Crise Humanitária   2015/Mundo

Desde a Segunda Guerra Mundial, uma catástrofe humanitária não produzia cenas tão chocantes quanto a crise dos refugiados. Seja do menino sírio Aylan Kurdi, de três anos de idade, bem vestido e com o rosto dentro da água, após ter se afogado quando sua família tentava fazer a travessia do Mediterrâneo. Ou de Omran Daqneesh, outro garoto de quatro anos de idade, filmado enquanto limpava o sangue do rosto, dentro de uma ambulância, após sua casa ser bombardeada em Aleppo. Ou as imagens da cidade completamente destruída. Ou ainda a horda de 65,3 milhões de refugiados, obrigados a deixar seus países de origem, em consequências de guerras ou perseguições e vagando pelo mundo, segundo a ONU.

“Os países ocidentais precisam perceber que esse problema vai durar décadas e não se resolverá em apenas uma geração”, afirma Charly Kongo, 35 anos, refugiado congolês. “As pessoas têm o direito de fugir quando se sentem em perigo e não veem perspectiva de futuro. No passado, os europeus já fugiram pelos mesmos motivos que nós, seja por guerra, fome ou perseguição étnica.”

Em marcha Refugiados tentam se afastar das zonas de conflito: na Síria, 7,6 milhões de pessoas deixaram suas casas
EM MARCHA Refugiados tentam se afastar das zonas de conflito: na Síria, 7,6 milhões de pessoas deixaram suas casas

No caso da Síria, o conflito começou como um levante da Primavera Árabe contra o líder ditatorial Bashar al-Assad e se transformou numa guerra civil brutal. O conflito foi além dos grupos pró e contra o governo e tornou-se uma guerra étnica entre xiitas e sunitas, com o envolvimento de grupos jihadistas, incluindo o radical Estado Islâmico. Países vizinhos e as maiores potências do mundo também entraram na briga. Metade da população do país — 11 milhões de pessoas — ficou desabrigada. Com medo dos conflitos, que também envolveram crimes de guerra e armas químicas, 7,6 milhões de pessoas deixaram suas casas. Maior grupo de refugiados, há 5 milhões de sírios pedindo asilo a outros países.

Aylan kurdi - O menino sírio se tornou o símbolo da tragédia de milhares de mortos na travessia do Mediterrâneo
AYLAN KURDI O menino sírio se tornou o símbolo da tragédia de milhares de mortos na travessia do Mediterrâneo

Conflito extremo

Uma série de outros países também vive situações de conflito extremo, como o Afeganistão, de onde vem o segundo maior grupo de refugiados. No continente africano, há ainda 4,4 milhões deles, provenientes principalmente da Somália, Sudão do Sul, República Centro Africana e República Democrática do Congo, onde nasceu Charly.

Enfermeiro de formação, ele conseguiu seu visto para o Brasil após os conflitos das eleições de 2008. Com o aumento dos pedidos, ele diz que as permissões tornaram-se mais difíceis e que em um dia, quando há um conflito num país vizinho, o Congo recebe mais refugiados do que o Brasil num ano inteiro. “O primeiro impacto que todos estamos vendo é o aumento do populismo e da xenofobia, o rejeitar ao outro, o racismo, o crescimento da extrema direita”, afirma ele, que trabalha num hotel, casou-se com uma brasileira, tem um filho de dois anos e cursa faculdade de turismo. “Não chegamos para roubar o trabalho, mas para dar nossa contribuição ao crescimento da economia e do País.”

“Não chegamos para roubar o trabalho, mas para contribuir com o crescimento do país” Charly Kongo, 35 anos, refugiado da República Democrática do Congo
“Não chegamos para roubar o trabalho, mas para contribuir com o crescimento do país” Charly Kongo, 35 anos, refugiado da República Democrática do Congo

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