Muçum, cidade de quase 5 mil habitantes no interior gaúcho, está tomada por lama, caminhões e retroescavadeiras, após a passagem do ciclone que causou a maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul. O município teve o maior número de mortes – 14 das 39 confirmadas no Estado. Entre os moradores, os relatos são de quem foi salvo por pouco, ao se abrigar no telhado ou sair carregado pelos vizinhos.

O representante André Zeni, de 54 anos, estava no início da tarde na casa dos sogros, que têm 82 e 83 anos. “Quando a água começou a levantar, os vizinhos vieram socorrer. Se não, estavam na lista de desaparecidos”, diz ele sobre a noite de segunda-feira, 6. “Derrubaram o portão dos fundos. Vieram aqui e carregaram os dois no colo. A locomoção deles é difícil, são idosos”, continua.

Muçum ficou com 80% do território alagado – o cenário pelas ruas se assemelha ao de um terremoto. Segundo Zeni, a cidade e Roca Sales, onde nove morreram, foram “dizimadas”. Ele e mais oito voluntários faziam a limpeza do imóvel para que os idosos possam voltar nos próximos dias.

Só moradores, autoridades e a imprensa estão autorizados a ingressar na cidade. Voluntários também podem entrar, se forem ajudar na limpeza. Se for para a entrega de doações, os grupos deixam o material na entrada do município. A demanda maior não é por alimento e água, mas por materiais de limpeza e de higiene pessoal.

A professora Emanuele Lorenzini, de 21 anos, relata os momentos de desespero no dia do temporal. Quando o nível da água subiu, a família levou grande parte dos pertences para o segundo andar do imóvel, onde ela vive com os pais e a irmã mais nova, de 16 anos. À medida que a enchente piorava, eles se desesperavam.

O resgate demorou três horas para chegar. “Quando os bombeiros chegaram (de barco), ajudei eles a subirem no telhado”, conta ela. “Tive de ajudar os bombeiros a puxar as duas (a mãe e a irmã). A água tinha muita força.”

Dono de padaria estima prejuízo de R$ 300 mil

O padeiro Erik Masetto, de 32 anos, estima que a água subiu quase cinco metros e destruiu seu estabelecimento, que funciona desde 1998. No início da noite de segunda, quando percebeu que o alagamento avançava pela cidade, ele correu para salvar os pertences e levou parte para o vizinho. Mas a água também alcançou o outro imóvel.

“Perdemos todas as coisas”, afirma ele, ao listar a destruição de fornos, freezers e dos estoques de farinha. Masetto, cuja mãe também teve a casa invadida pela enxurrada, estima prejuízo de aproximadamente R$ 300 mil.