Os Estados Unidos “sempre” vão apoiar Israel, garantiu, nesta quinta-feira (12), o secretário de Estado Antony Blinken em Tel Aviv, no sexto dia de uma guerra desencadeada pela ofensiva surpresa de Hamas a partir de Gaza, que já deixa milhares de mortos em ambos os lados.

Israel prometeu “destruir” o movimento islamista palestino, que mantém sequestradas cerca de 150 pessoas capturadas em sua incursão de sábado.

O Exército israelense, que bombardeia a Faixa de Gaza com uma salva de artilharia a cada 30 segundos, cogita realizar uma “manobra terrestre” no território palestino para responder ao que Israel definiu como “o 11 de setembro israelense”.

Israel garante que está atacando alvos do Hamas, mas a perspectiva de um ataque terrestre contra uma área de 360 km², na qual vivem 2,3 milhões de pessoas, gera preocupação pelas consequências humanitárias e pelos riscos de uma escalada do conflito.

Os países-membros da Otan expressaram sua solidariedade com Israel, mas instaram o Estado judeu a “se defender proporcionalmente contra estes atos de terrorismo injustificáveis”.

Na quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já havia instado o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a proceder acatando “as normas da guerra”.

No entanto, seu secretário de Estado detalhou nesta quinta-feira, em Bruxelas, que Washington não havia colocado “nenhuma condição” para o envio de material militar.

O material destina-se a “pessoal militar profissional, conduzido por líderes profissionais, e espera-se que façam o correto na continuidade de sua campanha”, declarou.

Além disso, Blinken reforçou o apoio de Washington a Israel.

“Vocês podem ser fortes o bastante para se defenderem” por si mesmos, “mas enquanto existirem os Estados Unidos […] vamos estar sempre ao seu lado”, acrescentou.

Segundo os balanços de ambos os lados, a guerra já cobrou a vida de pelo menos 1.354 palestinos em Gaza e de mais de 1.200 pessoas assassinadas por milicianos de Hamas em solo israelense.

Além disso, o Exército israelense afirmou ter encontrado cerca de 1.500 corpos de combatentes do Hamas que haviam entrado no país.

Blinken condenou o Hamas, que governa Gaza desde 2006, mas destacou a necessidade de relançar o processo de paz israelense-palestino, uma ideia que, durante bastante tempo, encontrou resistência por parte de Netanyahu.

“Sabemos que o Hamas não representa o povo palestino, nem suas aspirações legítimas de viver em igualdade de condições de segurança, liberdade, oportunidades de justiça e dignidade”, afirmou.

Já Netanyahu disse que o Hamas será tratado da mesma maneira que o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), que durante anos dominou partes da Síria e do Iraque.

“Tal como o EI foi esmagado, o Hamas será esmagado. E o Hamas deveria ser tratado exatamente da mesma forma que o EI foi tratado”, declarou.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, exigiu “o fim imediato da agressão generalizada contra o povo palestino”.

Abbas, que administra a Cisjordânia, rechaçou “as práticas que levem à morte de civis e a maus-tratos contra eles de ambos os lados”.

– ‘Ciclo de violência e horror’ –

O ministro de Energia israelense, Israel Katz, informou que seu país não vai autorizar a entrada de produtos de primeira necessidade nem de ajuda humanitária em Gaza enquanto o Hamas não libertar os reféns.

“Ajuda humanitária a Gaza? Não vão poder ligar nenhum interruptor elétrico, não vão poder abrir nenhuma torneira, nenhum caminhão de combustível vai entrar, enquanto os israelenses sequestrados não tiverem voltado para suas casas”, declarou.

Fabrizio Carboni, diretor regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), fez um apelo a ambas as partes para “reduzir o sofrimento dos civis”.

“Sem eletricidade, os hospitais correm o risco de se transformarem em necrotérios”, advertiu.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou sua preocupação pelo “ciclo de violência e horror” e pediu a libertação de todos os reféns e o fim do cerco a Gaza.

Há pedidos para que se estabeleça um corredor humanitário que permita aos civis palestinos sair da Faixa antes de uma eventual invasão terrestre israelense, que se traduziria em combates urbanos brutais e lutas casa por casa.

Se Israel enviar forças terrestres a Gaza, corre o risco de cair em uma “armadilha” do Hamas, advertiu o ex-chefe do serviço de inteligência britânico MI6, Alex Younger, em declarações à BBC.

“Não se deve fazer o que o seu inimigo quer que você faça”, acrescentou, argumentando que a inevitável perda de vidas inocentes seria um incentivo ainda maior para a radicalização e o sentimento regional contra Israel e seus aliados.

“Isto é tudo que o Hamas quer”, frisou.

– Pilha de cadáveres –

Israel mobilizou 300.000 reservistas e enviou tropas, tanques e veículos blindados pesados às regiões desérticas do sul no entorno de Gaza.

Por terra, mar e ar, centenas de militantes do Hamas atacaram Israel no sábado, coincidindo com o fim do feriado judaico do Sucot.

Nas ruas, nas casas, nas cooperativas agrícolas e até em um festival de música, realizaram massacres de civis sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948.

Na entrada do kibutz Beeri, a menos de cinco quilômetros da fronteira com Gaza, uma pilha de corpos atestava a magnitude do ataque.

“A devastação aqui é absolutamente imensa”, disse Doron Spielman, porta-voz do Exército israelense. “E isso sem contar os muitos membros do kibutz que foram feitos reféns e levados para Gaza”, acrescentou outro porta-voz do Exército, Jonathan Cornicus.

Os bombardeios israelenses atingiram dezenas de edifícios, fábricas, mesquitas e lojas, segundo o Hamas.

“É como um apocalipse, ou um terremoto”, os israelenses “vieram para destruir, como se essas pessoas não merecessem viver. Como se não fossem humanos”, disse, em meio a escombros, um morador do distrito de Karama, em Gaza, que não quis dar seu nome.

O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, convocou os países islâmicos e árabes a cooperarem para enfrentar Israel.

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