O objeto da foto era pôr fim às especulações sobre a saúde de Catherine, a princesa de Gales, mas, ao contrário do que se esperava, a imagem manipulada desencadeou uma enormidade de rumores e teorias da conspiração que sacudiram a Internet.

A tempestade começou depois que Catherine, a esposa do herdeiro da coroa britânica, William, admitiu que a foto oficial onde aparecia sorridente ao lado de seus três filhos no Dia das Mães havia sido editada.

A princesa pediu desculpas e a imagem foi retirada de circulação das principais agências de notícias, incluindo a AFP.

A ausência de Catherine da esfera pública nas últimas semanas e a falta de informação oficial sobre seu paradeiro vinham gerando todo tipo de especulação nas redes: que seu casamento com William estava com problemas, que a princesa estava se recuperando de um transtorno alimentar, ou de uma cirurgia estética nos glúteos. Alguns se perguntavam inclusive se ela estava viva.

A “prova de vida” chegou no domingo, quando o Palácio de Kensington publicou a polêmica fotografia, supostamente tirada pelo príncipe William.

Foi a primeira foto oficial desde a operação abdominal da princesa em meados de janeiro, intervenção cujos detalhes não foram revelados.

Mas rapidamente os internautas, atentos ao menor deslize, começaram a esmiuçar a imagem e a apontar suas inconsistências, como o zíper desalinhado da jaqueta de Catherine.

Após a retirada da imagem por parte das principais agências de notícias, a princesa pediu desculpas em um comunicado, mas não explicou por que havia editado a imagem, nem o que removeu do retrato.

“A moral da edição das fotos é simples: conte tudo”, escreveu o colunista do The Guardian, Simon Jenkins. “Quando se chega a esse ponto, a privacidade não funciona. Alimenta rumores, piadas e invenções.”

– Especulações sem fim –

E foi exatamente isso que aconteceu: a Internet foi inundada de memes tentando responder o que a realeza britânica está tentando esconder.

“Todas as famílias escondem um segredo”, lia-se em uma publicação que viralizou na rede X, que simulava o poster de uma série fictícia da Netflix intitulada “Uma conspiração real. O desaparecimento de Kate Middleton”.

O mistério do Palácio e o gerenciamento das relações públicas do caso agravaram as especulações em torno de Catherine, despertando, até mesmo, o interesse de quem normalmente não acompanha a família real.

Alguns se perguntaram se foi de fato Catherine que editou a foto, como afirma a versão oficial.

Outros consultaram especialistas em jardinagem para saber mais sobre a planta que aparece no fundo, levantando suspeitas de que teriam muitas folhas para essa época do ano na Inglaterra.

Os mais céticos pediram explicações sobre o paradeiro de Catherine, e alguns especularam com humor que ela teria deixado sua família para fazer um curso intensivo de Photoshop.

Simpatizantes da realeza tentaram conter a avalanche dizendo que a princesa tem direito à sua privacidade, mas esses pedidos parecem ter sido ignorados.

– ‘Transparência’ –

A imagem manipulada de Kate Middleton ocorre em um momento de grande preocupação sobre a informação falsa ou enganosa propagada em conteúdos visuais, especialmente após os enormes avanços de aplicativos de Inteligência Artificial (IA).

“As pessoas sentem uma desorientação generalizada, suspeita e desconfiança”, afirmou o articulista americano Charlie Warzel na revista Atlantic Monthly.

“Como demonstra esse fiasco da foto real, a era dos ‘deepfakes’ não requer uma tecnologia de IA generativa, basta com um simples Photoshop.”

O episódio também levou muitos a se perguntarem se a coroa britânica divulgou outras imagens adulteradas no passado. Veículos como a CNN afirmaram ter iniciado uma revisão de todas as fotos cedidas previamente à imprensa pelo Palácio de Kensington.

E o clima de desconfiança on-line reacendeu os pedidos por maior transparência, inclusive entre os membros da realeza britânica conhecidos por sua discrição.

No mês passado, o rei Charles III, sogro de Catherine, recebeu elogios por tonar público seu diagnóstico de câncer.

Mas muitos especialistas em saúde criticaram que não tenha revelado qual tipo de câncer o acomete, uma informação que poderia ter incentivado os britânicos comuns a fazer exames preventivos.

“Se os membros da realeza querem ser modelo de valores importantes para a nação, deveriam começar a revisar sua relação com a imprensa, a favor da transparência e da honestidade”, disse na rede X Catherine Mayer, autora do livro “Charles: The Heart of a King” (ainda sem tradução para o português).

“Deveriam se opor à desinformação, não contribuir com ela.”

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