25/11/2016 - 18:00
Impeachment 2016/Brasil
Reeleita em outubro de 2014 por uma margem estreita de votos, a presidente Dilma Rousseff conseguiu a proeza de, em poucos meses de mandato, afundar o País na mais grave crise moral, política e econômica da história recente. Compelida por uma crescente pressão popular e sem condições de manter a governabilidade, em meio a uma escalada de escândalos de corrupção a tisnar a sua campanha e o seu partido, o PT, Dilma seria afastada pela Câmara em maio até ser apeada definitivamente do Planalto em 31 de agosto, por crime de responsabilidade.
Ao longo de todo o processo, a Revista ISTOÉ, na sua prática cotidiana de produzir um jornalismo investigativo, responsável e fiscalizador do poder, deu sua contribuição com reportagens exclusivas e decisivas para a deposição da petista. Mostrou a gênese das pedaladas, em agosto de 2014, ao denunciar como o governo retinha recursos e obrigava bancos públicos a arcar com benefícios sociais, revelou os empréstimos suspeitos que o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo íntimo de Lula, contraiu junto ao Banco Schahin para repassar ao PT, e publicou em primeiríssima mão a explosiva delação do ex-líder do governo, Delcídio do Amaral, numa reportagem que se converteu em divisor de águas rumo ao impedimento da presidente, quando este parecia arrefecer.

Dilma começou a enfrentar a oposição das ruas tão logo assumiu o cargo. Manifestações convocadas pela internet levaram milhões de brasileiros — contra e a favor de seu mandato — a se manifestar. Em 13 de março de 2016, mais de 3 milhões de pessoas foram ocuparam as principais avenidas do País para pedir a saída de Dilma, em todos os estados da Federação, além do Distrito Federal. A grave crise internacional começava a mostrar efeitos acentuados no Brasil, potencializados por medidas equivocadas. A presidente cometeu o erro, por exemplo, de alterar a política macroeconômica que mantinha a inflação baixa, forçando a queda nos juros. Para controlar a alta de preços, e conseguir se reeleger, manteve tarifas de energia elétrica e combustíveis artificialmente baixos — o que causou enormes prejuízos às estatais Eletrobras e Petrobras. Dilma também abriu mão de impostos para tentar beneficiar o consumo, gerando uma das maiores crises fiscais da história.
Pedaladas
Sem dinheiro, o Estado passou a usar em larga escala um artifício chamado de pedaladas fiscais. O Tesouro Nacional atrasava, de forma proposital, grandes repasses de dinheiro para bancos públicos e privados, melhorando de maneira artificial suas contas. Apesar de terem sido alertados por técnicos do governo que a manobra era irregular e feria e Lei de Responsabilidade Fiscal, o governo insistiu na prática, que levou Dilma ao seu derradeiro infortúnio. As pedaladas, em sua essência, deram combustível ao estelionato eleitoral praticado por Dilma numa das campanhas mais sórdidas desde a redemocratização. “O impeachment simbolizou uma nova consciência que está se gerando em nosso País e todas as possibilidades que isso traz. Não acaba com todos os problemas do Brasil, mas foi um passo importante na construção do País com o qual a gente sonha”, diz Janaína Lima, 32 anos, eleita vereadora em São Paulo pelo Partido Novo. Porta-voz do “Vem pra Rua” na época das mobilizações, Janaína foi escolhida como uma das jovens líderes excepcionais pelo Global Shapers, do Fórum Econômico Mundial, integra a rede Nexus Brasil da ONU e é líder do Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade).

- No ano em que a revista ISTOÉ completa 40 anos, relembre 40 fatos que transformaram o Brasil e o mundo nas últimas quatro décadas
- 1976 – A ditadura e a tortura escancarada: os assassinatos de Vladimir Herzog e Fiel Filho nos porões da ditadura deram início à implosão do regime militar
- 1978 – Nasce o primeiro bebê de proveta: a fertilização in vitro trouxe aos casais com problemas reprodutivos a chance de realizar o sonho de ter filhos
- 1978 – As greves que mudaram o Brasil: movimento no ABC colocou os trabalhadores no processo de democratização e apresentou ao País lideranças como o sindicalista Lula
- 1981 – As bombas que explodiram o regime: ataque frustrado no Riocentro evidenciou a radicalização nas Forças Armadas e a urgência da redemocratização
- 1982 – Descoberto o vírus da Aids: a epidemia surgiu avassaladora – e cercada de preconceito. De ameaça mortal, tornou-se doença crônica
- 1983 – Diretas já, o clamor das ruas: num movimento de mobilização inédito, brasileiros exigiram a volta da democracia e o direito de eleger seus presidentes
- 1985 – O Brasil perde Tancredo Neves: a morte de Tancredo às vésperas da posse como presidente da República causou comoção nacional, num reencontro da população com civismo
- 1986 – A tragédia em Chernobyl: acidentes em usinas nucleares aterrorizaram o mundo, mas o uso dessa forma de energia continuou crescendo
- 1988 – A Constituição cidadã: carta Magna garantiu direitos básicos a todos os brasileiros, mas faltou discriminar a origem dos recursos para que o Estado cumpra seus deveres
- 1988 – Chico Mendes, o mártir dos povos da floresta: ele conseguiu levar adiante a implantação das reservas extrativistas e seu assassinato revelou a violência agrária no Brasil
- 1989 – O massacre na Praça da Paz Celestial: após a violenta repressão aos manifestantes que pediam abertura política, governo chinês buscou a legitimidade no crescimento econômico
- 1989 – A frustração com Collor: primeiro presidente eleito após o fim do regime militar, Fernando Collor de Mello traiu seus eleitores ao confiscar a poupança e gerar crise gigantesca
- 1989 – A queda do muro de Berlim: o maior símbolo da divisão mundial foi derrubado por populares em ato que marcou o fim da Guerra Fria e o colapso do império comunista da URSS
- 1991 – A invenção da internet: depois de mudar a economia e os hábitos das pessoas, a internet deverá avançar ainda mais sobre os serviços e os objetos
- 1992 – Collor, o primeiro impeachment: afogado em um mar de corrupção e com os caras-pintadas nas ruas, Fernando Collor renunciou antes de ser cassado pelo Congresso
- 1992 – A revolução do Euro: em continente marcado por cicatrizes de guerras, UE trouxe riqueza e liberdade aos países da região
- 1994 – Real, o plano que funcionou: proposta de FHC estabiliza a inflação e coloca a economia brasileira em outro patamar
- 1994 – O Brasil chora a morte de Senna: reverenciado em todo o mundo, o piloto se tornou um exemplo de determinação e superação de limites
- 2001 – 11 de Setembro, o ataque que mudou o mundo: atentados marcam o avanço do extremismo sobre o Ocidente e criam era de insegurança
- 2003 – Lula, o metalúrgico chega à Presidência: inclusão social e ascensão da classe média marcaram o governo Lula, que acabou manchado pela corrupção
- 2005 – Mensalão, o País pune os corruptos: o PT é flagrado comprando apoio político e seus principais líderes são condenados
- 2007 – A revolução do iPhone: Steve Jobs redefiniu a forma de interagir e transformou os negócios ao lançar um aparelho de design elegante e aberto a novos aplicativos
- 2008 – Crise financeira de 2008, a quebra do século: falência do Lehman Brothers foi o estopim da maior crise econômica mundial desde a recessão de 1929
- 2008 – Barack Obama, o estadista: a histórica ascensão dos negros, os pactos climáticos, a reaproximação de Cuba: Obama mudou o olhar do mundo para a América
- 2009 – Adeus a Michael Jackson: morte do rei do pop chocou o mundo e pôs em debate o uso excessivo de drogas lícitas
- 2010 – A primavera árabe: convocado pela internet e pelas redes sociais, levante inédito derrubou chefes de Estado opressores, mas gerou guerras civis sangrentas e crise migratória
- 2012 – Malala e a revanche feminina: o atentado contra Malala deu voz a um novo feminismo e expôs ao mundo a realidade de 65 milhões de meninas que continuam longe das escolas
- 2013 – Junho de 2013, o grito das ruas: as manifestações que levaram milhões de jovens de volta às ruas pautaram uma nova forma de olhar a política e a ética
- 2013 – Francisco, o Papa do povo: após a renúncia de Bento XVII, o argentino Jorge Mario Bergoglio torna-se o papa Francisco, com um discurso de inclusão, humildade e simplicidade
- 2013 – Mandela, símbolo da luta pela liberdade: o legado do ativista que combateu o regime segregacionista do Apartheid e liderou a pacificação de um país ainda dividido pela cor da pele
- 2014 – Sergio Moro passa o Brasil a limpo: a Lava Jato mostrou a gravidade da corrupção no Brasil ao mandar para a cadeia empresários e políticos que se imaginavam inatingíveis
- 2014 – O maior vexame da história: o Brasil sofreu para provar que era capaz de organizar uma Copa, mas penaria ainda mais em campo, com a derrota por 7 a 1 para a Alemanha
- 2015 – Crise dos refugiados, a catástrofe do nosso tempo: problema coloca 65 milhões de pessoas vagando e revela o crescimento da xenofobia e da extrema direita
- 2015 – Desastre de Mariana e o Brasil na lama: o rompimento de uma barragem da Samarco em Mariana, MG, provocou a maior tragédia ambiental da história do Brasil
- 2015 – Atentados em série transformaram a França em principal vítima do radicalismo islâmico, expondo a dificuldade em antecipar as ações dos terroristas
- 2016 – O impeachment de Dilma Rousseff: impopular, incapaz de manter a governabilidade e em meio a escândalos, a primeira presidente eleita no País teve seu mandato cassado
- 2016 – Michel Temer presidente: peemedebista chega ao poder com o desafio de recolocar o País nos trilhos
- 2016 – Brexit, o fim de um sonho: britânicos votam pela saída da União Europeia e podem dar início ao esfacelamento do bloco
- 2016 – Rio-2016, o resgate do orgulho nacional: Olimpíada no Rio supera desconfiança mundial, deixa legado histórico e revela novos heróis do esporte brasileiro
- 2016 – A vitória de Donald Trump: com um discurso xenófobo, protecionista e ameaçador, o magnata americano se elegeu presidente da maior potência mundial