25/11/2016 - 18:00
China 1989/Mundo
Na madrugada de 3 para 4 de junho de 1989, uma multidão protestava na Praça da Paz Celestial, na China. As pessoas pediam mais abertura política, num momento em que o mundo comunista se aproximava do colapso. Meses depois, cairia o Muro de Berlim, mas a população de Pequim não pôde experimentar as mudanças pelas quais passariam os alemães. Ao contrário, centenas, talvez milhares de manifestantes não chegaram sequer a viver o dia seguinte. Um número incerto de pessoas foi executado após o governo mandar ao local tropas com ordem para matar. “A imagem do homem parado na frente de uma coluna de tanques simbolizou que indivíduos poderiam desafiar governos”, diz Oliver Stuenkel, 34 anos, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo. “Mas as expectativas da época foram frustradas.”
Potência
Desde então, a China viveu um intenso desenvolvimento econômico. Reformas foram iniciadas nos anos 1970, após a morte de Mao Tsé-Tung. Os primeiros efeitos aparecerem na década seguinte. Mas foi só depois do massacre que ficou claro para a comunidade internacional que o país havia criado os fundamentos para se tornar uma liderança. Taxas de crescimento superiores a 10% anuais ao longo de duas décadas fizeram com que ela deixasse para trás o rol dos pobres e se tornasse a segunda maior potência do mundo. Hoje, está em vias de ultrapassar os Estados Unidos em relevância política e financeira. “Durante os protestos da Praça da Paz Celestial o governo tomou um susto muito grande”, afirma Stuenkel. “E percebeu que só por meio do crescimento econômico o partido comunista poderia manter a legitimidade.”
Por outro lado, o governo chinês viu o episódio como uma grande motivação para aumentar a repressão. Politicamente, houve regressão. As vozes moderadas chinesas perderam força após o massacre. Até hoje, uma pesada censura interna recai sobre o massacre. “Muitos chineses não têm conhecimento sobre o que ocorreu”, diz Stuenkel. “Existe uma tentativa sistemática de apagar esse dia da memória nacional.”

- No ano em que a revista ISTOÉ completa 40 anos, relembre 40 fatos que transformaram o Brasil e o mundo nas últimas quatro décadas
- 1976 – A ditadura e a tortura escancarada: os assassinatos de Vladimir Herzog e Fiel Filho nos porões da ditadura deram início à implosão do regime militar
- 1978 – Nasce o primeiro bebê de proveta: a fertilização in vitro trouxe aos casais com problemas reprodutivos a chance de realizar o sonho de ter filhos
- 1978 – As greves que mudaram o Brasil: movimento no ABC colocou os trabalhadores no processo de democratização e apresentou ao País lideranças como o sindicalista Lula
- 1981 – As bombas que explodiram o regime: ataque frustrado no Riocentro evidenciou a radicalização nas Forças Armadas e a urgência da redemocratização
- 1982 – Descoberto o vírus da Aids: a epidemia surgiu avassaladora – e cercada de preconceito. De ameaça mortal, tornou-se doença crônica
- 1983 – Diretas já, o clamor das ruas: num movimento de mobilização inédito, brasileiros exigiram a volta da democracia e o direito de eleger seus presidentes
- 1985 – O Brasil perde Tancredo Neves: a morte de Tancredo às vésperas da posse como presidente da República causou comoção nacional, num reencontro da população com civismo
- 1986 – A tragédia em Chernobyl: acidentes em usinas nucleares aterrorizaram o mundo, mas o uso dessa forma de energia continuou crescendo
- 1988 – A Constituição cidadã: carta Magna garantiu direitos básicos a todos os brasileiros, mas faltou discriminar a origem dos recursos para que o Estado cumpra seus deveres
- 1988 – Chico Mendes, o mártir dos povos da floresta: ele conseguiu levar adiante a implantação das reservas extrativistas e seu assassinato revelou a violência agrária no Brasil
- 1989 – O massacre na Praça da Paz Celestial: após a violenta repressão aos manifestantes que pediam abertura política, governo chinês buscou a legitimidade no crescimento econômico
- 1989 – A frustração com Collor: primeiro presidente eleito após o fim do regime militar, Fernando Collor de Mello traiu seus eleitores ao confiscar a poupança e gerar crise gigantesca
- 1989 – A queda do muro de Berlim: o maior símbolo da divisão mundial foi derrubado por populares em ato que marcou o fim da Guerra Fria e o colapso do império comunista da URSS
- 1991 – A invenção da internet: depois de mudar a economia e os hábitos das pessoas, a internet deverá avançar ainda mais sobre os serviços e os objetos
- 1992 – Collor, o primeiro impeachment: afogado em um mar de corrupção e com os caras-pintadas nas ruas, Fernando Collor renunciou antes de ser cassado pelo Congresso
- 1992 – A revolução do Euro: em continente marcado por cicatrizes de guerras, UE trouxe riqueza e liberdade aos países da região
- 1994 – Real, o plano que funcionou: proposta de FHC estabiliza a inflação e coloca a economia brasileira em outro patamar
- 1994 – O Brasil chora a morte de Senna: reverenciado em todo o mundo, o piloto se tornou um exemplo de determinação e superação de limites
- 2001 – 11 de Setembro, o ataque que mudou o mundo: atentados marcam o avanço do extremismo sobre o Ocidente e criam era de insegurança
- 2003 – Lula, o metalúrgico chega à Presidência: inclusão social e ascensão da classe média marcaram o governo Lula, que acabou manchado pela corrupção
- 2005 – Mensalão, o País pune os corruptos: o PT é flagrado comprando apoio político e seus principais líderes são condenados
- 2007 – A revolução do iPhone: Steve Jobs redefiniu a forma de interagir e transformou os negócios ao lançar um aparelho de design elegante e aberto a novos aplicativos
- 2008 – Crise financeira de 2008, a quebra do século: falência do Lehman Brothers foi o estopim da maior crise econômica mundial desde a recessão de 1929
- 2008 – Barack Obama, o estadista: a histórica ascensão dos negros, os pactos climáticos, a reaproximação de Cuba: Obama mudou o olhar do mundo para a América
- 2009 – Adeus a Michael Jackson: morte do rei do pop chocou o mundo e pôs em debate o uso excessivo de drogas lícitas
- 2010 – A primavera árabe: convocado pela internet e pelas redes sociais, levante inédito derrubou chefes de Estado opressores, mas gerou guerras civis sangrentas e crise migratória
- 2012 – Malala e a revanche feminina: o atentado contra Malala deu voz a um novo feminismo e expôs ao mundo a realidade de 65 milhões de meninas que continuam longe das escolas
- 2013 – Junho de 2013, o grito das ruas: as manifestações que levaram milhões de jovens de volta às ruas pautaram uma nova forma de olhar a política e a ética
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- 2014 – Sergio Moro passa o Brasil a limpo: a Lava Jato mostrou a gravidade da corrupção no Brasil ao mandar para a cadeia empresários e políticos que se imaginavam inatingíveis
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