Protestos 2013/Brasil

As manifestações de junho de 2013 começaram como qualquer outro protesto movido por insatisfação popular: o aumento nas tarifas de transporte público nas grandes capitais brasileiras. Depois de terem sido reprimidas com truculência pela polícia em São Paulo, porém, ganharam simpatia da população e deram origem à maior manifestação de rua desde o impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992. “As jornadas de junho de 2013 foram um momento de catarse no tecido social brasileiro”, diz o jornalista e doutor em Ciências Políticas Leonardo Sakamoto, 39 anos. “A fagulha foi a onda de protestos pela redução de tarifas, mas as pessoas trouxeram suas outras insatisfações para as ruas.”

Os motivos eram difusos. “Ninguém sabia o que queria, apenas o que não queria”, afirma Sakamoto. Parte de uma geração que havia se beneficiado da universalização sem qualidade da saúde e da educação promovidas pela Constituição de 1988, da estabilidade econômica do Real, do acesso ao consumo sem bons empregos e sem se sentir representada na política, os jovens foram às ruas e conseguiram impedir o aumento nas passagens de ônibus.

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EM SÃO PAULO Garota é agredida pela polícia: sonho de um novo País (Crédito:fotos: Ig Aronovich/Lost Art; Eduardo Anizelli/Folhapress; ANDRE DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO)
Foto: Ig Aronovich/Lost Art; Eduardo Anizelli/Folhapress; ANDRE DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO

Abriram também as portas para que outros grupos se sentissem no direito de se manifestar. “As jornadas foram um marco na reocupação do espaço público, por direito e natureza, para a discussão sobre a polis, a vida em sociedade”, afirma Sakamoto. “Outros grupos que estavam mais quietos, inclusive alguns extremamente conservadores, também tomaram as ruas, estimulados por convocações pela internet.” Apesar de ter anunciado várias medidas que atenderiam às reivindicações, a esquerda partidária se afastou do movimento, após lê-lo como uma crítica ao governo federal, do PT. “Foi um erro fatal nos momentos que se seguiram”, diz ele.

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EM BRASÍLIA Invasão do Palácio do Itamaraty: revolta popular (Crédito:fotos: Ig Aronovich/Lost Art; Eduardo Anizelli/Folhapress; ANDRE DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO)
Foto: Ig Aronovich/Lost Art; Eduardo Anizelli/Folhapress; ANDRE DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO

Mais estragos

Assim, enquanto movimentos de esquerda e de direita, de outras faixas etárias e estratos sociais não saíram mais das ruas, até depois do impeachment de Dilma Rousseff, os jovens participantes das manifestações de 2013 não estavam lá representados. De acordo com a análise de Sakamoto, eles voltaram às ruas esporadicamente, ao se sentirem envolvidos pelas demandas. Como, por exemplo, quando houve o fechamento das escolas secundárias em São Paulo, a tentativa de mudanças de regras que limitavam ainda mais o direito ao aborto ou no movimento “Fora Cunha”.

“Eles são danados e conseguem o que querem, mas ainda não voltaram em peso como aconteceu em 2013”, afirma Sakamoto. “O que vai levá-los a voltar ainda não se sabe, mas na hora em que conseguirem resolver os desafios de ser um movimento horizontal, sem grandes líderes e sem carro de som, vão causar mais estrago — no bom sentido.” E, assim, continuarão mudando a história do Brasil.

“As jornadas de 2013 foram um marco na reocupação do espaço público para a discussão sobre a vida em sociedade” Leonardo Sakamoto, 39 anos, doutor em Ciências Políticas
“As jornadas de 2013 foram um marco na reocupação do espaçopúblico para a discussão sobre a vida em sociedade” Leonardo Sakamoto, 39 anos,doutor em Ciências Políticas (Crédito:fotos: Ig Aronovich/Lost Art; Eduardo Anizelli/Folhapress; ANDRE DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO)