O general de Exército Augusto Heleno presta depoimento nesta terça-feira, 26, à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, onde deve ser questionado sobre a sua atuação à frente do Gabinete de Segurança Institucional do governo do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) nos meses que antecederam a invasão golpista aos prédios dos Três Poderes, em Brasília. O militar foi aplaudido de pé por parlamentares da tropa de choque bolsonarista ao chegar ao plenário.

O militar comparece munido de um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cristino Zanin, que o autorizou a permanecer em silêncio quando questionado sobre fatos que possam incriminá-lo. Heleno não é alvo de nenhum dos inquéritos que envolvem Bolsonaro, e está sendo ouvido como testemunha.

Heleno foi ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal em junho e manteve-se fiel a Bolsonaro, como ele mesmo afirmou. O ex-GSI disse não ter sido articulador de golpe e recorrentemente respondeu “não me lembro” ao ser questionado por deputados de partidos da oposição.

Em junho, em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos no Distrito Federal, o general Heleno disse que os acampamentos golpistas eram “locais sadios” e minimizou as ocorrências. Mas o contexto agora é menos favorável ao ex-chefe do GSI do que há três meses. O testemunho dele ocorrerá entre diversos reveses que têm atingido os militares nas últimas semanas, como a operação da Polícia Federal que cita o general Braga Netto em uma investigação sobre supostos desvios de dinheiro público durante a intervenção federal no Rio de Janeiro.

Segundo vazamentos da delação premiada de Mauro Cid, Bolsonaro se reuniu com a cúpula das Forças Armadas no final do ano passado para discutir a possibilidade de uma intervenção militar para anular o resultado da eleição de 2022, que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Heleno era chefe do GSI e aliado próximo de Bolsonaro à época e seu depoimento foi marcado logo depois da revelação. Os parlamentares da CPMI devem apurar o possível envolvimento dele na ocasião.

Como mostrou a Coluna do Estadão, Heleno ativou o modo “não sei de nada” sobre a delação de Cid. O general da reserva tem dito a interlocutores que não pretende se manifestar sobre supostas informações de que ele seria citado na colaboração do ex-ajudante de ordens.

Outro fato que a base governista deve usar contra Heleno é o fato de dois de seus subordinados diretos, os generais Carlos José Russo Assumpção Penteado e Carlos Feitosa Rodrigues, terem permanecido na estrutura do GSI nos primeiros dias do governo Lula. Os dois militares foram exonerados no dia 23 de janeiro e, em abril, foram chamados para prestar depoimento no âmbito da Operação Lesa Pátria, que apura a suposta conivência e participação de integrantes das Forças Armadas com a invasão das sedes dos Três Poderes.

Heleno pode ajudar a esclarecer as ações de seus subordinados nos atos e se houve algum tipo de conivência da parte deles.