Os números dão medo. Segundo pesquisa publicada na revista científica The Lancet, cerca de 24,3 milhões de pessoas no mundo sofrem de demência, um estado mental que rouba progressivamente do indivíduo a percepção da realidade e o deixa vulnerável a adotar comportamentos impróprios – andar nu pela casa, por exemplo. Daqui a 36 anos, deverão ser 81 milhões de dementes no planeta. A principal causa do problema é o mal de Alzheimer, doença degenerativa que também provoca um abalo gradual, mas terrível, na memória. Num primeiro momento, o paciente não lembra o nome do vizinho. Tempos depois, não reconhece esposa, filhos.

Preocupados com o futuro, os cientistas correm atrás de mais pistas sobre a evolução do mal. A investigação é difícil, já que a doença – que leva à morte gradual dos neurônios – é complexa. Mas aos poucos se avança. Um estudo da Universidade da Califórnia do Sul, nos Estados Unidos, mostrou que cerca de 80% dos casos têm origem genética. O trabalho, publicado no Archives of General Psychiatry, envolveu 12 mil participantes. Os cientistas alertam que, apesar da forte carga genética, outros fatores contam muito para o desenvolvimento do Alzheimer. Há muitas evidências de que indivíduos que sempre “exercitam” o cérebro com atividades cognitivas estão mais protegidos. “É o caso do use-o ou vai perdê-lo. Se você utiliza bastante o cérebro lendo ou aprendendo novas habilidades, diminui a chance de sofrer da doença”, afirma Michael Valenzuela, pesquisador australiano ligado ao tema.

Por isso cresce a insistência para que mesmo os pacientes já atingidos pela doença sejam incentivados a manter o cérebro azeitado. Eles devem ser medicados, mas o ideal é que também estimulem a memória e o raciocínio. “A associação de remédios com terapia ocupacional produz bom resultado”, explica o gerontologista Paulo Canineu, vice-presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (www.abraz.org.br). Outro ponto importante é dar assistência psicológica a quem lida diariamente com o doente. É doloroso ver alguém se desligar da realidade, até se separar completamente de seu mundo. Por isso, deve-se cuidar do paciente, mas também dos que o amparam.