O estilista Jonathan Anderson demonstrou, nesta sexta-feira (29), em Paris, sua capacidade de reinterpretar o extenso catálogo da marca espanhola Loewe, com a qual completa este mês uma década de colaboração, além da habilidade de se projetar para o futuro.

Adepto das colaborações artísticas, o estilista norte-irlandês voltou a apelar às esculturas da americana Lynda Beglis para fazer a cenografia do desfile, realizado no castelo de Vincennes, nos arredores da capital francesa.

Logo de entrada, um enorme suéter rebeca de lã grossa, sem mangas, com grandes botões dourados, foi apresentado, reinterpretado nas cores vermelha ou preta.

Em seguida, uma jovem magra com calças justíssimas quase até o peito remetia ao traje de um toureiro.

A Loewe é uma marca de luxo espanhola (atualmente integrada ao grupo francês LVMH), que fez das peles e dos artigos de hipismo e cavalaria sua especialidade por gerações.

“Tenho a sensação de que foi como uma viagem de dez anos”, explicou Anderson à imprensa, ao resumir sua colaboração com a marca.

“O que desfrutei nesse processo foi como criar uma atitude dentro de uma marca. Penso que cheguei a um ponto em que entendo essa atitude, com as bolsas, com as coleções femininas e masculinas”, acrescentou.

Anderson vem polindo as fronteiras entre os gêneros e seus desfiles costumam apresentar peças unissex.

O couro continua sendo o DNA da Loewe, mas Anderson aprendeu a brincar com ele, como no casaco longo combinando com a bolsa enorme. Como se fosse descaso, uma das abas do casaco vem inserida dentro da bolsa, deixando de fora as nádegas da modelo.

Para encerrar o desfile, o estilista recorreu a um recurso já usado em coleções masculinas: uma enorme agulha dourada, que fecha como um broche a parte da frente de um vestido de gala na cor marfim.

Anderson foi em parte criado em Ibiza, onde passou longas temporadas em uma casa que pertencia a seus pais.

“De certa forma, acredito que é isso é o que mais amo da Espanha: tem algo muito autêntico. Não há casa de luxo. É como (se tivesse) uma espécie de responsabilidade”, afirmou.

– “Capturar o que não tem forma” –

O japonês Issey Miyake também gosta de desfilar em Paris em colaboração com artistas, mas no seu caso com coreografias de companhias de dança para as quais desenhou figurinos em várias ocasiões.

Seu vestuário para a primavera/verão de 2024 se baseia em ombreiras exageradas, grandes volumes e vestidos justos, plissados ou com nós.

O nome da sua coleção é “Capturar o que não tem forma”.

– Depressão primaveril –

Miyake persegue a luz e o movimento em cores generosas, enquanto Henry Levy, estilista da marca Enfants Riches Deprimés (“Crianças ricas deprimidas”), com sede em Los Angeles, cultiva um lado obscuro.

Suas criações agradam astros do rock como Courtney Love, que assistiu ao desfile no Oratório de Paris, assim como atores como Jared Leto.

No meio do caminho entre o gótico e o punk, sua proposta se alimenta de toda a iconografia americana: jaquetas sobrepostas por cima de camisas extra-largas ou extra-curtas, botas de caubói e meiões aparentes.

Outras peças que chamaram a atenção foram as jaquetas de couro pretas ou brancas, a abundância de bijuterias e as cruzes estampadas nas costas.

Levy também sabe se aventurar em ternos masculinos para ele ou para ela, perfeitamente cortados, em lã, com broches que torcem o tecido.

Destaque para o casaco de grandes dimensões em seda estampada e tons de azul, um tecido que o estilista arrematou em um leilão e com o qual encerrou o desfile.

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