Qual a relação de um tanque de guerra e o processo independentista do Brasil? Nenhuma, evidentemente. Mas por que, novamente, vimos no último dia 7 de setembro governadores desfilando como se fosse uma parada militar? Isto tudo em um País que não entrou em conflito bélico – ainda bem – com seus vizinhos nos últimos 153 anos?

O mesmo ocorre quando se comemora o 15 de novembro. Os republicanos históricos eram civis, como Lopes Trovão, Quintino Bocaiúva, Silva Jardim, Saldanha Marinho, entre outros. A Proclamação da República, como é sabido, foi um golpe miliar. Mas o novo regime só se estabiliza com os governos civis, a partir de novembro de 1894, quando Prudente de Morais assume o Executivo federal, ainda sediado no Palácio do Itamaraty.

Estas duas datas são emblemáticas. A participação popular foi tímida. Porém, se observamos os acontecimentos no sentido mais amplo, veremos “povo” em movimento, tanto em 1817, especialmente em Pernambuco, o 2 de julho de 1823, na Bahia ou, ainda, na Confederação do Equador, isto para ficarmos somente na Independência. No caso da República, temos as reuniões, algumas extremamente exaltadas, dos republicanos históricos – basta acompanhar a carreira de Silva Jardim –, e movimentos na última década do século XIX.

Mas, mesmo assim, nenhum alcança, por exemplo, a permanência na memória popular da Independência mexicana (o “Grito de Dolores”) ou da luta de Benito Juarez contra invasão francesa e a restauração da República. Nos dois movimentos a participação popular é fundamental e essencial para a vitória dos independentistas e dos patriotas mexicanos.

Os feriados nacionais precisam ter significado histórico, como já escrevia Raul Pompéia em 1893.

Contudo, é possível transformar tanto o 7 de setembro como o 15 de novembro em momentos de reflexão sobre o Brasil. Independência para quem? República para quem? Onde estavam os escravos ou as classes populares em 1822 e 1889? A partir daí é aceitável abrir uma discussão sobre o passado e o presente permitindo uma abordagem robusta sobre o nosso futuro comum.

Como sempre vai ocorrer quando se discute a história – e não é só no Brasil – o panfletarismo rondará a análise e a opinião, tanto dos professores, como dos alunos. É natural, mas não significa que devemos aceitar como se fosse um dado da natureza, como um tsunami ou uma erupção vulcânica. A tarefa – que é um desafio – é construir caminhos que permitam diferentes abordagens dos dois acontecimentos históricos. Os feriados nacionais precisam ter significado histórico, como já escrevia Raul Pompéia em 1893.