Eles esperam o ano todo por essa noite. No Pacífico Sul, quando a lua estiver trincando de cheia, é a hora do ritual sexual: corais machos, fêmeas e hermafroditas soltam os seus gametas ao mar e os milhares de células reprodutivas formam uma nuvem de pontos coloridos balançando nas ondas. Sob a luz do luar e a influência das correntes, eles fundem-se então para dar origem a novos e minúsculos corais-bebês – na verdade, larvas chamadas plânulas. O espetáculo da procriação dos corais foi descoberto em 1981 por um grupo de estudantes australianos da James Cook University e, a partir daí, pesquisadores passaram a se interessar pelo fato de que todos os corais de uma região sincronizam o sexo – ou seja, fazem-no ao mesmo tempo. Acreditava-se que o fenômeno acontecia pela influência da lua sobre as marés. A grande novidade dessa festa da natureza somente agora foi descoberta: cientistas da Austrália, de Israel e dos EUA acabam de revelar na revista Science que os corais têm fotorreceptores primitivos. Incrível: são mesmo capazes de perceber a luz da lua. A pesquisadora Margaret Miller, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA, classificou a descoberta como um grande passo para desvendar o mistério dessa sincronia reprodutiva.

No Brasil, os corais aparecem da costa maranhense ao sul da Bahia e em ilhas oceânicas – e são mais "tímidos" do que os estrangeiros porque num mesmo dia só se reproduzem exemplares de uma mesma espécie. Mas, se os australianos gostam da lua cheia, os brasileiros preferem a lua nova, como é o caso do coral-cérebro (tipo existente só aqui). A desova acontece durante cinco dias, mas é no auge da fase lunar que eles promovem o espetáculo reprodutivo. "A sincronia é tão grande que a gente vê exemplares desovando no mesmo dia e na mesma hora no sul da Bahia e no sul de Pernambuco, a dois mil quilômetros de distância", diz Débora Pires, pesquisadora e coordenadora do subprojeto de Reprodução de Corais do Projeto Coral Vivo. No coral-cérebro, o mecanismo disparador do sexo ainda não foi totalmente desvendado, mas esse sistema é tão afinado que até os corais criados em aquários de laboratórios programam a desova para o mesmo dia de seus companheiros de espécie que estão no mar.

Terminada a fecundação, as pequenas plânulas vagueiam pelas ondas até encontrarem um novo recife para se instalar. É o único e curto período de liberdade na vida de um coral. Depois de fixada, a larva sofre uma metamorfose e começa a fabricação de carbonato de cálcio, o esqueleto, que lhe dá sustentação e proteção para viver a sua longa vida. Os corais crescem apenas um centímetro por ano e a delicada reprodução é afetada fortemente pela poluição e pelo turismo predatório. No Brasil, uma parte da praia de Tamandaré, em Pernambuco, é fechada para garantir que eles se reproduzam em paz. Já na Austrália há menos sossego: os mergulhadores voyeurs compram pacotes turísticos específicos para assistir ao show da reprodução.