O Congresso americano iniciou, nesta quinta-feira (23), uma audiência com o CEO do aplicativo TikTok, Shou Zi Chew, em meio a temores em Washington de que a empresa tenha laços com o governo chinês e afete a segurança nacional.

“O TikTok escolheu, repetidamente, o caminho de mais controle, mais vigilância e mais manipulação. Sua plataforma deveria ser proibida”, declarou a presidente do Comitê do Comércio e Energia da Câmara de Representantes, Cathy McMorris Rodgers, na abertura da audiência.

O singapurense de 40 anos se apresentou perante o comitê às 14h GMT (11h em Brasília) para se submeter a horas de interrogatório de republicanos e democratas, que temem que Pequim subverta o site para espionagem ou propaganda.

De propriedade da empresa chinesa ByteDance, o TikTok está sob enorme pressão nos países ocidentais. Funcionários do governo dos EUA, Reino Unido, Canadá e Comissão Europeia foram obrigados a remover o aplicativo de seus dispositivos. Na terça-feira (21), a emissora britânica BBC também aconselhou sua equipe a apagar o TikTok de seus telefones.

A ameaça mais séria vem dos Estados Unidos, cujo governo emitiu um ultimato para que o TikTok deixe de ter propriedade chinesa. Caso contrário, enfrentará uma proibição total no país.

A proibição seria um ato sem precedentes contra uma empresa de mídia em Washington, pois privaria 150 milhões de usuários mensais no país de um aplicativo que se tornou uma potência cultural, especialmente para os jovens, e a principal fonte de entretenimento depois da Netflix.

“A ByteDance não é um agente da China ou de qualquer outro país”, disse Chew ao comitê da Câmara Baixa.

“Acreditamos que são necessárias regras claras e transparentes que se apliquem amplamente a todas as empresas de tecnologia: a propriedade não é o núcleo da abordagem dessas preocupações”, acrescentou.

A presidente do Comitê, por sua vez, alegou que “O PCC pode coletar informações confidenciais (dos usuários do TikTok nos EUA) e controlar o que vemos, ouvimos e acreditamos”, fazendo referência ao Partido Comunista Chinês.

Em dado momento, Chew reconheceu que os dados pessoais de alguns americanos ainda estavam sujeitos à lei chinesa, mas insistiu que isso mudaria em breve.

Os congressistas ainda confrontaram o CEO com casos de jovens usuários que cometeram suicídio ou atos perigosos que levaram a consequências fatais.

“A tecnologia deles está literalmente levando à morte”, disse o congressista Gus Bilirakis, apontando para uma família presente na sessão, cujo filho foi morto em um acidente ferroviário, que familiares acreditam estar relacionado ao TikTok.

– Aviso de Pequim –

Antes da audiência, Pequim declarou que “vai se opor firmemente” a uma venda forçada, ressaltando que qualquer venda, ou cisão, do TikTok exige a aprovação das autoridades chinesas.

“Forçar a venda do TikTok (…) vai minar gravemente a confiança dos investidores de vários países, incluindo a China, para investir nos Estados Unidos”, advertiu o porta-voz do Ministério chinês do Comércio, Shu Jueting.

Mesmo com o acordo de todas as partes, a venda do aplicativo seria muito complicada, pois separar o poderoso algoritmo do “TikTok e ByteDance seria como uma operação de gêmeos siameses”, observou o analista Dan Ives, da Wedbush, em entrevista à AFP.

Na quarta-feira, jovens, professores e empresários se dirigiram ao Congresso para expressar sua oposição à proibição do aplicativo e destacaram os benefícios do TikTok para suas vidas e meios de subsistência.

“Existem outras plataformas? Com certeza, estou nelas, mas nenhuma tem o alcance do TikTok”, disse a empresária do ramo dos sabonetes, @countrylather2020, a seus 70.000 seguidores em um vídeo gravado logo após chegar a Washington.

Chew promove um plano da empresa, conhecido como Projeto Texas, para atender às preocupações de segurança nacional, segundo o qual o manuseio de dados de usuários em solo americano seria limitado a uma divisão administrada pelos EUA.

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