Durante a longa campanha presidencial americana, o republicano George Walker Bush insistiu na promessa de que seria um unificador da nação. Já eleito como o 43º presidente dos Estados Unidos, ele começa a cumprir parcialmente o prometido. A maioria dos americanos se une no veredicto de que Bush está longe de ser uma das pessoas mais brilhantes que a Casa Branca já abrigou. Nada menos que 64% dos entrevistados numa pesquisa nacional acham que seu próximo líder carece de preparo e QI exigidos para o cargo. Outra concordância quase unânime é que a exuberante economia dos últimos anos no país está em declínio. Em quase todos os outros tópicos que dizem respeito à sua sociedade, os americanos estão divididos. Há divergências, por exemplo, sobre graus de intensidade dos problemas mencionados. A crise econômica será apenas chuva forte com trovoadas ou vai desabar como borrasca? Os correligionários de George W. Bush acreditam que ele tem neurônios ativos o suficiente para conduzir a nau ianque em meio à tempestade que se aproxima até um porto seguro. Alegam que para isso o comandante trará a bordo ajudantes-de-ordem – nenhum deles marinheiros de primeira viagem – que vão assegurar uma navegação segura. Na semana passada, por exemplo, ele nomeou um herói nacional, o general Colin Powell, para ser seu secretário de Estado, e a veterana Condoleezza Rice para o importante cargo de chefe do Conselho de Segurança Nacional. E, tranquilizando Wall Street, apareceu literalmente agarrado a Alan Greenspan, o todo-poderoso diretor do Banco Central. O timoneiro Greenspan deverá ser mantido no posto. Na quarta-feira 20, Bush nomeou o presidente da Alcoa, Paul O’Neill, como secretário do Tesouro. Assim, não importaria muito a agilidade mental de quem ocupa o cargo formalmente mais alto – no caso, a Presidência. Além disso, não é preciso ser muito inteligente para saber que nos próximos anos vai prevalecer o mesmo slogan – como martelavam os assessores de Bill Clinton na campanha na qual o atual presidente derrotou o primeiro Bush: “É a economia, idiota!”

Os sinais de que a frase vai pegar estão claros. O mercado de capitais despencou, os preços dos combustíveis subiram assustadoramente e o endividamento do setor privado americano é o maior desde a Grande Depressão de 1929. Este seria o tripé que sustentaria uma recessão. A Nasdaq (a Bolsa de ações de empresas de tecnologia) teve a pior queda da sua história. Somente neste ano, cerca de US$ 2 trilhões do mercado de ações foram torrados. Para complicar, as empresas Microsoft e Compaq – gigantes da chamada nova era tecnológica, e que pareciam imunes a percalços – anunciaram expectativas reduzidas de suas performances devido às baixas nas vendas no mercado de computadores domésticos. O endividamento geral dos americanos – estimado em torno de US$ 1,6 trilhão – fez com que o consumo neste Natal caísse 10% em comparação com a mesma temporada no ano passado. “Até mesmo as vendas via internet não estão crescendo na proporção esperada. Na semana passada a e-Toys – a maior empresa de comércio eletrônico de brinquedos – anunciou que seus negócios serão muito menores do que imaginavam e até a primavera que vem vão ficar sem caixa”, diz James O’Connor, da International e-Biz, empresa de análise de comércio eletrônico.

Desafios a longo prazo – O próximo governo, e talvez até mesmo seu sucessor, terá de destrinchar um emaranhado de problemas estruturais e desafios econômicos de longo prazo. A começar pelo fato de que a população do país está ficando cada vez mais velha. A chamada geração “Baby Boomer” – da explosão demográfica do pós-guerra – está passando da marca dos 50 anos. Some-se a isso o aumento da expectativa de vida média dos americanos e se tem um cenário de pesadelo para o sistema previdenciário. O número de aposentados se multiplicará a ponto de ameaçar o necessário equilíbrio com o número de trabalhadores ativos que ajudam a pagar a previdência. Em outras palavras: haverá mais gente recebendo pensões e menos contribuintes no país. Os serviços sociais americanos – que já estão em nível precário e exigem providências – ameaçam falir completamente. Há concordância entre os partidos sobre a urgência de mudanças. Mas quando se fala nas fórmulas para remediar o sistema de aposentadoria e o serviço público de saúde, uma guerra ideológica toma conta do cenário político do país. Bush quer a criação de planos de previdência privada nos quais o contribuinte pode manejar as finanças de sua futura aposentadoria do modo que achar melhor. “A idéia só parece ser boa para aqueles com raciocínio simplista”, diz o senador democrata nova-iorquino Charles Schumer. “Quando se permite que alguém retire uma parte da sua contribuição à previdência e invista em outro plano, na verdade se está diminuindo a verba geral do sistema de previdência de agora. Ou seja: diminui a receita da previdência e não se consegue cumprir com os compromissos assumidos com as gerações anteriores de trabalhadores”, diz Schumer.

Durante a longa campanha presidencial americana, o republicano George Walker Bush insistiu na promessa de que seria um unificador da nação. Já eleito como o 43º presidente dos Estados Unidos, ele começa a cumprir parcialmente o prometido. A maioria dos americanos se une no veredicto de que Bush está longe de ser uma das pessoas mais brilhantes que a Casa Branca já abrigou. Nada menos que 64% dos entrevistados numa pesquisa nacional acham que seu próximo líder carece de preparo e QI exigidos para o cargo. Outra concordância quase unânime é que a exuberante economia dos últimos anos no país está em declínio. Em quase todos os outros tópicos que dizem respeito à sua sociedade, os americanos estão divididos. Há divergências, por exemplo, sobre graus de intensidade dos problemas mencionados. A crise econômica será apenas chuva forte com trovoadas ou vai desabar como borrasca? Os correligionários de George W. Bush acreditam que ele tem neurônios ativos o suficiente para conduzir a nau ianque em meio à tempestade que se aproxima até um porto seguro. Alegam que para isso o comandante trará a bordo ajudantes-de-ordem – nenhum deles marinheiros de primeira viagem – que vão assegurar uma navegação segura. Na semana passada, por exemplo, ele nomeou um herói nacional, o general Colin Powell, para ser seu secretário de Estado, e a veterana Condoleezza Rice para o importante cargo de chefe do Conselho de Segurança Nacional. E, tranquilizando Wall Street, apareceu literalmente agarrado a Alan Greenspan, o todo-poderoso diretor do Banco Central. O timoneiro Greenspan deverá ser mantido no posto. Na quarta-feira 20, Bush nomeou o presidente da Alcoa, Paul O’Neill, como secretário do Tesouro. Assim, não importaria muito a agilidade mental de quem ocupa o cargo formalmente mais alto – no caso, a Presidência. Além disso, não é preciso ser muito inteligente para saber que nos próximos anos vai prevalecer o mesmo slogan – como martelavam os assessores de Bill Clinton na campanha na qual o atual presidente derrotou o primeiro Bush: “É a economia, idiota!”

 

Os sinais de que a frase vai pegar estão claros. O mercado de capitais despencou, os preços dos combustíveis subiram assustadoramente e o endividamento do setor privado americano é o maior desde a Grande Depressão de 1929. Este seria o tripé que sustentaria uma recessão. A Nasdaq (a Bolsa de ações de empresas de tecnologia) teve a pior queda da sua história. Somente neste ano, cerca de US$ 2 trilhões do mercado de ações foram torrados. Para complicar, as empresas Microsoft e Compaq – gigantes da chamada nova era tecnológica, e que pareciam imunes a percalços – anunciaram expectativas reduzidas de suas performances devido às baixas nas vendas no mercado de computadores domésticos. O endividamento geral dos americanos – estimado em torno de US$ 1,6 trilhão – fez com que o consumo neste Natal caísse 10% em comparação com a mesma temporada no ano passado. “Até mesmo as vendas via internet não estão crescendo na proporção esperada. Na semana passada a e-Toys – a maior empresa de comércio eletrônico de brinquedos – anunciou que seus negócios serão muito menores do que imaginavam e até a primavera que vem vão ficar sem caixa”, diz James O’Connor, da International e-Biz, empresa de análise de comércio eletrônico.

Desafios a longo prazo – O próximo governo, e talvez até mesmo seu sucessor, terá de destrinchar um emaranhado de problemas estruturais e desafios econômicos de longo prazo. A começar pelo fato de que a população do país está ficando cada vez mais velha. A chamada geração “Baby Boomer” – da explosão demográfica do pós-guerra – está passando da marca dos 50 anos. Some-se a isso o aumento da expectativa de vida média dos americanos e se tem um cenário de pesadelo para o sistema previdenciário. O número de aposentados se multiplicará a ponto de ameaçar o necessário equilíbrio com o número de trabalhadores ativos que ajudam a pagar a previdência. Em outras palavras: haverá mais gente recebendo pensões e menos contribuintes no país. Os serviços sociais americanos – que já estão em nível precário e exigem providências – ameaçam falir completamente. Há concordância entre os partidos sobre a urgência de mudanças. Mas quando se fala nas fórmulas para remediar o sistema de aposentadoria e o serviço público de saúde, uma guerra ideológica toma conta do cenário político do país. Bush quer a criação de planos de previdência privada nos quais o contribuinte pode manejar as finanças de sua futura aposentadoria do modo que achar melhor. “A idéia só parece ser boa para aqueles com raciocínio simplista”, diz o senador democrata nova-iorquino Charles Schumer. “Quando se permite que alguém retire uma parte da sua contribuição à previdência e invista em outro plano, na verdade se está diminuindo a verba geral do sistema de previdência de agora. Ou seja: diminui a receita da previdência e não se consegue cumprir com os compromissos assumidos com as gerações anteriores de trabalhadores”, diz Schumer.