Levantamento inédito do MapBiomas revela que a perda de vegetação nativa no Brasil se acelerou de dez anos para cá, mesmo em plena vigência no novo Código Florestal, aprovado pelo Congresso Nacional em 2012. “A análise das imagens de satélite mostra que, no período de cinco anos antes da aprovação do Código (2008-2012), houve uma perda de 5,8 milhões de hectares”, cita, em nota, o MapBiomas.

“Nos cinco anos seguintes à aprovação do Código (2013-2018), a perda subiu para 8 milhões de hectares e, no quinquênio seguinte (2018-2022), alcançou 12,8 milhões de hectares, aumento de 120% em relação a 2008-2012”, alerta.

Desta forma, o coordenador-geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, alerta que o País está “se distanciando, em vez de se aproximar” do objetivo de proteger a vegetação nativa brasileira previsto no Código Florestal e do compromisso de “zerar o desmatamento” até o fim desta década.

Outro dado aponta que, entre 1985 e 2022, o avanço da agropecuária sobre a vegetação nativa pode ser constatado em todos os biomas, com exceção da Mata Atlântica – o bioma mais desmatado do País. Na Amazônia, segundo o MapBiomas, a área ocupada pelo agro saltou de 3% para 16%; no Pantanal, de 5% para 15%; no Pampa, de 29% para 44%; na Caatinga, de 33% para 40%. No Cerrado, as atividades agropecuárias agora ocupam metade do bioma (50%); em 1985, era um pouco mais de um terço (34%).

Em todo o Brasil, a área ocupada por atividades agropecuárias passou de cerca de um quinto (22%) para um terço (33%) do Brasil.

As pastagens avançaram sobre 61,4 milhões de hectares entre 1985 e 2022; a agricultura, sobre 41,9 milhões de hectares.

O MapBiomas informa, ainda, que imagens de satélite confirmam a forte relação da agricultura e pecuária na dinâmica de ocupação do solo. “Entre 1985 e 2022, 72,7% dos 37 milhões de hectares do crescimento da área de agricultura no Brasil se deram sobre áreas já antropizadas, especialmente pastagens”, diz o estudo. “Apenas 27,3% das áreas convertidas para lavoura temporária são provenientes de vegetação nativa, com destaque para o Pampa, a fronteira da Amazônia com Cerrado e a região do Matopiba”, prossegue.

Já no caso da pastagem, o MapBiomas diz que a situação é oposta: mais da metade (55,8%) das áreas convertidas para pasto são provenientes de vegetação nativa. Foram 64 milhões de hectares de vegetação nativa convertidas para pastagens. Outros 5,4 milhões de hectares (mais do que o Estado do Rio de Janeiro) foram convertidos de vegetação nativa para pastagem e depois para agricultura.

O levantamento do MapBiomas aponta ainda que, analisando-se dados de 1985 até 2022, houve perda de 96 milhões de hectares de vegetação nativa – uma área equivalente a 2,5 vezes a Alemanha. A proporção de vegetação nativa no território caiu de 75% para 64% no período. O processo de antropização se deu mais fortemente na Amazônia e Cerrado nesse período, onde 52 milhões de hectares (equivalente à área da França) e 31,9 milhões de hectares foram antropizados. Proporcionalmente à vegetação existente em 1985, os biomas que mais perderam vegetação nativa até 2022 foram o Cerrado (25%) e o Pampa (24%).

Foi realizada também uma avaliação das áreas de vegetação secundária, ou seja, que já foram convertidas para uso antrópico e agora possuem vegetação nativa se regenerando. Em 2022, constataram-se mais de 44 milhões de hectares de vegetação secundária no Brasil, o que representa 9% de toda vegetação nativa do País.