A o que tudo indica o bom e velho Tim Maia estava certíssimo: “Só quero chocolate. Não adianta vir com guaraná. É chocolate que eu quero beber.” Pois é. O chocolate está sendo cada vez mais estudado pelos cientistas e, a cada novo trabalho, são desvendadas propriedades que estremecem os pilares dos mais conservadores grupos acadêmicos. A mais recente delas diz respeito aos benefícios que essa guloseima para lá de hedônica pode trazer à saúde do coração. Isso mesmo: chocolate pode fazer bem ao coração e proteger contra doenças cardiovasculares. Essas constatações foram feitas por pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e divulgadas durante o encontro anual da AAAS (sigla em inglês para Sociedade Americana para o Progresso da Ciência) realizado na semana passada em Washington. De acordo com Carl Keen, diretor do Departamento de Nutrição da Universidade da Califórnia e um dos autores dos estudos, o chocolate é capaz de diminuir a oxidação do colesterol LDL (um dos responsáveis pela formação de placas de gordura nos vasos sanguíneos) e a agregação de plaquetas (desempenham papel na coagulação do sangue) nas artérias, dois fatores que podem estar relacionados a problemas como o infarto. “Os estudos são iniciais, mas indicam que, com moderação, o chocolate pode fazer parte de uma dieta saudável”, diz Keen, que está conduzindo uma pesquisa com 40 voluntários. Nele, o pesquisador administra uma bebida achocolatada contendo uma colher de sopa de cacau em pó (matéria-prima do chocolate) e verifica os seus efeitos no organismo até seis horas após a ingestão. Num outro grupo, o pesquisador está comparando a ação da bebida achocolatada com o suco de uva. Os resultados mostram que eles têm uma eficácia parecida. O suco de uva, pesquisado em diversos centros, também tem potencial benéfico para o coração, só que em menor grau do que o vinho – bebida cujos efeitos sobre a saúde cardíaca já são amplamente conhecidos. Outra boa notícia é que estudos recentes mostraram que a gordura saturada do chocolate não é tão nociva e parece não ter influência sobre os níveis de colesterol. “Com isso, a restrição calórica torna-se o principal fator a se levar em conta”, diz a nutricionista paulista, Patrícia Bertolucci. Segundo ela, 30 gramas de chocolate (uma barra), que fornecem cerca de 180 calorias, seria o máximo recomendado para o consumo diário. E mesmo assim tomando o cuidado de reduzir os carboidratos do cardápio para compensar. A ação positiva do chocolate, segundo os cientistas, se dá por causa de compostos chamados flavonóides, que são naturalmente presentes no cacau (eles também estão presentes na uva). Essas substâncias, além de seu poder antioxidante, parecem exercer uma ação antiinflamatória sobre a parede dos vasos sanguíneos (que ajudaria a evitar a formação de placas de gordura) e estimulariam a produção de óxido nítrico, um composto químico que induz ao relaxamento das artérias, diminuindo, dessa forma, a pressão arterial. Os efeitos benéficos, no entanto, dependem da concentração de flavonóides que o fabricante consegue manter desde a extração do cacau até a confecção do chocolate e não são válidos para o chocolate branco (ele é feito principalmente com a manteiga de cacau, que não possui alto teor de flavonóides). Os cientistas ainda não chegaram a uma quantidade ideal de chocolate que deve ser ingerida para se alcançar os benefícios. O trabalho que está sendo feito por Carl Keen é o primeiro estudo clínico em humanos. Antes disso, dois outros cientistas da Universidade da Califórnia haviam realizado apenas estudos “in vitro” (em tubos de ensaio) que estabeleciam uma relação entre o chocolate e a proteção cardiovascular. “Todos os achados são animadores e mostram que devemos investir em mais pesquisas para avaliar melhor o potencial de proteção cardiovascular do chocolate”, afirma Harold Schmitz, diretor de pesquisa da Mars, empresa americana que está financiando os estudos.