Constrangimento. Para a maioria das mulheres, essa palavra define bem as consequências do convívio com a celulite. Por causa dos malditos furinhos na pele do bumbum e das pernas, principalmente, muitas nem passam perto de uma saia, calças justas e de cor clara e muito menos de um biquíni. Por isso, a busca de uma solução contra esse terror feminino mobiliza médicos e indústria cosmética. Como resultado desse esforço, algumas boas novidades prometem reforçar o arsenal já disponível.

A primeira delas é uma nova técnica cirúrgica desenvolvida pelo cirurgião plástico Marco Gasparotti, integrante da Sociedade Italiana de Cirurgia Plástica e especialista em tratamentos de gordura localizada e celulite. Diferentemente da subcision – o método cirúrgico usado até agora –, a intervenção criada pelo médico italiano promete acabar com a celulite sem tanto risco de hemorragias ou aparecimento de manchas na pele. Na verdade, trata-se de uma mistura de lipoaspiração com lipoescultura, feita com um instrumento criado especialmente para a intervenção, chamado de ring cânula (a ponta da cânula tem um formato anelado, daí o nome inglês ring, que em português significa anel). Depois de romper as fibras associadas à celulite e de aspirar a gordura da região, o cirurgião injeta novamente parte da gordura retirada para uniformizar a superfície da pele, acabando com os furinhos.

Experiência – A cirurgia – indicada para os casos mais graves – será um dos destaques do VI Simpósio Internacional de Cirurgia Plástica, que acontece de 18 a 20 de março em São Paulo. O especialista italiano demonstrará a técnica para mais de 800 brasileiros, em uma operação transmitida via satélite de uma clínica particular na cidade de Santos, no litoral paulista. Gasparotti vem aplicando o método na Itália há cerca de dois anos. No Brasil, a intervenção é bem mais recente. Desembarcou por aqui no ano passado e ainda são poucos os médicos que a praticam. Um deles é o cirurgião plástico Ewaldo Bolivar, de São Paulo, seu principal divulgador no Brasil. “A recuperação é mais rápida e o resultado é melhor do que a subcision”, diz. Em Porto Alegre, o médico Carlos Uebel também já aplica a técnica. “Não tive nenhuma reclamação das 20 pacientes que operei no ano passado. Todas estão felizes com o resultado”, garante Uebel.

Quem passou pela intervenção está comemorando. “Por mais exercícios, cremes e massagens que eu fizesse, a celulite continuava lá. Depois da cirurgia, nem ficaram hematomas. Me recuperei em uma semana”, conta a representante comercial Patrícia Gomes, 21 anos. A ex-miss São Paulo, modelo e atriz Michelle Faccas, 22 anos, foi outra que se submeteu ao método. Apesar da beleza, sentia-se incomodada e pressionada por causa dos inconfundíveis sinais. “As pessoas cobram mais quando se é modelo. Fiz a cirurgia para poder usar um short justinho ou mesmo uma saia sem ficar preocupada com o aspecto da minha pele. Deu tudo certo”, garante. O custo dessa felicidade, no entanto, ainda é alto. O preço da cirurgia vai de R$ 6 mil a R$ 12 mil.

É claro, porém, que só o procedimento não basta para manter a celulite definitivamente derrotada. Isso porque, infelizmente para as mulheres, o inimigo é ardiloso. Até hoje, os mecanismos que resultam na celulite ainda despertam investigações, de tão complexos que são. Só para ter uma idéia da complicação, entre suas causas estão fatores tão distintos quanto sedentarismo, stress, má alimentação, alterações hormonais e genética. Por isso, é óbvio que uma intervenção cirúrgica ou qualquer outro tratamento não funcionarão se os fatores que predispõem ao problema não forem combatidos. O cirurgião plástico Volney Pitombo, por exemplo, um dos mais badalados do Rio de Janeiro, está entre os que já aplicam a nova cirurgia, mas não dispensa a complementação com sessões de drenagem linfática (massagem que ajuda o organismo a eliminar substâncias que agravam a celulite). “Recomendo que esse recurso seja usado periodicamente”, diz.

Alternativas – É justamente a obrigação de encontrar múltiplas saídas que empurra a indústria e a medicina na busca de vários caminhos para resolver o problema. Alguns dos mais promissores foram apresentados na semana passada durante o encontro da Associação Americana de Dermatologia, realizado em Nova Orleans, nos Estados Unidos. No evento, foram lançados aparelhos de laser de diodo regulados especificamente para combater a celulite. Um dos novos equipamentos, o Tri-Active, destinado à lipoaspiração e celulite, por exemplo, custa cerca de US$ 25 mil dólares, mas promete. “Eu não apostava muito nessa indicação do laser, mas passei a acreditar que será um grande avanço para enfrentar a celulite”, diz a dermatologista Shirlei Borelli, responsável pelo Centro de Estudos do Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo, que participou do
encontro. O entusiasmo se deve ao fato de que, pelos estudos apresentados
no congresso americano, esse tipo de laser é capaz de tratar o problema com sucesso e sem a necessidade de cortes na pele. Até hoje, os tratamentos dessa categoria exigiam a introdução de cânulas na pele para guiar a luz até as células de gordura, para dissolvê-las.

Circulação – As pesquisas também produziram descobertas valiosas para as adeptas dos tratamentos com cápsulas e cremes. Um estudo apresentado no encontro americano pelo dermatologista brasileiro Omar Lupi joga luz na velha polêmica sobre os efeitos dos produtos cosméticos aplicados na superfície da pele para golpear a celulite. Ele e sua equipe da Universidade Estadual do Rio de Janeiro estudaram durante seis meses um grupo de 100 mulheres com celulite. Todas eram usuárias de cremes. Com a ajuda de um equipamento sofisticado chamado Cytoscan (que usa a emissão de partículas de luz para avaliar a microcirculação em vasos sanguíneos e capilares), os pesquisadores avaliaram os efeitos de um produto com cafeína, composto que estimula a circulação, aplicado regularmente em uma das pernas durante um mês. Outro compromisso das pacientes era manter o peso inicial e não alterar a rotina de atividade física. “Concluímos que o anticelulítico, de fato, aumentou a circulação nas primeiras camadas da pele e provocou redução de 1,8 cm nas medidas”, afirma Lupi. O estudo indicou também que as pacientes fumantes e sedentárias tiveram menos benefícios com o tratamento.

Para a população feminina, notícias como a cirurgia, o novo laser e o desempenho dos cremes soam como bálsamos. Apesar de grande parte dos homens afirmar que os furinhos na pele podem até ser um charme a mais, como sardas no nariz, por exemplo, ninguém conseguiu convencer as mulheres disso. Acabar com a celulite é o sonho de dez entre dez moças e nem tão moças assim. E, quando isso acontece, o resultado é uma inundação de auto-estima. Esse efeito, inclusive, foi constatado em um levantamento realizado em 2004 pela dermatologista Dóris Hesxel, do Rio Grande do Sul, com 62 vítimas da celulite. “A melhora no grau de celulite se reflete em melhora da auto-estima de todas”, garante a especialista, que lançará este ano nos Estados Unidos o primeiro livro científico sobre esse tormento feminino. Questionários respondidos pelas pacientes após os tratamentos revelaram que mais da metade das entrevistadas se sentiu confiante. E, desse grupo, 16% tiveram uma mudança bastante positiva na imagem que tinham de si.