Dona Dilma, acertei no milhar, ganhei 500 contos, não vou mais trabalhar… Você vai ser madame, vai morar num grande hotel… E eu vou comprar um avião azul para percorrer a América do Sul… Mas de repente, Dona Dilma me chamou, tá na hora do batente, era um sonho minha gente." Eis aí a letra do samba de breque "Acertei no Milhar", lançado em 1940 pelos compositores Geraldo Pereira e Wilson Batista – a diferença, na transposição para os dias atuais, é o "Dona Dilma" no lugar do "Etelvina" original. Deixando isso de lado, a canção poderia ter sido a trilha sonora da cerimônia inaugural do novo marco do petróleo, na semana passada.

O presidente Lula, sambista número 1 do País e orador das multidões, comparou o pré-sal a um "bilhete premiado". E, com ele, quis coroar a ministra Dilma Rousseff, no ato extraoficial de lançamento de sua candidatura à Presidência. Consta que a ex-guerrilheira Dilma até chorou.

No discurso, Lula teve a cautela de avisar que os bilhetes premiados podem se transformar em "maldições", se os governos não tiverem sabedoria para administrar a riqueza fácil que brota do subsolo – muito embora, no caso brasileiro, ela esteja sete quilômetros abaixo da terra, nas profundezas do mar. Feita a ressalva, o fato é que Lula já começou a queimar, à vista, uma riqueza que, na melhor das hipóteses, só se materializará dentro de dez anos.

A mudança no modelo do petróleo, ainda que possa ter explicações técnicas, também foi feita para render dividendos políticos: o de contrapor a era FHC, de "mentalidade subalterna", à era Lula, em que o Brasil teria conquistado sua "segunda independência". E no blog do Planalto, também lançado na semana passada, dizia-se que a descoberta do pré-sal era fruto da "mão invisível do povo brasileiro", em mais um recado contra as privatizações tucanas e a chamada mão invisível do mercado.

Orgulho nacional, a Petrobras tem tudo para vencer o desafio tecnológico do pré-sal e o Brasil certamente deve manter o controle sobre suas riquezas, evitando erros do passado. Mas o avanço recente da empresa também deve ser creditado ao modelo implantado em 1997, que quebrou o monopólio da Petrobras na exploração do petróleo, atraiu concorrentes para o Brasil e fez com que a estatal se modernizasse, adotando uma gestão técnica. Por isso, nunca é demais recordar a lição do economista Roberto Campos. Se uma empresa não é competitiva, não merece o monopólio. E se é, não precisa. A Petrobras faz parte do segundo grupo. Por isso mesmo, tratar um tema tão importante num palanque eleitoral pode transformar o bilhete premiado numa maldição. Num samba de breque.