Com a instabilidade econômica, aumento da violência, do desemprego e o iminente efeito das mudanças climáticas, pode-se dizer que boa parte da população está sofrendo algum tipo de impacto mental, o que afeta diretamente o sono. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 40% da população possui algum tipo de dificuldade para dormir, e isso inclui também a parcela da população mais jovem.

Somado a isso, o crescimento da conscientização sobre saúde mental tem aumentado a procura por médicos psiquiatras e medicamentos que ajudem o sono e a ansiedade. Entre os remédios que ganharam popularidade nos últimos anos, o Zolpidem tem sido muito receitado por esses profissionais.

De acordo com Rodrigo Lancelote Alberto, médico psiquiatra e Diretor Técnico do Centro de Atenção Integrada a Saúde Mental de Franco da Rocha (CAISM-FR), gerenciado pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas ‘Dr. João Amorim’, o medicamento possui grande eficácia e rapidez de ação em distúrbios do sono. “O Zolpidem é um indutor do sono e na sua manutenção. Pertence ao grupo das imidazopiridinas e é um hipnótico que possui alta afinidade a receptores de determinados neurotransmissores (neste caso chamado de GABA) localizadas no cérebro.  Sendo assim, é uma medicação para insônia e atua como uma opção de fármaco que tem um inicio de ação rápida, boa capacidade na manutenção do sono e uma meia-vida (que é o tempo de ação) curta, portanto, diminuindo a chance de efeitos colaterais como a sonolência (conhecido popularmente como “ressaca”) pela manhã”, explica.

Atualmente, em redes sociais como TikTok, Twitter e Instagram tem aparecido cada vez mais piadas envolvendo o medicamento. Relatos de compras inesperadas, conversas de madrugada e principalmente atitudes impulsivas têm sido compartilhadas. “A população jovem é uma parcela da sociedade bastante susceptível a diversos estressores pelo nível de atividades que geralmente executa. Isto inclui pessoas que estão nas fases de estudos para iniciar um curso superior ou estejam cursando uma faculdade e necessitam trabalhar de forma concomitante, além de uma fase de intensas descobertas e muitas definições do ponto de vista social (assumir relacionamentos duradouros, ter filhos, sustentar uma família)”, explica Alberto.

“Sendo assim, o prevalente conceito do imediatismo da sociedade atual, juntamente com a pressão destas demandas citadas, em confronto com o pouco tempo de lazer e de descanso, compõem um entendimento de que as soluções dos problemas também precisam ser rápidas e, portanto, a utilização de uma forma artificial (que não dependa do esforço da pessoal) e rápido para proporcionar algumas horas de descanso é o deslinde para a utilização de medicamentos que traga a rápida indução de algo tão fisiológico e necessário como o sono”, esclarece.

Quando não se dorme

Lançado no início dos anos 1990, o Zolpidem é um medicamento da classe dos hipnóticos (para indução do sono) que deve ser usado por um curto período — no máximo, quatro semanas — por quem tem dificuldades para dormir ou manter o sono por um tempo adequado. Apesar de sua eficácia, o remédio possui seus efeitos colaterais como sonambulismo, por exemplo. É daí que vem grande parte dos memes e piadas envolvendo a medicação.

Há relatos de pessoas que entraram em contato com afetos do passado, fizeram compras importantes como pacotes de viagem, arrumaram a casa de madrugada, tiveram alucinações, entre outros, tudo sem ter de fato uma memória do ocorrido. “[o medicamento] pode proporcionar um estado de diminuição considerável ou perda total da memória (amnesia), causando o que é chamado de amnésia anterógrada, que é a perda da memória para fatos que aconteceram logo após o uso do medicamento. Além de sonambulismo e mudança repentina e grave no estado mental. Portanto, o paciente pode não se lembrar de algo que tenha feito na noite anterior, quando fez uso da medicação. Estes efeitos estão relacionados a atuação do medicamento em determinados receptores neuronais em áreas do sistema nervoso central”, esclarece Alberto.

Os riscos

Apesar de parecerem relatos inofensivos, há riscos nesses efeitos colaterais, que podem colocar o paciente em perigo. “A utilização de forma incorreta ou automedicação não devem ocorrer, pois além de não ter o problema de saúde tratado de forma completa e satisfatória, pode ocasionar agravos e prejuízos ao organismo.  No caso de alguns medicamentos que atuam no sistema nervoso central, como por exemplo o Zolpidem, quando utilizados de forma incorreta e sem orientação pode-se incluir o surgimento de  complicações com repercussões graves tais como acidentes domésticos ou de transito e exposições sociais (postagens em redes sociais) ou financeiras (gastos desnecessários e bizarros). Além de possíveis problemas hepáticos, renais, pulmonares por exemplo”, aponta.

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Portanto, apesar de ser um medicamento eficaz e relativamente seguro, é preciso se atentar ao uso correto e com acompanhamento médico. “Quanto aos distúrbios do sono, em especial a insônia, deve-se sempre procurar ajuda de profissionais especializados para que ocorra o entendimento completo do problema, incluindo aspectos individuais e externos  que atuem como predisponentes (pré-disposição) […] Assim como a realização de exames complementares se necessário (como por exemplo exames laboratoriais, de imagem, polissonografia) para investigar as causas orgânicas, além de avaliação do estado mental quanto a possíveis transtornos mentais existentes (como os transtornos de ansiedade e de humor).  Por fim, o profissional poderá realizar as orientações quanto a medidas relacionadas a higiene do sono (que inclui hábitos saudáveis durante o dia e antes de dormir), psicoterapia e uso de medicamentos, quando indicado”, finaliza.