25/11/2016 - 18:00
Brasil/Eleição direta 1989
Depois de 21 anos de regime militar e cinco do governo de transição de José Sarney, os brasileiros voltaram às urnas para escolher o presidente da República de forma direta. Na última vez em que o País havia realizado uma eleição, Jânio Quadros foi o eleito presidente em 1960. A eleição de Collor foi acirrada e cheia de paixões. Foram para o segundo turno o então governador de Alagoas, que falava em “caça aos marajás”, e o líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, que falava em distribuição de renda seguindo um programa de esquerda. Venceu Collor, aos 42 anos. O mais jovem presidente da história do País.
Um dia depois da posse, em 16 de março de 1990, veio o banho de água fria. O presidente que prometia resolver os problemas dos “descamisados”, dos mais pobres, anunciou o confisco da poupança e das aplicações depositadas em bancos. Os correntistas só poderiam sacar o equivalente a 50 mil cruzados novos, a desvalorizada moeda vigente. Qualquer valor acima desse teto só poderia ser sacado 18 meses depois, com correção e juros de 6% ao ano. O valor equivaleria hoje a cerca de R$ 5 mil. Em sua biografia, “Zélia, uma paixão”, a economista que respondia pelo Ministério da Fazenda admitiu que a escolha da cifra foi resultado de um sorteio.
Seguiu-se um desespero total, sobretudo da classe média. “Collor escolheu muito mal sua primeira equipe econômica”, diz Emerson Marçal, 43 anos, coordenador de Macroeconomia Aplicada da FGV. “Eram pessoas que não estavam à altura do desafio de resolver a grave crise econômica herdada do governo Sarney. O combate à inflação teve resultado zero com o Plano Collor”.
“Carroças”
No ano anterior à posse de Collor, o aumento de preços havia atingido impressionantes 1.782%. A equipe econômica liderada por Zélia Cardoso de Mello prometeu um choque de combate à inflação, um tiro de canhão no dragão inflacionário. “O confisco da poupança não teve o menor sentido do ponto de visto econômico”, explicou Marçal. “A única coisa que Zélia conseguiu foi gerar uma brutal recessão. Em 1990, o PIB recuou 4,5%. Mais do que herança, o Plano Collor deixou um trauma, até hoje, entre os aplicadores da caderneta de poupança.
Das poucas iniciativas positivas da gestão de Collor destacam-se o início do processo de desestatização e a abertura da economia brasileira, que permanecia entre as mais fechadas do mundo em plena era da globalização. Foi quando o Brasil passou a ter acesso a itens importados, como os automóveis que substituíram nossas “carroças” — como o próprio Collor chamava os veículos fabricados no País.

- No ano em que a revista ISTOÉ completa 40 anos, relembre 40 fatos que transformaram o Brasil e o mundo nas últimas quatro décadas
- 1976 – A ditadura e a tortura escancarada: os assassinatos de Vladimir Herzog e Fiel Filho nos porões da ditadura deram início à implosão do regime militar
- 1978 – Nasce o primeiro bebê de proveta: a fertilização in vitro trouxe aos casais com problemas reprodutivos a chance de realizar o sonho de ter filhos
- 1978 – As greves que mudaram o Brasil: movimento no ABC colocou os trabalhadores no processo de democratização e apresentou ao País lideranças como o sindicalista Lula
- 1981 – As bombas que explodiram o regime: ataque frustrado no Riocentro evidenciou a radicalização nas Forças Armadas e a urgência da redemocratização
- 1982 – Descoberto o vírus da Aids: a epidemia surgiu avassaladora – e cercada de preconceito. De ameaça mortal, tornou-se doença crônica
- 1983 – Diretas já, o clamor das ruas: num movimento de mobilização inédito, brasileiros exigiram a volta da democracia e o direito de eleger seus presidentes
- 1985 – O Brasil perde Tancredo Neves: a morte de Tancredo às vésperas da posse como presidente da República causou comoção nacional, num reencontro da população com civismo
- 1986 – A tragédia em Chernobyl: acidentes em usinas nucleares aterrorizaram o mundo, mas o uso dessa forma de energia continuou crescendo
- 1988 – A Constituição cidadã: carta Magna garantiu direitos básicos a todos os brasileiros, mas faltou discriminar a origem dos recursos para que o Estado cumpra seus deveres
- 1988 – Chico Mendes, o mártir dos povos da floresta: ele conseguiu levar adiante a implantação das reservas extrativistas e seu assassinato revelou a violência agrária no Brasil
- 1989 – O massacre na Praça da Paz Celestial: após a violenta repressão aos manifestantes que pediam abertura política, governo chinês buscou a legitimidade no crescimento econômico
- 1989 – A frustração com Collor: primeiro presidente eleito após o fim do regime militar, Fernando Collor de Mello traiu seus eleitores ao confiscar a poupança e gerar crise gigantesca
- 1989 – A queda do muro de Berlim: o maior símbolo da divisão mundial foi derrubado por populares em ato que marcou o fim da Guerra Fria e o colapso do império comunista da URSS
- 1991 – A invenção da internet: depois de mudar a economia e os hábitos das pessoas, a internet deverá avançar ainda mais sobre os serviços e os objetos
- 1992 – Collor, o primeiro impeachment: afogado em um mar de corrupção e com os caras-pintadas nas ruas, Fernando Collor renunciou antes de ser cassado pelo Congresso
- 1992 – A revolução do Euro: em continente marcado por cicatrizes de guerras, UE trouxe riqueza e liberdade aos países da região
- 1994 – Real, o plano que funcionou: proposta de FHC estabiliza a inflação e coloca a economia brasileira em outro patamar
- 1994 – O Brasil chora a morte de Senna: reverenciado em todo o mundo, o piloto se tornou um exemplo de determinação e superação de limites
- 2001 – 11 de Setembro, o ataque que mudou o mundo: atentados marcam o avanço do extremismo sobre o Ocidente e criam era de insegurança
- 2003 – Lula, o metalúrgico chega à Presidência: inclusão social e ascensão da classe média marcaram o governo Lula, que acabou manchado pela corrupção
- 2005 – Mensalão, o País pune os corruptos: o PT é flagrado comprando apoio político e seus principais líderes são condenados
- 2007 – A revolução do iPhone: Steve Jobs redefiniu a forma de interagir e transformou os negócios ao lançar um aparelho de design elegante e aberto a novos aplicativos
- 2008 – Crise financeira de 2008, a quebra do século: falência do Lehman Brothers foi o estopim da maior crise econômica mundial desde a recessão de 1929
- 2008 – Barack Obama, o estadista: a histórica ascensão dos negros, os pactos climáticos, a reaproximação de Cuba: Obama mudou o olhar do mundo para a América
- 2009 – Adeus a Michael Jackson: morte do rei do pop chocou o mundo e pôs em debate o uso excessivo de drogas lícitas
- 2010 – A primavera árabe: convocado pela internet e pelas redes sociais, levante inédito derrubou chefes de Estado opressores, mas gerou guerras civis sangrentas e crise migratória
- 2012 – Malala e a revanche feminina: o atentado contra Malala deu voz a um novo feminismo e expôs ao mundo a realidade de 65 milhões de meninas que continuam longe das escolas
- 2013 – Junho de 2013, o grito das ruas: as manifestações que levaram milhões de jovens de volta às ruas pautaram uma nova forma de olhar a política e a ética
- 2013 – Francisco, o Papa do povo: após a renúncia de Bento XVII, o argentino Jorge Mario Bergoglio torna-se o papa Francisco, com um discurso de inclusão, humildade e simplicidade
- 2013 – Mandela, símbolo da luta pela liberdade: o legado do ativista que combateu o regime segregacionista do Apartheid e liderou a pacificação de um país ainda dividido pela cor da pele
- 2014 – Sergio Moro passa o Brasil a limpo: a Lava Jato mostrou a gravidade da corrupção no Brasil ao mandar para a cadeia empresários e políticos que se imaginavam inatingíveis
- 2014 – O maior vexame da história: o Brasil sofreu para provar que era capaz de organizar uma Copa, mas penaria ainda mais em campo, com a derrota por 7 a 1 para a Alemanha
- 2015 – Crise dos refugiados, a catástrofe do nosso tempo: problema coloca 65 milhões de pessoas vagando e revela o crescimento da xenofobia e da extrema direita
- 2015 – Desastre de Mariana e o Brasil na lama: o rompimento de uma barragem da Samarco em Mariana, MG, provocou a maior tragédia ambiental da história do Brasil
- 2015 – Atentados em série transformaram a França em principal vítima do radicalismo islâmico, expondo a dificuldade em antecipar as ações dos terroristas
- 2016 – O impeachment de Dilma Rousseff: impopular, incapaz de manter a governabilidade e em meio a escândalos, a primeira presidente eleita no País teve seu mandato cassado
- 2016 – Michel Temer presidente: peemedebista chega ao poder com o desafio de recolocar o País nos trilhos
- 2016 – Brexit, o fim de um sonho: britânicos votam pela saída da União Europeia e podem dar início ao esfacelamento do bloco
- 2016 – Rio-2016, o resgate do orgulho nacional: Olimpíada no Rio supera desconfiança mundial, deixa legado histórico e revela novos heróis do esporte brasileiro
- 2016 – A vitória de Donald Trump: com um discurso xenófobo, protecionista e ameaçador, o magnata americano se elegeu presidente da maior potência mundial