O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) recuou 0,6% em junho contra maio, já descontados os efeitos sazonais, para 106,4 pontos. Esta foi a segunda queda consecutiva do índice, que recuou ao menor patamar desde junho de 2021, informou a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Os juros altos são apontados pela entidade como maior obstáculo para o consumidor conseguir crédito e voltar a consumir, principalmente bens duráveis.

Na comparação anual, a redução da confiança dos comerciantes caiu 13,1%, sendo a maior retração nesse comparativo desde abril de 2021, quando a queda foi de 20,7%. O destaque do mês foi a percepção desfavorável da situação atual. Há três meses, o índice de condições atuais mergulhou na zona negativa (abaixo dos 100 pontos), com quedas intensas da avaliação dos varejistas sobre o desempenho da economia e do comércio. A maioria dos comerciantes, 61,2%, aponta que as vendas no comércio pioraram. Essa proporção também é a mais elevada desde junho de 2021, informou a CNC.

“O resultado do Icec de junho mostra que os empresários do comércio estão cautelosos com a situação econômica atual do País, que afeta diretamente o consumo das famílias”, avalia o presidente da CNC, José Roberto Tadros.

O executivo destaca que a queda da confiança é um sinal de alerta, pois o setor vem sofrendo com as altas taxas de juros e as dificuldades que os consumidores têm de acessar crédito e pagar dívidas.

Juros

A CNC alerta que apesar dos consumidores indicarem maior intenção de compra na pesquisa de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), o nível de endividamento e inadimplência elevados, além do crédito caro e restrito, limitam a capacidade de consumo.

“O otimismo do consumidor, com maior segurança no emprego e melhora da renda disponível pela inflação mais baixa, não tem se traduzido em alta das vendas no varejo de forma geral e sustentada. Isso tem se refletido na redução da confiança do varejista”, analisa Izis Ferreira, economista da CNC responsável pela pesquisa.

Segundo a entidade, as expectativas para o desempenho do comércio também pioraram, com queda de 10,1% entre junho de 2022 e 2023.

“Dois em cada dez comerciantes consideram que as vendas no setor devem piorar no curto prazo, mesmo com a dinâmica mais favorável da inflação nos últimos meses. A permanência dos juros altos tem levado os comerciantes a redefinirem as estimativas para as vendas deste ano”, explica Ferreira.

Ferreira afirma ainda, que com a visão desfavorável do atual desempenho da economia e do comércio, e com as expectativas para o curto prazo em queda, os comerciantes de todos os segmentos também apontam que devem reduzir os investimentos, principalmente na contratação de funcionários e no capital físico das empresas.

O Icec indicou que as perspectivas de desempenho menos favorável das vendas nos próximos meses são generalizadas entre os lojistas. As quedas no mês e no ano foram mais intensas, no entanto, para o varejo de produtos duráveis, itens que dependem mais de crédito e de prazo para pagamento.

“A manutenção dos juros elevados, com endividamento e inadimplência maiores dos consumidores, tem levado os varejistas a considerarem que as vendas desses itens seguirão sofrendo com o crédito caro e cada vez mais seleto”, avalia a economista.

Para 24,7% dos comerciantes de itens de maior valor agregado, os estoques estão acima do adequado diante da perspectiva das vendas, proporção que vem crescendo desde o fim do ano passado.