As forças russas enfrentam dificuldades no leste e sul da Ucrânia, exceto em Bakhmut, onde ganham terreno graças ao apoio dos mercenários do grupo paramilitar Wagner.

O Wagner “está demostrando que é a força de infantaria mais preparada que o exército russo dispõe”, considera Philip Wasielewski, do instituto americano Foreign Policy.

Moscou sempre negou vínculos com grupos paramilitares e o Wagner não tem existência legal na Rússia, onde batalhões privados são proibidos por lei.

A máscara, no entanto, caiu em parte, depois que Yevgeny Prigozhin, homem de negócios ligado ao Kremlin, reconheceu em setembro ter fundado o Wagner em 2014, qualificando a organização como “pilar” da defesa dos interesses russos.

A presença de seus mercenários é documentada há oito anos em países como Síria, em apoio ao regime de Bashar al-Assad, na Líbia, além da República Centro-Africana e Mali, onde são acusados regularmente de abusos contra civis.

– “Músicos” na “orquestra” –

“São multiplicadores de força para a Rússia”, destaca Tracey German, professora de Defesa e Segurança do King’s College de Londres.

Nas redes sociais, simpatizantes do Wagner assumem em sua maioria a retórica do Kremlin, explicando que combatem na Ucrânia para “liberar o Donbass” e caçar “ucronazis”.

Mas o grupo, cuja bandeira exibe uma caveira, cultiva também uma particularidade: brinca com seu nome, o mesmo do famoso compositor alemão. Seus membros se autodenominam “músicos” e chamam a organização de “orquestra”.

Sobretudo, não esconde seu papel nos combates, nem sua crescente implicação, “reflexo da degradação generalizada do exército e do comando russos”, destaca Karolina Hird, do centro de pesquisa americano Institute for the Study of War.

– Luta por influência? –

 

Nesta quarta-feira, o líder do Wagner anunciou que o grupo começou a levantar uma linha de defesa fortificada na região de Lugansk, no leste da Ucrânia, anexada por Moscou em setembro.

Entre os pontos fortes do grupo, o investigador Philip Wasielewski destaca “um comando um pouco melhor” [que o exército russo], membros frequentemente recrutados entre forças especiais russas, maior coesão e moral mais alta porque recebem seu salário em dia.

No entanto, “cada vez soldados experientes deixam os campo de batalha mortos ou feridos gravemente”, recorda Wasielewski.

Além disso, “em todos os casos, o Wagner não avançará sem o restante do exército: não é suficientemente numeroso para enfrentar sozinho uma grande ofensiva”, afirma Yohann Michel, do International Institute for Strategic Studies.