Mundo/Globalização 1992

Uma utopia realizada. Assim foi visto o surgimento da União Europeia (UE) quando, pela primeira vez na história, 28 países se juntaram para que pessoas e produtos circulassem sem restrições. A UE viria a cunhar novos padrões em assuntos como práticas ambientais, direitos humanos e cooperação judicial entre as nações. Também estabeleceu uma paz duradoura, num continente marcado por cicatrizes de consecutivas guerras. Por esse motivo, foi a UE, não uma pessoa, quem recebeu o Nobel da Paz de 2012.

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No papel, o bloco nasceu no dia 7 de fevereiro de 1992, por meio do Tratado de Maastricht, assinado na cidade de mesmo nome, na Holanda. Mas começou a amadurecer muito antes, com uma série de embriões. O primeiro foi o Benelux, acordo econômico criado após a Segunda Guerra para aproximar Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Depois, o grupo incorporou a Itália, a França e a Alemanha Ocidental, que acabou evoluindo para a Comunidade Econômica Europeia. Formalizada em 1957, ela estabeleceu um mercado comum na região, além de políticas para facilitar a circulação de mão de obra. Seria o ensaio geral da atual UE, que entraria em vigor em 1º de novembro de 1993.

A integração trouxe vantagens econômicas significativas aos participantes do bloco. O livre comércio reduziu preços de produtos consumidos pelas 500 milhões de pessoas que a UE agrega. O incentivo às trocas comerciais entre os países, que aumentaram em 30% desde 1992, ajudou a criar empregos por toda a região. Apenas na década seguinte ao acordo, entre 1993 e 2003, o PIB europeu foi turbinado em 877 bilhões de euros por esses fatores, o que significou renda extra de 5,7 mil euros por domicílio. São números que traduzem uma realidade percebida no dia a dia da população. “Se eu quiser, posso abrir um negócio na Polônia amanhã, por exemplo, com a mesma facilidade que o faria em Madri”, diz o espanhol Aaron Matta, analista sênior do Instituto Global Para Justiça de Haia.

Paz e estabilidade

A trajetória pessoal de Matta mostra que os efeitos transformadores da UE não são apenas econômicos. Estão na vida de cada um dos europeus. Após se formar na Inglaterra, o analista cursou Ph.D. em Florença, na Itália – tudo, é claro, sem qualquer restrição de fronteiras. Hoje, Matta treina juízes e promotores em países que aspiram se tornar parte do bloco, na Holanda. Ele já fez isso em lugares como a Albânia, a Macedônia e a Ucrânia. “Um dos principais motivos pelos quais essas nações almejam entrar para a UE é promover a paz e a estabilidade para suas populações”, ele afirma.

“Se eu quiser, posso abrir um negócio na Polônia amanhã, por exemplo, com a mesma facilidade que o faria em Madri” Aaron Matta, analista do Instituto Global para a Justiça em Haia, na Holanda
“Se eu quiser, posso abrir um negócio na Polônia amanhã, por exemplo, com a mesma facilidade que o faria em Madri” Aaron Matta, analista do Instituto Global para a Justiça em Haia, na Holanda