A reportagem de capa desta edição de ISTOÉ é fruto do trabalho de um mineiro que, como boa parte de seus conterrâneos, um dia sonhou melhorar de vida ultrapassando as fronteiras de seu Estado e até de seu país. Com esse objetivo, há nove anos o repórter fotográfico Alan Rodrigues deixou Belo Horizonte e foi retratar a vida política em Brasília. Dono de uma inquietude característica dos bons profissionais de imprensa, Alan, apesar de sediado na capital, não se deteve aos fatos que se desenrolam nos salões do Congresso, nos gabinetes ou nas alamedas da Esplanada dos Ministérios. Enquanto viveu em Brasília, juntou quatro prêmios com reportagens como o tráfico de mulheres para a Europa – via Suriname – e o dia-a-dia dos guerrilheiros das Farc, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Em 2001, Alan resolveu viver em São Paulo. Fez a mudança e trouxe consigo a mulher, Rosângela, e o filho, Pedro, então com oito anos. Impôs a si mesmo um desafio a mais: com 36 anos de idade encarou um vestibular e passou a cursar jornalismo. Queria, além de fotografar, escrever suas reportagens. O desafio foi vencido, mas o cordão umbilical que o liga a Minas Gerais jamais foi quebrado. E por causa dessa sadia mineiridade nasceu a dramática reportagem “Travessia mortal”.

Há cerca de cinco meses, Alan encontrou-se com uma amiga de Belo Horizonte que tentou entrar nos Estados Unidos ilegalmente. Cruzou a fronteira do México, mas acabou presa pela polícia no deserto de Altar, no Arizona. Ainda aguarda julgamento, mas teve mais sorte do que as centenas de imigrantes que sonham ganhar a América e acabam mortos. Foi para contar essas histórias e mostrar a tragédia dos que se aventuram a entrar nos EUA pela porta dos fundos que Alan passou dez dias nos desertos da Califórnia e do Arizona, mesmo sem dominar o inglês. “Pensei que o espanhol pudesse resolver, mas foi engano”, conta Alan. Conseguiu superar o problema com a ajuda de uma americana que costuma socorrer os imigrantes e ainda sabe falar portunhol. A reportagem, que é um exemplo de jornalismo que não se aprende apenas nas escolas, começa à pág. 70 e exige das autoridades brasileiras algum tipo de atitude.