20/05/2011 - 21:00
Sai no Brasil o livro de contos “Jogos de Azar” (Bertrand Brasil), do escritor português José Cardoso Pires (1925-1998), com escritos de suas duas primeiras obras. São pequenos relatos sobre desocupados, seres “condenados a tropeçar a cada passo”, como expõe o autor na introdução. Grande crítico do ditador António Salazar, Pires tinha um estilo vigoroso, a meio caminho entre o surrealismo e o neorrealismo, patente no conto “Os Caminheiros”, sobre um violeiro cego que não percebe que está sendo vendido pelo amigo de mendicância.
Cresceu em uma Lisboa amedrontada pela guerra e tomada pela propaganda nazista. O fantasma de Salazar sempre o perseguiu. Já adulto, depois de participar da revista Almanaque — experiência que o aproximou de um de seus maiores amigos, o poeta Alexandra O’Neill, surrealista português descendente de irlandeses —, viu-se obrigado ao exílio e escolheu primeiro Londres, depois Paris e, por fim, o Rio de Janeiro. No Brasil, aproximou-se de escritores como Clarice Lispector, Rubem Braga e Paulo Francis; de artistas plásticos, como Carlos Scliar e Cândido Portinari; tornou-se amigo da cantora Nara Leão. Nunca perdeu a chance de uma amizade e a esperança de uma renovação. Aqui rompeu, de vez, as algemas que o prendiam ao Portugal passadista, de agentes policiais e anjos milagrosos, e tornou-se um cidadão do mundo. Um cidadão do real.