A exemplo de seus livros mais conhecidos, a novela A máquina do tempo, do escritor e jornalista inglês H.G. Wells, já ganhou algumas adaptações cinematográficas. Entre elas, a mais conhecida é a dirigida por George Pal, em 1960, com Rod Taylor no papel principal. Ela obedecia à trama original, na qual um cientista viaja 800 mil anos em direção ao futuro e encontra a Terra dominada por duas raças: os elói, seres superiores que vivem na superfície, e os morlock, canibais imbecilizados, habitantes dos subterrâneos. Nesta recente versão de A máquina do tempo (The time machine, Estados Unidos, 2002) – cartaz nacional –, assinada por Simon Wells, bisneto do autor e queridinho da DreamWorks, o roteirista John Logan deu ao cientista um nome e um motivo. Ele é Alexander Hartdegen (Guy Pearce) e pretende avançar ou retroceder no tempo para evitar uma tragédia pessoal. Só que agora os morlock do futuro têm um líder, Uber-Morlock (Jeremy Irons), que surge para infernizar a vida de Hartdegen. Para complicar, o herói ainda cai de amores pela elói Mara (Samantha Mumba).

Com sustos e aparições fantasmagóricas, o bisneto de Wells soube gastar muito bem os US$ 70 milhões da produção, criando também cenas grandiloquentes. É curiosa, por exemplo, a moradia dos elói, encarapitada em encostas sobre mares revoltos, que lembram o cenário devastador de O segredo das águas, no qual Kevin Kostner conseguiu fazer submergir US$ 175 milhões. A máquina do tempo é uma boa aventura para a sessão da tarde, mas o velho Wells não teria gostado nem um pouco de ver sua metafórica história sobre a cruel luta de classes da Inglaterra do século XIX ser transformada num corre-corre tresloucado para adolescentes.