A política está muito polarizada e em clima de guerra tribal. Lemos isso o tempo todo. Mas de quem é a culpa? A julgar pela mídia, seria da direita preconceituosa e fascista. O máximo que os “isentões” aceitam é uma equivalência moral: tanto esquerda como direita precisam recuar no tom da retórica. Mas e se a esquerda se mostra cada vez mais radical e o outro lado apenas reage?

Um exemplo pode ilustrar melhor o ponto. O filósofo britânico Roger Scruton é um lorde em sua postura, um verdadeiro cavalheiro. Procura focar sempre nos argumentos e com muita educação, tentando enxergar no lado adversário boas intenções. Jamais alguém como ele poderia ser incluído na lista dos raivosos e intolerantes. Não obstante, até mesmo Scruton foi alvo da ira orquestrada dos esquerdistas.

Theresa May criou uma comissão para avaliar a beleza arquitetônica dos novos projetos de casas populares do governo. De beleza e de arquitetura Scruton entende bem, e escreveu um ótimo livro sobre isso. Minutos após seu nome ser indicado, porém, os ataques começaram. Em pouco tempo já havia uma espécie de linchamento público pedindo sua cabeça, e a pressão foi tanta que ele pode ser demitido.

A turba ensandecida encontrou pretextos em episódios isolados e retirados do contexto, para pintar Scruton como um “islamofóbico” e até como um antissemita, pelas críticas que fez na Hungria ao judeu socialista George Soros. O Partido Trabalhista jogou lenha na fogueira, ignorando seu líder de extrema-esquerda, Jeremy Corbyn, esse sim um antissemita escancarado.

E eis que na avançada Inglaterra um dos mais brilhantes intelectos da atualidade é massacrado pelo politicamente correto e tratado praticamente como um nazista. Se alguém como Scruton recebe tal tratamento, o que esperar dos que realmente flertam com a “supremacia branca” e o nacionalismo exacerbado?

A tática é velha, mas tem se intensificado. Não importa quem está à direita dos socialistas, sempre será tratado como um extremista de direita. Se foi Trump recentemente, antes o bastante moderado Mitt Romney ou o quase democrata John McCain foram alvos dos mesmos rótulos. Se Bolsonaro de fato é mais autoritário e de direita, mesmo os tucanos de esquerda foram acusados das mesmas coisas pelos petistas.

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Se todos que não são “progressistas” radicais se tornam “fascistas” na boca dos esquerdistas, então quando um fascista aparecer mesmo ninguém vai levar a sério o alerta. E essa conduta desperta a revolta dos moderados. Afinal, se até alguém como Scruton é massacrado pela máquina de moer reputações da esquerda, qual o incentivo para adotar uma postura decente e conciliatória?

Graças à esquerda, pensadores como Scruton perdem espaço para tipos realmente truculentos e intolerantes.

Se todos que não são “progressistas” radicais se tornam “fascistas” na boca dos esquerdistas, então quando um fascista aparecer mesmo ninguém vai levar a sério o alerta

 


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