18/06/2008 - 10:00
Não foi apenas mais um jantar black-tie. Regada a muito requinte e suntuosidade, a festa em comemoração aos 200 anos da chegada da família real portuguesa ao Brasil, em Brasília, foi, na verdade, um resgate histórico. O evento, realizado no último dia 30, começou no saguão de entrada, passou para o mezanino e terminou nos salões do terceiro andar, em meio a quadros de Portinari e Debret e a esculturas de Alfredo Ceschiatti, Lasar Segall e Victor Brecheret – que se destacam no exuberante jardim suspenso de Burle Marx. O Palácio do Itamaraty reviveu as noites de gala promovidas na capital federal. Personalidades da sociedade brasiliense, autoridades das esferas diplomáticas, do Legislativo, do Judiciário e do Executivo, como os anfitriões Mariza Gomes e o marido, o vice-presidente José Alencar, e a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Ellen Gracie Northfleet, se uniram a ilustres convidados do eixo Rio-São Paulo.
"É um evento fantástico, memorável e inesquecível", disse a apresentadora Hebe Camargo,que estava acompanhada da empresária Lucilia Diniz e da ex-modelo Luiza Brunet. "Essa é uma festa histórica. Os 200 anos nos remetem à formação do Brasil como nação", comentou o príncipe dom João de Orleans e Bragança, que ficou impressionado com os colares e brincos de esmeraldas e brilhantes com que a milionária internacional Angelique Chartouny desfilou pelos salões. No jantar foram servidos filé de peixe com camarão ao leite de coco e bacalhau na nata, entre outras iguarias. Para beber, uísque 12 anos à vontade, vinhos nacionais e importados, brancos, tintos e espumantes. Não bastasse todo o luxo, o glamour e a nostalgia de eventos históricos, a festa reuniu 600 pessoas e teve motivação mais do que justa. Toda a renda (R$ 386,9 mil) arrecadada com doações dos convidados foi destinada à Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer (Abrace), para dar continuidade à obra do Hospital do Câncer Infantil.
O Itamaraty possui quatro salas destinadas a eventos e recepções a chefes de Estado, das quais três levam o nome das capitais do Brasil: Brasília, Rio e Bahia. A outra é a sala Portinari. Desde que foi inaugurado, em 1967, o Palácio nunca deixou de receber eventos externos. A primeira recepção oficial ocorreu em 14 de março do ano de sua inauguração, último dia do governo Castelo Branco. O Itamaraty não confirma oficialmente, por não possuir estatísticas sobre a utilização das salas, mas um dos chanceleres que mais usaram os salões para recepcionar chefes de Estado foi Luiz Felipe Lampreia, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. No governo do PSDB, era comum ele oferecer grandes almoços e jantares durante as visitas oficiais. A partir de 2003, com a chegada de Lula ao poder, esse costume foi abolido. Os petistas, segundo fontes do Itamaraty, dizem preferir os eventos noturnos.
Resgate histórico No jantar, uma profusão de autoridades, entre elas os anfitriões Mariza e José Alencar e famosos,
como Hebe e Luiza Brunet (ao lado)
Duas das festas mais memoráveis realizadas no Palácio do Itamaraty envolveram a família real britânica: a recepção à rainha Elizabeth II pelo presidente da República, general Costa e Silva, em novembro de 1968, e a que marcou a vinda ao país da princesa de Gales, Diana, e do príncipe Charles, em 1991, já no governo Collor.Em 1968, o traje de gala ainda não eram os smokings, mas as tradicionais e elegantes casacas, que, segundo pessoas que compareceram à recepção à rainha da Inglaterra, de tão compridas arrastavam nos tapetes do Itamaraty. O evento reuniu três mil pessoas e ficou conhecido pela voracidade com que os convidados avançaram sobre o bufê, já quase à meianoite, pois a formalidade da ocasião exigiu que a rainha perdesse horas em sessões de fotos e beija-mão. "Esfomeados, os presentes avançaram na comida. Houve gente que comeu caviar de colher", conta o jornalista Gilberto Amaral, que chegou a Brasília após a inauguração e testemunhou as festas mais marcantes realizadas na capital. Vinte e três anos depois do jantar de Elizabeth II, cerca de duas mil pessoas – os homens já de smoking – compareceram ao Itamaraty para representar um Brasil em completo frenesi diante da presença de Lady Di no país. De vestido de brocado rosa e tiara de pérolas e diamantes, ela causou comoção nos convidados do banquete oferecido pelo presidente Fernando Collor. Ao príncipe Charles restou comportar-se como coadjuvante. A gafe da noite foi protagonizada pela então ministra da Economia, Zélia Cardoso, que compareceu ao jantar com uma estola de pele de raposa sobre os ombros. Esqueceu-se que o casal real era ativista da causa ambientalista, sendo o príncipe Charles, na ocasião, presidente da WWF. O mal-estar foi tremendo, mas a noite, inesquecível.
Convidados ilustres Rainha Elizabeth, Costa e Silva e seus cônjuges. Na outra foto, Charles e Diana com o então casal Collor