Sobraram apenas cinzas do bosque verde andino onde María Yadira Jiménez trabalhava como guia turística na Colômbia, país que declarou situação de “desastre natural” por conta dos incêndios florestais.

Desde a segunda-feira (22), as chamas avançam em uma área rural de Nemocón, um município de belas paisagens situado a cerca de 60 km de Bogotá. Tradicionalmente frias, as montanhas que cercam a cidade se tornaram um inferno. O fogo afugentou moradores e animais silvestres.

Angustiada, María Yadira se juntou ao grupo de voluntários que, ao lado de bombeiros, socorristas, policiais e militares, lutam para extinguir um dos 34 focos que o governo detectou na Colômbia, que sofre com as altas temperaturas causadas pelo fenômeno climático El Niño.

“É um desastre que vai nos trazer consequências muito graves. Pássaros morreram queimados, estamos perdendo espécies nativas e tudo está sendo afetado”, conta a mulher de 46 anos à AFP.

O órgão estatal Unidade Nacional para a Gestão do Risco de Desastres (UNGRD) calcula que pelo menos 17.100 hectares de vegetação foram perdidos em todo o país desde novembro, quando a seca teve início e as temperaturas começaram a subir.

– Sol forte –

Na capital Bogotá, uma densa coluna de fumaça brota da cadeia de montanhas que se estende nos limites desta metrópole de oito milhões de habitantes. O som dos helicópteros que lançam água sobre as chamas se tornou constante.

Diante do “desastre natural” decretado pelo governo, o presidente Gustavo Petro pediu ajuda aos países-membros das Nações Unidas.

Em Nemocón, os moradores acusam uma empresa de eletricidade de ter iniciado o incêndio, que se propagou sem freio entre a mata seca por falta de chuva.

Procurada pela AFP, a companhia afirmou que o fogo foi provocado por “condições climáticas geradas pela onda de calor” e que seus funcionários “desenergizaram” as linhas de distribuição que atravessam a região.

O mês de janeiro de 2024 está sendo projetado como o mais quente na Colômbia desde que os registros começaram há 30 anos, segundo o Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais do país (Ideam).

“Nós somos de uma terra fria e este sol não queimava assim antes”, constata preocupada María Yadira.

Esquecidas desde o fim da pandemia, as máscaras voltaram a se tornar comuns em Bogotá, onde a prefeitura recomenda que os moradores dos bairros mais afetados se protejam diante da má qualidade do ar. Também aconselha que as pessoas evitem os exercícios ao ar livre, mantenham as janelas fechadas e restringiu o uso de veículos particulares.

O céu está livre de nuvens. Em Nemocón e na capital, indígenas realizam rituais pedindo chuva aos ancestrais, mas a ciência está pouco otimista. O Ideam antecipa que fevereiro terá temperaturas ainda mais elevadas e somente em março as chuvas vão aliviar a situação de emergência.

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