25/11/2016 - 18:00
Terror 2015/Mundo
Férias na Côte D’Azur, um show numa casa noturna badalada ou mesmo uma reunião de trabalho em Paris. O que fazia parte da rotina de quem vive ou visita a França passou a ser uma atividade de risco depois que uma série de atentados terroristas deixou centenas de feridos e quase 300 mortos. Desde 2015, o país se tornou o principal alvo do radicalismo islâmico, com atentados que chocaram e comoveram o mundo. Em 15 de janeiro daquele ano, dois irmãos fortemente armados mataram 14 pessoas, das quais 12 trabalhavam na redação do jornal “Charlie Hebdo”, conhecido por publicar charges consideradas ofensivas ao Islã. Em 15 de novembro, outra série de atentados, incluindo-se um tiroteio na casa de shows Bataclan e uma bomba na arena Stade de France, deixou mais 180 mortos. No dia 14 de julho de 2016, durante as comemorações da Queda da Bastilha, um caminhão dirigido por um terrorista solitário avançou sobre uma rua fechada para pedestres em Nice e atropelou centenas de pessoas, das quais 85 morreram.
- MEDO – O Stade de France após explosão: 180 mortes em uma série de ataques coordenados
- SOLIDARIEDADE – População sente as dores das vítimas. A frase “Eu sou Charlie” ganhou o mundo
- COVARDIA – Imagens do lado de fora da casa de shows Bataclan: disparos aleatórios durante show
“Há vários motivos para que a França venha enfrentando tantos ataques terroristas”, diz Antoine Vagneur-Jones, 21 anos, assistente do departamento de Oriente Médio da Fundação para Pesquisas Estratégicas da França. “Para o porta-voz do Estado Islâmico, a França é um símbolo dos valores ocidentais, personificando ideais enraizados no secularismo liberal”, diz ele. Esse não é o único motivo. Segundo Vaugneur-Jones, a França adotou uma política estrangeira agressiva em países muçulmanos, colocando suas tropas em lugares como a Líbia e o Mali. “Além disso, sucessivas administrações têm tido posturas duras em questões religiosas — num país com uma grande comunidade muçulmana”, ele afirma. “Esse verão tivemos o escândalo do burkini (traje de banho feminino muçulmano, proibido e depois liberado pela Justiça francesa). Esses procedimentos dão munição àqueles que percebem o país em guerra contra o Islã.”

Interceptações
Apesar de as autoridades francesas afirmarem ter interceptado pelo menos 10 ataques terroristas desde 2015, o país é frágil em seu aparato de segurança doméstica. “É difícil falar de ‘terroristas’ como um grupo único, totalmente coordenado”, diz Vaugneur-Jones. Para ele, a estrutura fragmentada das organizações jihadistas complica ainda mais a tarefa de antecipar os ataques. “Depois de perder Mossul e outros territórios na Síria e no Iraque, há alguma possibilidade de o Estado Islâmico lançar uma série de novos ataques no Ocidente.”
Sentindo-se ameaçados em sua própria casa principal consequência tem sido o aumento da xenofobia, especialmente entre os mais jovens. A extrema direita tem crescido em diferentes países europeus, mas na França o movimento é ainda mais forte.
ISTOÉ dedicou duas reportagens de capas aos ataques na França, firmando sua posição em defesa da liberdade de expressão e ajudando o leitor a compreender as consequências das ações terroristas para o Brasil e o mundo.

- No ano em que a revista ISTOÉ completa 40 anos, relembre 40 fatos que transformaram o Brasil e o mundo nas últimas quatro décadas
- 1976 – A ditadura e a tortura escancarada: os assassinatos de Vladimir Herzog e Fiel Filho nos porões da ditadura deram início à implosão do regime militar
- 1978 – Nasce o primeiro bebê de proveta: a fertilização in vitro trouxe aos casais com problemas reprodutivos a chance de realizar o sonho de ter filhos
- 1978 – As greves que mudaram o Brasil: movimento no ABC colocou os trabalhadores no processo de democratização e apresentou ao País lideranças como o sindicalista Lula
- 1981 – As bombas que explodiram o regime: ataque frustrado no Riocentro evidenciou a radicalização nas Forças Armadas e a urgência da redemocratização
- 1982 – Descoberto o vírus da Aids: a epidemia surgiu avassaladora – e cercada de preconceito. De ameaça mortal, tornou-se doença crônica
- 1983 – Diretas já, o clamor das ruas: num movimento de mobilização inédito, brasileiros exigiram a volta da democracia e o direito de eleger seus presidentes
- 1985 – O Brasil perde Tancredo Neves: a morte de Tancredo às vésperas da posse como presidente da República causou comoção nacional, num reencontro da população com civismo
- 1986 – A tragédia em Chernobyl: acidentes em usinas nucleares aterrorizaram o mundo, mas o uso dessa forma de energia continuou crescendo
- 1988 – A Constituição cidadã: carta Magna garantiu direitos básicos a todos os brasileiros, mas faltou discriminar a origem dos recursos para que o Estado cumpra seus deveres
- 1988 – Chico Mendes, o mártir dos povos da floresta: ele conseguiu levar adiante a implantação das reservas extrativistas e seu assassinato revelou a violência agrária no Brasil
- 1989 – O massacre na Praça da Paz Celestial: após a violenta repressão aos manifestantes que pediam abertura política, governo chinês buscou a legitimidade no crescimento econômico
- 1989 – A frustração com Collor: primeiro presidente eleito após o fim do regime militar, Fernando Collor de Mello traiu seus eleitores ao confiscar a poupança e gerar crise gigantesca
- 1989 – A queda do muro de Berlim: o maior símbolo da divisão mundial foi derrubado por populares em ato que marcou o fim da Guerra Fria e o colapso do império comunista da URSS
- 1991 – A invenção da internet: depois de mudar a economia e os hábitos das pessoas, a internet deverá avançar ainda mais sobre os serviços e os objetos
- 1992 – Collor, o primeiro impeachment: afogado em um mar de corrupção e com os caras-pintadas nas ruas, Fernando Collor renunciou antes de ser cassado pelo Congresso
- 1992 – A revolução do Euro: em continente marcado por cicatrizes de guerras, UE trouxe riqueza e liberdade aos países da região
- 1994 – Real, o plano que funcionou: proposta de FHC estabiliza a inflação e coloca a economia brasileira em outro patamar
- 1994 – O Brasil chora a morte de Senna: reverenciado em todo o mundo, o piloto se tornou um exemplo de determinação e superação de limites
- 2001 – 11 de Setembro, o ataque que mudou o mundo: atentados marcam o avanço do extremismo sobre o Ocidente e criam era de insegurança
- 2003 – Lula, o metalúrgico chega à Presidência: inclusão social e ascensão da classe média marcaram o governo Lula, que acabou manchado pela corrupção
- 2005 – Mensalão, o País pune os corruptos: o PT é flagrado comprando apoio político e seus principais líderes são condenados
- 2007 – A revolução do iPhone: Steve Jobs redefiniu a forma de interagir e transformou os negócios ao lançar um aparelho de design elegante e aberto a novos aplicativos
- 2008 – Crise financeira de 2008, a quebra do século: falência do Lehman Brothers foi o estopim da maior crise econômica mundial desde a recessão de 1929
- 2008 – Barack Obama, o estadista: a histórica ascensão dos negros, os pactos climáticos, a reaproximação de Cuba: Obama mudou o olhar do mundo para a América
- 2009 – Adeus a Michael Jackson: morte do rei do pop chocou o mundo e pôs em debate o uso excessivo de drogas lícitas
- 2010 – A primavera árabe: convocado pela internet e pelas redes sociais, levante inédito derrubou chefes de Estado opressores, mas gerou guerras civis sangrentas e crise migratória
- 2012 – Malala e a revanche feminina: o atentado contra Malala deu voz a um novo feminismo e expôs ao mundo a realidade de 65 milhões de meninas que continuam longe das escolas
- 2013 – Junho de 2013, o grito das ruas: as manifestações que levaram milhões de jovens de volta às ruas pautaram uma nova forma de olhar a política e a ética
- 2013 – Francisco, o Papa do povo: após a renúncia de Bento XVII, o argentino Jorge Mario Bergoglio torna-se o papa Francisco, com um discurso de inclusão, humildade e simplicidade
- 2013 – Mandela, símbolo da luta pela liberdade: o legado do ativista que combateu o regime segregacionista do Apartheid e liderou a pacificação de um país ainda dividido pela cor da pele
- 2014 – Sergio Moro passa o Brasil a limpo: a Lava Jato mostrou a gravidade da corrupção no Brasil ao mandar para a cadeia empresários e políticos que se imaginavam inatingíveis
- 2014 – O maior vexame da história: o Brasil sofreu para provar que era capaz de organizar uma Copa, mas penaria ainda mais em campo, com a derrota por 7 a 1 para a Alemanha
- 2015 – Crise dos refugiados, a catástrofe do nosso tempo: problema coloca 65 milhões de pessoas vagando e revela o crescimento da xenofobia e da extrema direita
- 2015 – Desastre de Mariana e o Brasil na lama: o rompimento de uma barragem da Samarco em Mariana, MG, provocou a maior tragédia ambiental da história do Brasil
- 2015 – Atentados em série transformaram a França em principal vítima do radicalismo islâmico, expondo a dificuldade em antecipar as ações dos terroristas
- 2016 – O impeachment de Dilma Rousseff: impopular, incapaz de manter a governabilidade e em meio a escândalos, a primeira presidente eleita no País teve seu mandato cassado
- 2016 – Michel Temer presidente: peemedebista chega ao poder com o desafio de recolocar o País nos trilhos
- 2016 – Brexit, o fim de um sonho: britânicos votam pela saída da União Europeia e podem dar início ao esfacelamento do bloco
- 2016 – Rio-2016, o resgate do orgulho nacional: Olimpíada no Rio supera desconfiança mundial, deixa legado histórico e revela novos heróis do esporte brasileiro
- 2016 – A vitória de Donald Trump: com um discurso xenófobo, protecionista e ameaçador, o magnata americano se elegeu presidente da maior potência mundial