Os traficantes de 85% do fentanil apreendido na fronteira entre México e Estados Unidos “não são os migrantes”, mas americanos, disse o embaixador do México em Washington, Esteban Moctezuma, nesta sexta-feira (14).

O governo Joe Biden declarou guerra ao fentanil, um opioide sintético até 50 vezes mais potente do que a heroína que matou dezenas de milhares de americanos em 2022.

A crise do fentanil se tornou um tema recorrente entre os republicanos no Congresso, onde alguns chegaram a pedir que sejam declarados como “organizações terroristas” os cartéis de drogas mexicanos. Eles fabricam essa droga com substâncias químicas (chamadas precursoras) procedentes, sobretudo, da China.

Isso aumentou a pressão sobre o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, que pediu a cooperação da China.

O México “está trabalhando de maneira muito firme” contra a produção de fentanil e a chegada de precursores, afirmou Moctezuma durante entrevista coletiva no Wilson Center, um “think tank” na capital dos Estados Unidos.

Com isso, disse ele, as travessias terrestres ficaram sob controle do Exército, e os portos, sob o controle da Marinha, e “cerca de 1.060 laboratórios clandestinos” de fabricação de medicamentos foram destruídos.

“Independentemente de quem produza, o compromisso é combatê-lo”, insistiu o embaixador.

Mas “estamos vendo que, em 85% das apreensões feitas na fronteira pelo CBP (Aduanas e Proteção fronteiriça dos EUA), quem transporta a droga não é migrante, é cidadão americano”, disse Moctezuma.

De acordo com um estudo publicado pelo Cato Institute, “em 2021, 86,3% dos traficantes de fentanil condenados eram cidadãos americanos”, que estão “sujeitos a menos controles” nas passagens de fronteira, ou dentro de veículos.

Moctezuna destacou que ambos os países estão cientes de que a luta contra o narcotráfico “é uma responsabilidade regional”.

“Isso significa responsabilidade de ambos os países, responsabilidade de quem produz, mas também de quem consome, responsabilidade do tráfico, mas não apenas de drogas, de armas também”.

Na mesma coletiva de imprensa, o embaixador dos Estados Unidos no México, Ken Salazar, reconheceu que o fentanil “é um problema muito difícil” e que ambos os países devem envolver a China na busca de uma solução, porque “de lá, da Ásia, é de onde vêm os precursores”.

No início de julho, os Estados Unidos reuniram, por videoconferência, ministros de mais de 80 países na tentativa de combater o fentanil, mas a China não participou.

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