O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, reconheceu no domingo (31) a vitória histórica da oposição nas eleições municipais, que marcaram “uma mudança” para o seu partido, no poder desde 2002

Após a apuração de quase 99% das urnas em todo o país, os resultados confirmam que a oposição turca infligiu a pior derrota eleitoral em duas décadas ao partido conservador islâmico AKP, de Erdogan.

O principal partido da oposição, o social-democrata CHP, venceu em Istambul e Ancara, as duas maiores cidades do país, e triunfou em outras, como Bursa, uma cidade industrial que votava no AKP desde 2004.

Os resultados devem ser confirmados na tarde de segunda-feira pela Alta Comissão Eleitoral (YSK).

Mas com os resultados preliminares, o prefeito opositor de Istambul, Ekrem Imamoglu, anunciou sua reeleição na maior cidade da Turquia.

“Os eleitores decidiram mudar a cara da Turquia”, disse Özgür Özel, presidente do CHP, depois do anúncio dos primeiros resultados.

Aos 70 anos, o presidente Recep Tayyip Erdogan se envolveu de corpo e alma na campanha eleitoral deste país de 85 milhões de habitantes para impulsionar os candidatos do AKP.

Um de seus principais objetivos era recuperar a Prefeitura de Istambul, capital econômica do país, que ele governou entre 1994 e 1998.

Mas o presidente admitiu que os resultados deste pleito marcam “uma mudança” para seu partido, o AKP, embora tenha prometido “respeitar a decisão da nação”.

“Lamentavelmente, não alcançamos os resultados que queríamos”, disse Erdogan na sede de seu partido diante de apoiadores desanimados.

A crise econômica que afeta as famílias, com uma inflação elevada, beneficiou a oposição e o prefeito de Istambul proclamou sua vitória.

Em Ancara, o prefeito Mansur Yavas, também do CHP, reivindicou a vitória e declarou a uma multidão em festa que “aqueles que foram ignorados enviaram uma mensagem clara aos que governam este país”.

O CHP também está bem posicionado para vencer em Izmir, a terceira cidade do país.

As eleições municipais são consideradas um teste para o governo de Erdogan.

“Há uma necessidade real de equilíbrio, ao menos em nível local, contra o governo”, disse, em Ancara, Serhan Solak, de 56 anos, que declarou ter votado em Mansur Yavas.

Embora o chefe de Estado não fosse candidato nestas eleições locais, sua sombra se projetou mais do que nunca sobre as urnas, pois chegou a realizar quatro comícios por dia.

– Istambul, mais que uma Prefeitura –

Erdogan foi prefeito de Istambul nos anos 1990, antes de ser presidente e, nestas eleições, se empenhou em tirar da Prefeitura Imamoglu, personalidade de destaque da oposição que lhe arrebatou a principal e mais rica cidade do país.

A reeleição de Imamoglu pode dar a ele muito peso com vistas às eleições presidenciais de 2028.

Erdogan o descreveu como um indivíduo ambicioso e pouco preocupado com a cidade, tachando-o de “prefeito em meio período”, obcecado com a Presidência.

Apesar da mobilização de recursos de Erdogan, a crise econômica comprometeu as chances do seu partido.

O país enfrenta uma inflação oficial de 67% em 12 meses e uma desvalorização expressiva de sua moeda, que passou de 19 a 31 liras turcas por dólar em um ano.

“As pessoas estão preocupadas com o dia a dia”, disse Guler Kaya, de 43 anos, moradora de Istambul. “A crise está engolindo a classe média, tivemos que mudar nossos hábitos”, relatou. “Se Erdogan vencer, será ainda pior”.

Na província de maioria curda de Diyarbakir, no sudeste do país, foram registrados confrontos na manhã deste domingo à margem das eleições: uma pessoa morreu e 12 ficaram feridas, informou um funcionário à AFP.

Desta vez, ao contrário de 2019, a oposição disputou estas eleições dividida. O partido CHP, a principal legenda opositora, não conseguiu consenso para o nome de Imamoglu em Istambul, nem em outras partes do país.

O partido pró-curdo Dem se apresentou sozinho, o que favoreceu o partido no poder, ameaçado pela pressão do partido islamista Yeniden Refah.

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