Embora esteja apenas em seu segundo mandato, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é hoje um dos parlamentares mais poderosos e influentes da Câmara. Sua força advém dos cargos que controla, da ascendência sobre a bilionária Furnas e, principalmente, do comando que exerce sobre uma bancada informal composta por pelo menos 20 deputados do PMDB e de outros partidos da base governista, como PTC e PSC.

Ele costuma referir-se ao grupo como "os meus". No Congresso, são conhecidos como a "turma do Cunha". Toda vez que o governo precisa dos votos de setores do PMDB, PSC e PTC para aprovar matérias consideradas caras ao Planalto, já sabe: tem que negociar com Cunha. "Não tem isso de liderar, mas posso dizer que sou um porta-voz da bancada do PMDB do Rio de Janeiro. Decidimos tudo em conjunto. Quanto aos outros partidos, de fato, acho que tenho mais de 20 amigos", reconhece.

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MODÉSTIA Cunha: "Não tem isso de liderar,
sou um porta-voz da bancada do PMDB do Rio"

A relação do deputado com os seus amigos é sustentada pela troca de favores e agrados mútuos. Esse é o caso do novo presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, deputado Tadeu Filippelli (PMDBDF), que foi eleito graças à chancela de Cunha. Em 2007, teve a ajuda de Cunha para emplacar o vice-presidente de pessoa jurídica da Caixa Econômica Federal (CEF), Carlos Antônio de Brito.

E Cunha ganhou o apoio do deputado do DF para que Luiz Paulo Conde assumisse, então, a presidência de Furnas. "O Cunha fez uma gestão reconhecida na CCJ na qual pretendo me espelhar, mas minha indicação pode ser atribuída à bancada do Centro-Oeste", esquivou- se Filippelli, que é apontado pelos colegas como um neoaliado do colega fluminense.

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Desde a última legislatura, Cunha angariou ainda mais poder ao transformar a CCJ, a mais importante comissão da Casa, em feudo. Conseguiu indicar todos os seus presidentes. Com o apoio da bancada, vale-se desses postos estratégicos para negociar a aprovação de matérias de interesse do governo. Com isso, barganha o atendimento de reivindicações que ele próprio encaminha ao Planalto.

Se o pleito não sai, ele é capaz até de sentar em cima de projetos, como foi o caso do parecer pela constitucionalidade da CPMF. Com a ajuda do hoje deputado licenciado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), à época presidente da CCJ apoiado por Cunha, o imposto só foi declarado constitucional depois da nomeação de Conde para Furnas.

Alguns integrantes da bancada de Cunha, às vezes, arriscam voo próprio. Mas são fiéis aliados em batalhas importantes. É o caso do deputado Fernando Diniz (PMDB-MG). Ele já fez parcerias que lhe renderam ganhos políticos. Emplacou o diretor da área internacional da Petrobras, Jorge Luiz Zelada. Em troca, Diniz aceitou dividir a indicação de Carlos Nadalutti Filho para a presidência de Furnas, quando Conde deixou a estatal por motivo de doença. Segundo influentes parlamentares do PMDB, Cunha e Diniz eram os patronos da malfadada nomeação de Eduardo Henrique Garcia para presidir a Fundação Real Grandeza, o fundo de pensão de Furnas.

Devido à fracassada operação, Cunha ameaça com uma CPI dos Fundos de Pensão, que o governo trabalha para esvaziar. "Não conheço ninguém no Real Grandeza. Quanto ao Zelada realmente foi uma indicação minha. Não posso dizer que o Cunha estava comigo nessa. Mas digo que ele não me atrapalhou, nem eu o atrapalhei," disse Diniz. "Em Furnas eu só indiquei o Conde", afirma Cunha.

Antigo aliado de Anthony Garotinho, Cunha herdou do ex-governador a maioria dos atuais aliados. Bernardo Ariston (PMDB) faz parte dessa turma de amigos. Na terça-feira 3, Ariston foi eleito presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara. Por intermédio de Ariston, Cunha pretende pôr as mãos num verdadeiro pote de ouro: a regulamentação do petróleo pré-sal. "Ele tem sido um bom colega. É um companheiro da nossa bancada e como companheiro a gente faz coisas de comum acordo", diz Ariston. "Sigo minha orientação", garante ele, que jura de pés juntos que não trabalha a serviço do colega. Mas os congressistas, temendo que as discussões sobre a regulamentação do pré-sal fiquem à mercê de Cunha, já estudam criar uma comissão especial dedicada ao tema. A proposta é do deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP).

Outros aliados de Garotinho seguem a orientação de Cunha, como Hugo Leal (PSC-RJ). "Não posso negar. O Cunha tem uma boa relação com o vice-presidente do meu partido, o pastor Everaldo", reconhece. "Mas ele tem a linha de trabalho dele e eu tenho a minha. Não vou dizer que a gente não precise das pessoas. A gente precisa dos relacionamentos", disse. Em Minas Gerais, João Magalhães é considerado aliado de primeira hora de Cunha. Graças à fidelidade quase canina, conseguiu emplacar o irmão Pedro Magalhães na diretoria de recursos humanos dos Correios, onde Cunha exerce influência devido à amizade com o ministro das Comunicações, Hélio Costa. "Sou muito amigo do Cunha, como ele é amigo de muitos na bancada.

A indicação do meu irmão foi do PMDB de Minas. Algumas pessoas do partido têm inveja dele e são contra", defende. Mesmo informal, a missão de líder é trabalhosa e exige ajuda. Um dos auxiliares de Cunha é Itamar dos Santos, até o ano passado assessor vinculado à diretoria de construção de Furnas. Ele faz a ponte com os parlamentares amigos. Um diretor de Furnas confirmou à ISTOÉ que Itamar sempre foi um dos homens de Cunha. E que, não raro, era visto recebendo deputados na sede da empresa em Brasília.

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AJUDA Itamar na garagem da Câmara:
assíduo no gabinete de Cunha

No segundo semestre, Itamar deixou o cargo depois de bater de frente com a diretoria. No dia 8 de junho de 2008, a reportagem de ISTOÉ flagrou Itamar desembarcando na garagem do Anexo IV da Câmara, onde ficam localizados os gabinetes dos parlamentares no Congresso. "O que você está fazendo? Você quer me ferrar?", perguntou ao fotógrafo. "Ele vem aqui no gabinete de vez em quando", confirmou, por telefone, na quinta-feira 5, Liliane, secretária de Cunha. Mas indagado se conhecia o ex-servidor de Furnas, Cunha demonstrou surpresa: "Itamar? Não sei. Posso até conhecer alguém de lá (Furnas), mas daí a indicar é outra coisa. Não indiquei."