Desastre  2015/Meio Ambiente

No dia 5 de novembro de 2015, Mônica Santos, 31 anos, saiu de Bento Gonçalves rumo a Mariana, onde trabalha como auxiliar num dentista. Nunca mais voltou para casa. A enxurrada de lama da barragem do Fundão, um grande depósito de rejeitos do processo de mineração da Samarco, varreu a pequena cidade onde morava. Nada menos do que 32 milhões de toneladas de detritos de areia, ferro e lama passaram por cima de casas, carros, igreja, escolas e sítios. Também mataram pessoas, animais, vegetação e rios, num percurso de 650 quilômetros, até desaguar na divisa entre Minas Gerais e o Espírito Santo. “Você sai para trabalhar e não consegue nem voltar”, diz Mônica.

Ao tomar conhecimento do acidente, tentou chegar com a mãe, que também trabalha em Mariana, em Bento Gonçalves. Foram só até a metade da estrada: não havia passagem e a lama levava tudo. “Vimos parte da casa da minha avó boiando e dando barrigada numa outra casa”, afirma. “Pensávamos que todo mundo que conhecíamos tinha morrido. Naquela noite, dormimos na estrada: não tínhamos para onde voltar.” Segundo relatório do governo de Minas Gerais, 320 mil pessoas foram atingidas, 18 morreram e uma continua desaparecida.

Foi a maior tragédia ambiental do País e, certamente, uma das maiores do mundo. As perdas são incalculáveis, sobretudo as ligadas ao meio ambiente. Segundo o Ibama, pelo menos 12 espécies de peixes do Rio Doce podem ter sido extintas.

Danos irrecuperáveis

A Samarco, controlada pelas mineradoras Vale e BHP Billington, fez um acordo para a recuperação da bacia do Rio Doce. Nos próximos três anos, aportará R$ 4,4 bilhões na fundação Renova, que pretende compensar os prejuízos sociais, ambientais e econômicos da tragédia por 15 anos. Caso a Samarco não honre o acordo, suas controladoras arcarão com os custos, já que, sem operar desde o acidente, ela não tem conseguido pagar os credores.

O desastre de Mariana era evitável. Especialistas dizem que se as barragens tivessem sido monitoradas adequadamente, a ameaça de rompimento teria sido percebida. De acordo com a própria empresa, outras duas barragens ainda oferecem riscos. Um ano depois, resíduos continuam indo para os rios da região.

Nota oficial da Samarco

“A Samarco informa que todas as atuais estruturas do sistema de contenção em Germano estão estáveis. As barragens estão sendo monitoradas em tempo real por meio de radares e inspeções diárias. Além disso, estão sendo utilizados drones, escaneamento a laser e a instrumentação geotécnica existente para a avaliação técnica, sendo que, para a barragem de Germano, as leituras são automatizadas, com aquisição de dados online.”

“Pensamos que todo mundo que conhecíamos tinha morrido” Mônica Santos, 31 anos, auxiliar odontológico
“Pensamos que todo mundo que conhecíamos tinha morrido” Mônica Santos, 31 anos, auxiliar odontológico