Por volta de 2010, em meio às minhas andanças a trabalho pelo Norte e Nordeste do Brasil, ouvi o despertador chamar. Olhei para o relógio, às 06:00h, e custei a acreditar quando abri a cortina do hotel e vi o sol a pique como se fosse meio-dia em BH.

Em tempo: por muitos anos me senti personagem da belíssima canção “A Vida do Viajante”, do imortal Luiz Gonzaga: “minha vida é andar por esse país, pra ver se um dia eu descanso feliz”. Décadas depois, se não estou descansando, mais feliz impossível.

Eu estava em Fortaleza (CE), e enquanto me vestia assistia ao noticiário local. Sim, naquele tempo era comum se informar pela TV, hehe. E a matéria apresentada era sobre a altíssima inadimplência das contas de luz e um mutirão da companhia elétrica cearense.

Cerca de 1/3 das famílias consumidoras estava com a energia cortada por falta de pagamento. A empresa, então, precisando atrair mais clientes para o sistema, decidiu ofertar o parcelamento dos débitos e excluir as multas e os juros, facilitando a quitação.

Passados tantos anos, ainda me lembro de uma senhorinha entrevistada. Feliz da vida, ela mostrou à repórter o acordo celebrado. O débito era de pouco mais de 100 reais, que poderia ser quitado em 24 meses, ou algo como 5 reais mensais (mais o consumo do mês).

Lembro-me de pensar: caramba, 5 reais por mês? Pois é. Quem vive nos grandes centros urbanos, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, não faz ideia do que são 5 reais – por mês!! – para milhões e milhões de brasileiros país afora – o chamado “Brasil Profundo”.

O governo Lula, o qual quem me conhece sabe que não morro de amores, lançou um programa para ajudar as pessoas endividadas em até 100 reais. A ideia é retirar milhões de pessoas do cadastro negativo, lembrando que mais de 60 milhões de brasileiros se encontram nesta condição.

Este, sim, é um programa que merece aplausos. Este, sim, é um programa que apoio com gosto, ao contrário do “auxílio montadora” que está em curso. Aí está um excelente lugar para empregar dinheiro público: ajuda às pessoas e famílias de baixíssima renda.

Muito mais do que retirá-las, ainda que provisoriamente, dos cadastros negativos, isso poderá ser a “ficha limpa” que permitirá um emprego formal, por exemplo, ou a abertura de crédito para comprar um fogão novo e voltar a cozinhar sem utilizar lenha.

Uma coisa, meu caros e minhas caras, é populismo eleitoreiro ou assistencialismo eleitoral, tão comuns à nossa política. Outra, bem diferente, são programas temporários, assertivos, com foco e objetivo definidos como este. Está de parabéns, finalmente!, o governo federal.