O jornal Global Times, pertencente ao Partido Comunista Chinês, publicou um editorial nesta semana afirmando que as críticas dos chineses à série O Problema dos 3 Corpos, da Netflix, não devem ser entendidas como nacionalismo.

A produção, que chegou à plataforma em 21 de março, é baseado em livro do chinês Liu Cixin, vencedor do prêmio Hugo, maior honra de literatura de ficção científica, e tem os mesmos produtores de Game of Thrones, considerada uma das séries de maior sucesso de todos os tempos.

Atualmente a segunda série mais assistida da Netflix no Brasil, ela foi chamada pelo New York Times de “espetáculo cerebral”, mas não foi recebida da mesma forma pelos chineses, que assistiram à produção burlando restrições, já que a plataforma de streaming não está disponível no país.

De acordo com o The Guardian, já na manhã de sexta-feira, 22, uma hashtag com o nome da série havia sido lida mais de 2 bilhões de vezes e discutida quase 1,5 milhão de vezes na plataforma Weibo, uma rede social chinesa.

Por que os chineses criticaram ‘O Problema dos 3 Corpos’?

O livro de Liu Cixin que deu origem a O Problema dos 3 Corpos é uma das obras de ficção mais populares da China. A trama se inicia durante a Revolução Cultural Chinesa nos anos 1960, quando um grupo de astrofísicos, militares e engenheiros desenvolve um projeto ultrassecreto envolvendo ondas sonoras e seres extraterrestres.

No Weibo, as principais críticas à série se referem às mudanças que a Netflix e os produtores fizeram para levar a história ao streaming. Entre elas, transferir parte da trama para o Reino Unido e contratar um elenco majoritariamente ocidental. Parte dos espectadores chineses acredita que a série foi “americanizada” e virou um “produto de Hollywood”.

Além disso, citam a mudança de gênero do protagonista, que no livro é Wang Miao e na adaptação americana virou Augustina Salazar, apelidada de Auggie (interpretada por Eiza González), e o fato do grupo de cientistas ser chamado de “Cinco de Oxford”, por ter estudado na universidade britânica.

A produção também recebeu comparações com uma adaptação chinesa do livro, que foi lançada em 2023 pela produtora chinesa Tencent Video. A frase “a versão chinesa vence” ficou em alta no Weibo na segunda-feira, 25, segundo a Reuters.

De acordo com a agência de notícias, os chineses também discutiram a cena de abertura da série, que inclui um momento em que um cientista é espancado até a morte por soldados da Guarda Vermelha, um movimento paramilitar de estudantes que foi endossada por Mao Tsé-tung na década de 1960. O tema ainda é um tópico sensível na China.

O que diz o jornal do Partido Comunista Chinês?

Em seu editorial, o Global Times afirmou que “alguns meios de comunicação estrangeiros destacaram e exageraram deliberadamente as críticas negativas do público chinês à adaptação da Netflix”, “rotulando-as como ‘nacionalismo online’, e até mesmo incluindo fatores geopolíticos para a discussão”.

Para o jornal, isso “se desvia da crítica normal da série”. A publicação argumenta que, quando uma produção é lançada, a sua reputação depende inteiramente de sua audiência. “Tanto os produtores como os meios de comunicação devem estar preparados para qualquer opinião pública e não devem ser arrogantes. Afinal, as produções de televisão e cinema são feitas para as pessoas assistirem. Ninguém tem o direito de silenciar uma parte do público depois de assistir”, diz o texto.

O editorial atribui as críticas positivas ou negativas ao fato da série ser fiel ou não ao produto original, e afirma que esses julgamentos de valor são feitos por todos os espectadores, não apenas os chineses.

O que diz a Netflix?

Ao The Guardian, a Netflix afirmou que a série é “propositalmente global em sua natureza”. “Queríamos pessoas de todo o mundo”, disse David Benioff, um dos produtores executivos. “Tentamos fazer um elenco internacional muito diversificado para representar a ideia de que não se trata apenas da luta de um país – é uma luta global para sobreviver.”