Ricardo Giraldez

Agito: único a usar gravata, Palocci dá sua mensagem otimista com FHC na primeira fila

No palco, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, e sua banda. Na platéia, outro ministro, Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, comandava a massa, apesar de sua pouca habilidade na pista. Ao seu redor, também chacoalhando a pança, gente como o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva, a presidente do Instituto Ayrton Senna, Viviane Senna, o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, e os deputados José Eduardo Cardozo (PT) e Walter Feldman (PSDB), que na Câmara costumam dançar ritmos diferentes, além de mais um punhado de gente poderosa, rica e influente. Beldades como a atriz Luana Piovani e a tenista Vanessa Menga davam o toque de leveza à cena, que se deu no apagar das luzes do Fórum Empresarial, realizado entre a quinta-feira 15 e o domingo 18 no doce isolamento da Ilha de Comandatuba, na Bahia. Passaram por lá, a convite do empresário e jornalista João Dória Jr., cerca de 300 executivos de primeiro escalão de grandes companhias e suas respectivas senhoras (só do setor bancário, nove presidentes de instituições compareceram), um ex-presidente da República (Fernando Henrique Cardoso), três ministros (Antônio Palocci, da Fazenda, não ficou para o show de Gil, mas concedeu uma longa e elogiada palestra), um governador (Paulo Souto, da Bahia) e uma delegação de autoridades da África do Sul. O País será a sede do próximo encontro a ser promovido em setembro pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), a entidade que responde pela organização do megaevento.

No final da tarde do sábado 17, Dória estava aliviado. A organização correra impecável e, mais importante, o torneio de futebol terminara sem feridos. “No ano passado, quase tivemos de remover um executivo que se machucou na disputa”, disse o idealizador do Fórum. Nove anos atrás, no embrião do que viria a ser o evento, Dória levou oito casais a Comandatuba. O encontro, vê-se pelos números, cresceu e tomou proporções gigantescas. “Hoje é a maior reunião de executivos da América Latina”, afirma Dória, sempre no tom assertivo que o caracteriza, seja numa conversa descontraída, seja no microfone ditando instruções de comportamento para os representantes de 35% do Produto Interno Bruto do País, segundo suas contas. “As empresas aqui representadas são responsáveis por mais de cinco milhões de empregos diretos.”

Ricardo Giraldez

Gil comanda a massa no encerramento e faz os deputados Cardozo (PT) e Feldman (PSDB) dançarem a mesma música

É possível contestar os números, mas a verdade é que se torna uma tarefa ingrata encontrar algum executivo importante que não tenha passado por Comandatuba. O presidente da Nestlé? Estava lá. O da TAM? Sim, estava, assim como o da Varig. Os comandantes das quatro operadoras de celular do País? Também. Das quatro grandes montadoras, só faltou o presidente da Volkswagen. Fiat, Ford e General Motors estavam representadas. Da área de informática, estiveram por lá a Microsoft, a IBM, a HP Compaq, a Sun, entre outras. A lista dos setores muito bem representados ficaria extensa demais para caber nestas páginas. “É uma oportunidade ótima para fazer contatos”, diz o presidente da Novell, Paulo Sampaio.

O Fórum acontece por conta de uma bem engendrada rede de relações. Cada empresa banca uma parte do evento. O show do Gil, por exemplo, foi oferecido pelo Grupo Ypy, de Nizan Guanaes. A presença de Jô Soares, um dia antes, ocorreu por obra e graça da American Express. Já FHC apareceu sob o patrocínio do banco HSBC. Cada
ponto da extensa programação, recheada de coquetéis, almoços, jantares e atividades recreativas como golfe, tênis e passeios de helicóptero, leva a chancela de uma empresa.

Surge a atmosfera perfeita para um final de semana que alia aprendizado, diversão e intensa atividade social. Fala-se muito de negócios, é claro, mas o clima é tão relaxado que nem parece que aqueles pacatos senhores acompanhados de suas esposas comandam parcela tão significativa da economia brasileira. Camiseta e bermuda foi o uniforme extra-oficial dos participantes. Gravatas só foram vistas nos pescoços dos garçons e do ministro Palocci, que, de brincadeira, culpou Furlan pelo seu inadequado figurino (“Ele me disse que vocês estariam de terno…”, brincou o titular da Fazenda).

Auto-estima – Houve até quem tenha se aproveitado da presença de Palocci para fazer pedidos e sugestões ao pé do ouvido, após sua palestra, na sexta-feira 16. Luiza Helena Trajano Rodrigues, dona do Magazine Luiza (uma rede de lojas do interior de São Paulo), abraçou o ministro e deu sua fórmula para consertar
o País. “É preciso levantar a auto-estima do povo”, ensinou. Palocci, com seu ar de “arcebispo”, na definição de Furlan, atendeu a todos após destilar mensagens otimistas ao longo de três horas. Isso num dia nervoso no mercado financeiro, por conta do rebaixamento dos títulos da dívida brasileira pelo Citigroup (na véspera, o Morgan havia feito o mesmo).

Ricardo Giraldez

Hebe se joga na piscina de madrugada

Na platéia, além dos empresários, estava FHC, que brilhara pela manhã ao falar
sobre “Ética e Eficiência no Setor Público”.
Ele foi tratado como estrela. Até lhe beijaram a mão (literalmente). Foi aplaudido de pé em várias ocasiões. Seu encontro com Palocci, repleto de troca de elogios, foi amplamente noticiado, dando uma dimensão política inédita ao Fórum.

Mais barulho que FHC e Palocci, só mesmo Hebe Camargo, convidada de honra, conseguiu fazer. Ela subiu ao palco no show do Gil, deu um “selinho”, circulou de microshort, pulou na piscina de madrugada, flertou com um executivo dinamarquês (de brincadeirinha, ele estava acompanhado) e distribuiu gentilezas. Uma lição de descontração e vivacidade para os poderosos e muitas vezes sisudos senhores que compartilharam o final de semana com ela.