuariam como monitores do público atendido.

Identificados como Pablo Fernandes, Narcizo Possebon dos Santos e Felipe Dala Dea Pagano, os réus estão presos preventivamente desde 17 de abril, quando a polícia descobriu que, por mais de 15 dias, pelo menos seis pacientes foram mantidos em “condições de grave sofrimento físico e moral”.

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A clínica publicava nas redes sociais o seu suposto trabalho positivo realizado com dezenas de pacientes da instituição. As postagens misturam atendimento social e viés religioso e mostram homens aparentemente felizes em atividades cotidianas. Entretanto, segundo o MP, o local submetia pessoas a uma variedade de crimes.

De acordo com a denúncia do órgão, os investigados mantiveram por mais de 15 dias, durante o último mês de abril, pelo menos seis pessoas em condições de grave sofrimento físico e moral. Conforme as investigações, os réus submetiam as vítimas a agressões, privações de alimentação e higiene como aplicação de castigo por supostas desobediências. Os internos apanhavam, tinham as mãos e pernas amarradas e eram submetidos a banho gelado e agressões físicas, como forma de castigo por tentativas de fuga do local, por tentarem comunicar a situação a familiares, dentre outros motivos.

Além disso, eram obrigados a realizar serviços de limpeza e higiene das dependências da clínica, inclusive de necessidades fisiológicas feitas nos quartos e corredores por outras vítimas, além de terem seus documentos pessoais retidos pelos denunciados. Entre as vítimas, estavam adolescentes e idosos.

O coordenador da clínica, Pablo Fernandes, exibia o suposto trabalho positivo em seu perfil pessoal. Em uma das fotos, ele aparece segurando uma bíblia e diz que a equipe tem “conhecimentos complementares, com metas de desempenho e de abordagens comuns, pelos quais todos são mutuamente responsáveis, além de outras formas de terapias”, e afirma: “Eu faço também a parte da espiritualidade”. Outras publicações mostram os pacientes em momentos de recreação, jogando sinuca e futebol na área externa da clínica.

As investigações sobre o caso, conduzidas pela Polícia Civil, tiveram início após relatos de ex-internos da unidade de tratamento ao serviço social municipal e à Guarda Municipal. As apurações prosseguem e, em caso de identificação de novas vítimas e outras pessoas envolvidas como responsáveis pelas agressões, novas denúncias poderão ser oferecidas.