FOTOS: AURELIZA CORREA/CB

Não foi apenas mais um jantar black-tie. Regada a muito requinte e suntuosidade, a festa em comemoração aos 200 anos da chegada da família real portuguesa ao Brasil, em Brasília, foi, na verdade, um resgate histórico. O evento, realizado no último dia 30, começou no saguão de entrada, passou para o mezanino e terminou nos salões do terceiro andar, em meio a quadros de Portinari e Debret e a esculturas de Alfredo Ceschiatti, Lasar Segall e Victor Brecheret – que se destacam no exuberante jardim suspenso de Burle Marx. O Palácio do Itamaraty reviveu as noites de gala promovidas na capital federal. Personalidades da sociedade brasiliense, autoridades das esferas diplomáticas, do Legislativo, do Judiciário e do Executivo, como os anfitriões Mariza Gomes e o marido, o vice-presidente José Alencar, e a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Ellen Gracie Northfleet, se uniram a ilustres convidados do eixo Rio-São Paulo. 

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"É um evento fantástico, memorável e inesquecível", disse a apresentadora Hebe Camargo,que estava acompanhada da empresária Lucilia Diniz e da ex-modelo Luiza Brunet. "Essa é uma festa histórica. Os 200 anos nos remetem à formação do Brasil como nação", comentou o príncipe dom João de Orleans e Bragança, que ficou impressionado com os colares e brincos de esmeraldas e brilhantes com que a milionária internacional Angelique Chartouny desfilou pelos salões. No jantar foram servidos filé de peixe com camarão ao leite de coco e bacalhau na nata, entre outras iguarias. Para beber, uísque 12 anos à vontade, vinhos nacionais e importados, brancos, tintos e espumantes. Não bastasse todo o luxo, o glamour e a nostalgia de eventos históricos, a festa reuniu 600 pessoas e teve motivação mais do que justa. Toda a renda (R$ 386,9 mil) arrecadada com doações dos convidados foi destinada à Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer (Abrace), para dar continuidade à obra do Hospital do Câncer Infantil.
O Itamaraty possui quatro salas destinadas a eventos e recepções a chefes de Estado, das quais três levam o nome das capitais do Brasil: Brasília, Rio e Bahia. A outra é a sala Portinari. Desde que foi inaugurado, em 1967, o Palácio nunca deixou de receber eventos externos. A primeira recepção oficial ocorreu em 14 de março do ano de sua inauguração, último dia do governo Castelo Branco. O Itamaraty não confirma oficialmente, por não possuir estatísticas sobre a utilização das salas, mas um dos chanceleres que mais usaram os salões para recepcionar chefes de Estado foi Luiz Felipe Lampreia, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. No governo do PSDB, era comum ele oferecer grandes almoços e jantares durante as visitas oficiais. A partir de 2003, com a chegada de Lula ao poder, esse costume foi abolido. Os petistas, segundo fontes do Itamaraty, dizem preferir os eventos noturnos.

ROBERTO CARSTRO/AG. ISTOÉ

Resgate histórico No jantar, uma profusão de autoridades, entre elas os anfitriões Mariza e José Alencar e famosos,
como Hebe e Luiza Brunet (ao lado)

Duas das festas mais memoráveis realizadas no Palácio do Itamaraty envolveram a família real britânica: a recepção à rainha Elizabeth II pelo presidente da República, general Costa e Silva, em novembro de 1968, e a que marcou a vinda ao país da princesa de Gales, Diana, e do príncipe Charles, em 1991, já no governo Collor.Em 1968, o traje de gala ainda não eram os smokings, mas as tradicionais e elegantes casacas, que, segundo pessoas que compareceram à recepção à rainha da Inglaterra, de tão compridas arrastavam nos tapetes do Itamaraty. O evento reuniu três mil pessoas e ficou conhecido pela voracidade com que os convidados avançaram sobre o bufê, já quase à meianoite, pois a formalidade da ocasião exigiu que a rainha perdesse horas em sessões de fotos e beija-mão. "Esfomeados, os presentes avançaram na comida. Houve gente que comeu caviar de colher", conta o jornalista Gilberto Amaral, que chegou a Brasília após a inauguração e testemunhou as festas mais marcantes realizadas na capital. Vinte e três anos depois do jantar de Elizabeth II, cerca de duas mil pessoas – os homens já de smoking – compareceram ao Itamaraty para representar um Brasil em completo frenesi diante da presença de Lady Di no país. De vestido de brocado rosa e tiara de pérolas e diamantes, ela causou comoção nos convidados do banquete oferecido pelo presidente Fernando Collor. Ao príncipe Charles restou comportar-se como coadjuvante. A gafe da noite foi protagonizada pela então ministra da Economia, Zélia Cardoso, que compareceu ao jantar com uma estola de pele de raposa sobre os ombros. Esqueceu-se que o casal real era ativista da causa ambientalista, sendo o príncipe Charles, na ocasião, presidente da WWF. O mal-estar foi tremendo, mas a noite, inesquecível.

ISABEL CRISTINA/CB

Convidados ilustres Rainha Elizabeth, Costa e Silva e seus cônjuges. Na outra foto, Charles e Diana com o então casal Collor