O uso indevido de informações de 87 milhões de pessoas, incluindo 443 mil brasileiros, coletadas pela empresa Cambridge Analytica por meio do Facebook, não foi o primeiro grande escândalo enfrentado pela rede social. Mas obrigou seu criador e presidente, Mark Zuckerberg, a ser sabatinado por congressistas americanos durante dois dias em Washington, DC. O mundo inteiro acompanhou com atenção e curiosidade as horas de interrogatório, mas o resultado foi um tanto anticlimático. Amparado por um rígido limite de tempo para perguntas e por um ótimo treinamento em relações públicas, Zuckerberg entregou muito pouco. Mesmo assim, foi possível ter uma ideia mais precisa da quantidade de informações que sua empresa detém.

“O Facebook pode ser uma arma para aqueles que querem nos fazer mal e sabotar nossa democracia” Frank Pallone, deputado, sobre o uso das informações coletadas

O foco de boa parte das perguntas foi o vazamento e o uso dos dados pela Cambridge Analytica, que pode ter influenciado o resultado das eleições americanas de 2016. Reiterando seu pedido de desculpas, Zuckerberg disse que seus próprios dados pessoais foram coletados e afirmou que vem fazendo uma investigação extensa sobre o caso. Disse que no pleito de 2016 estava menos preparado para lidar com ataques e roubo de informações, mas que a segurança agora está mais robusta, citando inclusive as eleições que serão realizadas neste ano no Brasil, Índia e Hungria. Comparou a situação a uma corrida armamentista, em que é preciso estar sempre um passo à frente dos hackers inimigos.

PROTESTO Bonecos de Zuckerberg com os dizeres ‘Conserte o Fakebook’ colocados no Capitólio (Crédito:Saul Loeb)

O criador do Facebook também evitou revelar precisamente quanta informação dos usuários é arquivada pela rede social. Ele repetidamente afirmou que cada pessoa opta pelo que quer compartilhar, mas a verdade é um pouco diferente. A atividade do usuário fora da rede social, por exemplo, também é monitorada e ninguém fora da companhia tem acesso a esses dados. Pressionado, Zuckerberg se disse disposto a trabalhar com o Congresso para criar uma regulamentação. Antes, já havia se comprometido a oferecer as mesmas medidas de privacidade que serão exigidas na Europa nas próximas semanas. De acordo com a nova lei, as companhias só poderão coletar dados absolutamente necessários. Ainda não se sabe como isso será feito, já que várias configurações padrão do Facebook contrariam as novas regras de segurança.

“Seus termos  de serviço são uma droga” John Kennedy, senador, criticando as políticas de privacidade da rede social

Ambiente inseguro

O discurso de ódio que tem encontrado no Facebook um terreno bastante fértil foi outro tema abordado pelos congressistas. Segundo Zuckerberg, ferramentas de inteligência artificial já são bastante eficazes para identificar conteúdo ligado a terrorismo, mas que no caso do discurso de ódio a situação é mais complexa por conta de inúmeras sutilezas, como gírias e expressões discriminatórias, e a tecnologia necessária para identificar esse material pode levar de 5 a 10 anos para ficar pronta. Até lá, a moderação fica a cargo de funcionários de carne e osso. “Nós temos responsabilidade sobre o conteúdo que as pessoas compartilham no Facebook? Acho que a resposta para essa pergunta é sim”, disse ele.