A passagem de Rafah, na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito, segue fechada neste sábado, 11, frustrando a expectativa sobre a saída de um grupo de brasileiros que tenta deixar o enclave palestino há mais de um mês, em meio a bombardeios e uma grave crise humanitária.

A expectativa inicial era a de que os brasileiros finalmente deixassem o território palestino na sexta-feira. No entanto, de acordo com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Viera, isso não foi possível pois há um entendimento entre os atores responsáveis pela evacuação dos estrangeiros de que as pessoas de outras nacionalidades só podem sair da zona de guerra depois dos feridos.

Agora, a nova previsão é que a passagem ocorra neste sábado. O embaixador do Brasil junto à Autoridade Palestina, Alessandro Candeas, disse que a forte presença militar israelense e os combates ao redor de hospitais impedem ou dificultam a saída das ambulâncias com os feridos.

“Se ambulâncias puderem sair amanhã [sábado], os estrangeiros também sairão, inclusive nossos brasileiros. Estamos todos mobilizados. Assim que sair a notícia da abertura da fronteira, levaremos em poucos minutos todos de novo para lá”, informou na sexta.

No total, o grupo é formado por 34 pessoas, sendo 24 brasileiros e dez palestinos que são membros de suas famílias. Eles estão presos no território desde os ataques terroristas do Hamas contra Israel, no dia 7 de outubro, e a posterior contraofensiva das forças israelenses contra Gaza.

Esforços do governo

Segundo Mauro Vieira, o governo brasileiro mantém “contatos reiterados” com todas as partes envolvidas no conflito. “Esperamos que esses nomes sejam autorizados a cruzar [a fronteira] o mais rápido prazo possível.”

“Nossa lista não é das maiores. Temos 34 em Gaza. Há países que têm números muito maiores. A passagem é complexa porque a passagem de Rafah fica aberta durante algumas horas por dia e há um entendimento entre as partes que, em primeiro lugar, passam ambulâncias com feridos. Só depois disso passam, então, os nacionais de outros países. Foi o que aconteceu hoje [sexta], ontem e na quarta-feira [dia 8] que não houve a passagem da Faixa de Gaza para o Egito por impossibilidade de passarem as ambulâncias”, informou o chanceler.

Com isso, o grupo teve que regressar, uma parte para o abrigo em Rafah e outra parte para Khan Yunis, cidade distante 10 quilômetros da fronteira. São 18 crianças, 10 mulheres e seis homens. Um avião cedido pela Presidência da República aguarda há semanas do lado egípcio para trazer o grupo de volta ao Brasil.

Bombardeios e falta de recursos

Israel reagiu aos ataques terroristas de 7 de outubro com intensos bombardeios a alvos em Gaza e, mais tarde, com o envio de tropas por terra, como parte de sua campanha militar que visa derrotar o grupo terrorista palestino. A ação israelense já teria deixado mais de 11 mil mortos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Mais de 200 pessoas são mantidas como reféns pelos terroristas.

Os brasileiros e as agências de ajuda humanitária em Gaza relatam falta de água potável, eletricidade, alimentos e remédios devido ao cerco imposto por Israel ao enclave. Segundo a ONU, a ajuda humanitária autorizada a entrar é insuficiente para cobrir as necessidades de cerca de 2,2 milhões de habitantes do território palestino.

Inicialmente, um grupo de 22 brasileiros foi abrigado em uma escola católica na Cidade de Gaza. Mas, após expirar o prazo dado pelas Forças de Defesa de Israel para a evacuação da cidade antes da ofensiva militar, o grupo foi levado de ônibus até a cidade de Khan Yunis, na região sul do enclave, próxima à fronteira com o Egito.

Desde então, o grupo aguardava liberação para poder atravessar o posto na cidade de Rafah, que é controlado pelo Egito, e seguir para o Brasil.

Tensões entre Brasil e Israel

A demora e os atrasos na operação geraram incômodo entre diplomatas brasileiros. Segundo o portal de notícias G1, a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ao governo de Israel que, se algo acontecer com os brasileiros na zona de conflito, as relações diplomáticas entre os dois países se tornarão insustentáveis.

Uma nova rodada de negociações com Israel teria envolvido o chanceler Mauro Vieira, o assessor especial Celso Amorim e o próprio presidente Lula. O Brasil enfatizou ter sido uma das primeiras nações a entregar uma relação de seus cidadãos que estão em Gaza aguardando repatriação.

Segundo apurou o G1, o Itamaraty tem ressaltado o peso do Brasil na América Latina, e o ambiente controverso e crítico ao modo como Israel tem conduzido a resposta ao atentado do grupo terrorista Hamas.

O recado de Lula a Israel destacou que países sul-americanos como o Chile já determinaram o retorno de seus embaixadores por discordarem da reação israelense, que vem sendo bastante contestada internacionalmente.

O embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, afirmou em um vídeo divulgado na última quarta-feira que seu país faz “tudo que está ao seu alcance para articular a saída dos brasileiros de forma segura e o mais rápido possível”. Ele acusou o Hamas de impedir estrangeiros de saírem no domingo, na segunda-feira e na quarta-feira desta semana.

No entanto, o embaixador Paulino Franco de Carvalho Neto disse que a situação vinha dependendo de uma autorização das autoridades israelenses. “Para o governo egípcio, segundo nos foi dito mais de uma vez, não há qualquer dificuldade para autorizar imediatamente a entrada dos brasileiros no Egito, no entendimento de que eles irão em seguida para o Brasil”, afirmou, na semana passada.