Discutir um filme com os amigos logo após sua exibição faz parte de qualquer sessão de cinema, ainda mais em tempos de Oscar. Mas, na terra de Steven Spielberg e Woody Allen, debater as minúcias de um longa serve também como ferramenta terapêutica. A nova tendência é recomendar títulos que ajudam a superar situações que abalam a mente e o coração. Que tal assistir a Secretária para entender que uma relação afetiva não precisa ser convencional para dar certo? Na produção de 2002, James Spader interpreta um advogado que tem com sua secretária um affair marcado por um erotismo sadomasoquista. Esse romance tórrido é um dos títulos usados pelo psicólogo americano Gary Solomon no método batizado de cinematerapia. O segredo é indicar ao paciente uma obra que o faça analisar o seu momento. “Ao ver um filme, a pessoa recebe uma mensagem mais forte do que a expressada verbalmente”, resume o psicólogo.

Solomon ficou tão famoso que ganhou um apelido: “The Movie Doctor” (O doutor do cinema). Tem três livros – The motion picture prescription (A prescrição do cinema), Reel therapy (Terapia da filmagem) e Cinemaparenting (Cinema para os pais) – e deverá publicar mais dois até 2007. Planeja lançar no total 12 volumes sobre o tema. Não é o único a aproveitar esse filão. Na internet, é fácil encontrar uma lista de livros sobre o tema. Um deles, Cinematerapia para a alma (ed. Verus), disponível no Brasil, vendeu 300 mil cópias em todo o mundo. “Os filmes, mais do que entretenimento, são uma forma de automedicação”, garante Beverly West, que divide a autoria deste best-seller com Nancy Penske.

O cinema não substitui a psicoterapia. Se for esse o caso, é melhor buscar um profissional. Para o psicólogo Renato Mezan, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é inegável o poder da ficção como bálsamo para a alma. “Só que não vai além disso. A análise dependerá muito do repertório emocional da pessoa”, diz. “Mas tem de ser filme bom. Outros podem fazer até mal.” De fato, é improvável que Tróia, por exemplo, leve alguém a algum lugar. Os erros históricos são tão grosseiros que o the end correrá o risco de ser recebido com um ataque de raiva.