25/11/2016 - 18:00
Ciência/Saúde 1982
Poucas epidemias causaram tanto impacto na população mundial quanto a da Aids. De um lado, os jornais noticiavam a morte de grandes ídolos pela doença que, sem cura, causava efeitos devastadores. Rock Hudson, Freddie Mercury, Cazuza, Renato Russo, Lauro Corona, Sandra Bréa, Henfil, Betinho e muitos outros apareciam em público magros, com sarcomas, enfrentando infecções diversas e debilidade generalizada. De outro, havia um estigma. No início, a Aids foi associada à homossexualismo masculina e muitos viam a doença como uma espécie de punição moral. Até ser desvendada, a Aids ganhou a pejorativa alcunha de “câncer gay”.
Como se descobriu depois, o grupo de risco era muito maior. O vírus HIV, causador da Síndrome da Deficiência Imunológica Adquirida, era transmitido por via sexual, mas também por transfusões de sangue e outros fluídos. Identificado como um retrovírus, o HIV se aloja nas células de defesa do corpo e faz com que uma guerra se instale entre elas — daí a falência do sistema imunológico em lutar contra as infecções.
Projetos de vida
Por conta da devastação causada pela enfermidade, cientistas de todo o mundo concentraram esforços em desvendá-la. Em setembro de 1982, Luc Montaigner, do Instituto Pasteur, de Paris, isolou o vírus. Três décadas depois, o mal foi transformado numa doença crônica, graças à eficiência de remédios que inibem a ação do HIV no interior dos linfócitos. “Hoje, meus projetos de vida não incluem a Aids”, diz Ozzy Cerqueira, 28 anos, advogado e mestre em Saúde Pública, que trabalha na Associação Brasileira de Interdisciplinar de Aids (Abia). Portador do vírus há oito anos, Ozzy diz que seus problemas são outros — não o HIV. “Acho que, do mesmo jeito que aconteceu [ser infectado], pode desacontecer, tanto do ponto de vista simbólico quanto no concreto, com o surgimento de uma nova medicação”, afirma. “Essa pode ser apenas uma história para contar para os netos.”
A convivência com o vírus, porém, tem um lado negativo. Entre 2006 e 2015, o número de jovens infectados aumentou 40% no País, segundo o Ministério da Saúde. “Quando a epidemia deixou de ser uma ameaça, ela perdeu a visibilidade e as escolas diminuíram o espaço para a discussão de sexualidade, gravidez, doenças transmissíveis e gênero”, diz ele.
Outro problema, afirma, foi o fato de o Brasil ter perdido o protagonismo nas campanhas de combate à doença. “Tivemos um momento histórico, no início da epidemia, em que o Brasil foi muito pioneiro: enquanto muitos países nem falavam do assunto, aqui já se distribuía o medicamento de graça”, diz Cerqueira. “A conscientização para a prevenção já não é a mesma e há casos de medicamentos usados aqui que já são proibidos nos EUA. Não temos mais um programa de ponta”, alerta.

portador do vírus HIV
- No ano em que a revista ISTOÉ completa 40 anos, relembre 40 fatos que transformaram o Brasil e o mundo nas últimas quatro décadas
- 1976 – A ditadura e a tortura escancarada: os assassinatos de Vladimir Herzog e Fiel Filho nos porões da ditadura deram início à implosão do regime militar
- 1978 – Nasce o primeiro bebê de proveta: a fertilização in vitro trouxe aos casais com problemas reprodutivos a chance de realizar o sonho de ter filhos
- 1978 – As greves que mudaram o Brasil: movimento no ABC colocou os trabalhadores no processo de democratização e apresentou ao País lideranças como o sindicalista Lula
- 1981 – As bombas que explodiram o regime: ataque frustrado no Riocentro evidenciou a radicalização nas Forças Armadas e a urgência da redemocratização
- 1982 – Descoberto o vírus da Aids: a epidemia surgiu avassaladora – e cercada de preconceito. De ameaça mortal, tornou-se doença crônica
- 1983 – Diretas já, o clamor das ruas: num movimento de mobilização inédito, brasileiros exigiram a volta da democracia e o direito de eleger seus presidentes
- 1985 – O Brasil perde Tancredo Neves: a morte de Tancredo às vésperas da posse como presidente da República causou comoção nacional, num reencontro da população com civismo
- 1986 – A tragédia em Chernobyl: acidentes em usinas nucleares aterrorizaram o mundo, mas o uso dessa forma de energia continuou crescendo
- 1988 – A Constituição cidadã: carta Magna garantiu direitos básicos a todos os brasileiros, mas faltou discriminar a origem dos recursos para que o Estado cumpra seus deveres
- 1988 – Chico Mendes, o mártir dos povos da floresta: ele conseguiu levar adiante a implantação das reservas extrativistas e seu assassinato revelou a violência agrária no Brasil
- 1989 – O massacre na Praça da Paz Celestial: após a violenta repressão aos manifestantes que pediam abertura política, governo chinês buscou a legitimidade no crescimento econômico
- 1989 – A frustração com Collor: primeiro presidente eleito após o fim do regime militar, Fernando Collor de Mello traiu seus eleitores ao confiscar a poupança e gerar crise gigantesca
- 1989 – A queda do muro de Berlim: o maior símbolo da divisão mundial foi derrubado por populares em ato que marcou o fim da Guerra Fria e o colapso do império comunista da URSS
- 1991 – A invenção da internet: depois de mudar a economia e os hábitos das pessoas, a internet deverá avançar ainda mais sobre os serviços e os objetos
- 1992 – Collor, o primeiro impeachment: afogado em um mar de corrupção e com os caras-pintadas nas ruas, Fernando Collor renunciou antes de ser cassado pelo Congresso
- 1992 – A revolução do Euro: em continente marcado por cicatrizes de guerras, UE trouxe riqueza e liberdade aos países da região
- 1994 – Real, o plano que funcionou: proposta de FHC estabiliza a inflação e coloca a economia brasileira em outro patamar
- 1994 – O Brasil chora a morte de Senna: reverenciado em todo o mundo, o piloto se tornou um exemplo de determinação e superação de limites
- 2001 – 11 de Setembro, o ataque que mudou o mundo: atentados marcam o avanço do extremismo sobre o Ocidente e criam era de insegurança
- 2003 – Lula, o metalúrgico chega à Presidência: inclusão social e ascensão da classe média marcaram o governo Lula, que acabou manchado pela corrupção
- 2005 – Mensalão, o País pune os corruptos: o PT é flagrado comprando apoio político e seus principais líderes são condenados
- 2007 – A revolução do iPhone: Steve Jobs redefiniu a forma de interagir e transformou os negócios ao lançar um aparelho de design elegante e aberto a novos aplicativos
- 2008 – Crise financeira de 2008, a quebra do século: falência do Lehman Brothers foi o estopim da maior crise econômica mundial desde a recessão de 1929
- 2008 – Barack Obama, o estadista: a histórica ascensão dos negros, os pactos climáticos, a reaproximação de Cuba: Obama mudou o olhar do mundo para a América
- 2009 – Adeus a Michael Jackson: morte do rei do pop chocou o mundo e pôs em debate o uso excessivo de drogas lícitas
- 2010 – A primavera árabe: convocado pela internet e pelas redes sociais, levante inédito derrubou chefes de Estado opressores, mas gerou guerras civis sangrentas e crise migratória
- 2012 – Malala e a revanche feminina: o atentado contra Malala deu voz a um novo feminismo e expôs ao mundo a realidade de 65 milhões de meninas que continuam longe das escolas
- 2013 – Junho de 2013, o grito das ruas: as manifestações que levaram milhões de jovens de volta às ruas pautaram uma nova forma de olhar a política e a ética
- 2013 – Francisco, o Papa do povo: após a renúncia de Bento XVII, o argentino Jorge Mario Bergoglio torna-se o papa Francisco, com um discurso de inclusão, humildade e simplicidade
- 2013 – Mandela, símbolo da luta pela liberdade: o legado do ativista que combateu o regime segregacionista do Apartheid e liderou a pacificação de um país ainda dividido pela cor da pele
- 2014 – Sergio Moro passa o Brasil a limpo: a Lava Jato mostrou a gravidade da corrupção no Brasil ao mandar para a cadeia empresários e políticos que se imaginavam inatingíveis
- 2014 – O maior vexame da história: o Brasil sofreu para provar que era capaz de organizar uma Copa, mas penaria ainda mais em campo, com a derrota por 7 a 1 para a Alemanha
- 2015 – Crise dos refugiados, a catástrofe do nosso tempo: problema coloca 65 milhões de pessoas vagando e revela o crescimento da xenofobia e da extrema direita
- 2015 – Desastre de Mariana e o Brasil na lama: o rompimento de uma barragem da Samarco em Mariana, MG, provocou a maior tragédia ambiental da história do Brasil
- 2015 – Atentados em série transformaram a França em principal vítima do radicalismo islâmico, expondo a dificuldade em antecipar as ações dos terroristas
- 2016 – O impeachment de Dilma Rousseff: impopular, incapaz de manter a governabilidade e em meio a escândalos, a primeira presidente eleita no País teve seu mandato cassado
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- 2016 – Brexit, o fim de um sonho: britânicos votam pela saída da União Europeia e podem dar início ao esfacelamento do bloco
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