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Entre os livros dedicados à participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, o romance “Mina R” (Ouro Sobre Azul) destaca-se por ser uma das poucas –e muito bem escritas – obras de ficção conhecidas sobre o período. Entenda-se ficção porque as situações e os personagens foram reinventados, mas a narrativa poderia facilmente ser classificada como um relato pessoal de envergadura histórica. Seu autor, Roberto de Mello e Souza (1921-2007), irmão do crítico literário Antonio Candido, integrou a Força Expedicionária Brasileira (FEB) e atuou em toda a Campanha da Itália como cabo em um batalhão encarregado de desarmar minas. Vem daí o título do livro, que não se refere, como se poderia imaginar, a alguma garota italiana entre as muitas que nossos pracinhas encontravam perdidas pela região dos Apeninos. A mina R em questão é um tipo de artefato contendo 5 kg de dinamite e poder de impacto de 180 kg, tido na época como o mais perigoso de todos – e é o enfrentamento do protagonista com a arma letal que mantém o suspense e a tensão da obra.

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Assim descreve o narrador a atividade precisa e solitária de limpar o caminho para a passagem das tropas: “Acho que quando você desarma mina a guerra fica sendo só sua e que cada mina é uma guerra que você ganha. Sozinho.” Escrito num estilo que mistura a linguagem cotidiana com técnicas elaboradas, como o fluxo da consciência e a mistura de vozes e tempos, o romance foca o lado cotidiano do conflito, tipo de olhar que cada vez ganha mais valor na historiografia. Especialmente no caso da participação da FEB, ao conferir a justa medida de sua especificidade, tida como secundária. Entre passagens fortes como a morte de um soldado do qual só restou o tronco após uma saraivada de estilhaços ou bem-humoradas a exemplo da pegadinha feita a um arrogante militar americano, sobram detalhes anedóticos. Um exemplo: chamar de “boi branco” o medo que acomete os soldados numa noite erma. “O silêncio no front é um trem muito diferente desse aqui que a gente está acostumado.(…) É um silêncio assim muito engatilhado”, escreve o autor.