Em 2008, quando o Brasil estava prestes a sucumbir psicologicamente diante de uma ameaça de contaminação pela crise econômica global que avançava sem controle, a revista ISTOÉ veio às bancas com a mesma bandeira do “Acredite no Brasil” que volta a hastear nesta edição. Havia ali, em meio a cenários negativos e a um estado de prostração geral, a convicção da chegada de mais um revés dramático a solapar as esperanças do País – muito embora ele estivesse experimentando uma fase de crescimento sem precedentes, baseado em fundamentos sólidos que então vigoravam. Como se pôde constatar mais adiante, o Brasil atravessou razoavelmente bem a borrasca (bem melhor que parte considerável do mundo). E a força para resistir, para se superar, ele foi buscar aqui mesmo: apostando no mercado de consumo interno e nas linhas de crédito nacionais, abundantes naquele momento graças a um confortável colchão de reservas. O Brasil se mostrou maior que a crise, muito embora não tenha faltado quem levantasse o dedo para apontar deficiências estruturais e para enaltecer o eterno espírito vira-lata que acomete aqueles derrotistas por convicção. Felizmente, a esmagadora maioria não comunga das ideias dessa patota de pessimistas. Há algo na essência do brasileiro e na sua alma que é a crença, rotineiramente renovada, de que ele pode vencer as adversidades, de que pode chegar lá. É isso que o move, que o faz se levantar e tomar ânimo para aprender com os erros e tentar de novo, a cada sonho desfeito, a cada derrota pelo caminho.

Também no futebol essa é uma premissa mais do que válida. A “Pátria de Chuteiras” foi capaz, inúmeras vezes, de dar demonstrações de superação. Do “Maracanazo” de 50 para cá o Brasil se transformou numa legenda do esporte, com cinco títulos mundiais – um feito que mesmo o vencedor da final deste domingo não será capaz de superar. O exemplo do artilheiro Ronaldo, que após o apagão de 98, contra todos os prognósticos, voltou a brilhar e participou decisivamente da conquista da Copa de 2002, está firme na memória nacional. O mundo louva a capacidade nata de nosso povo de se reinventar, de encarar com otimismo os recomeços necessários e, por isso, o classifica entre os mais felizes da Terra. A venerada alegria do futebol canarinho também pode voltar mais uma vez aos gramados a partir de um trabalho de base consistente, de planejamento e reformulação das estruturas que controlam times e federações. Emocionalmente abalada pelo baile histórico que tomou no campo, a Nação tem de novo a missão de se reerguer. E sobram motivos e elementos para tanto. O Brasil fez uma extraordinária Copa, talvez a Copa das Copas, e disso ninguém tem dúvidas, com estupendos jogos, chuva de gols, maciça participação internacional e uma infraestrutura que nada deixou a desejar. De tamanho feito temos que nos orgulhar, pois ele diz muito de nossa capacidade de realização, do “fazer acontecer”. O País calou críticos e provou ao mundo e à Fifa que, nessa área, tem talento não apenas entre as quatro linhas. Nossa pátria do futebol é maior do que um jogo e se aquela vexatória partida pode trazer lições é a de que há caminhos para se reinventar, que nem todas as esperanças foram soterradas naquele 7 a 1. O desafio é gigantesco, mas o Brasil sai dessa peleja já vitorioso e por inúmeras razões (como mostra o especial desta edição), podendo angariar mais e mais conquistas que irão recompor o brilho, o moral e a identidade nacionais.