24/10/2022 - 15:28
Com a instabilidade econômica, aumento da violência, do desemprego e o iminente efeito das mudanças climáticas, pode-se dizer que boa parte da população está sofrendo algum tipo de impacto mental, o que afeta diretamente o sono. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 40% da população possui algum tipo de dificuldade para dormir, e isso inclui também a parcela da população mais jovem.
Somado a isso, o crescimento da conscientização sobre saúde mental tem aumentado a procura por médicos psiquiatras e medicamentos que ajudem o sono e a ansiedade. Entre os remédios que ganharam popularidade nos últimos anos, o Zolpidem tem sido muito receitado por esses profissionais.
De acordo com Rodrigo Lancelote Alberto, médico psiquiatra e Diretor Técnico do Centro de Atenção Integrada a Saúde Mental de Franco da Rocha (CAISM-FR), gerenciado pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas ‘Dr. João Amorim’, o medicamento possui grande eficácia e rapidez de ação em distúrbios do sono. “O Zolpidem é um indutor do sono e na sua manutenção. Pertence ao grupo das imidazopiridinas e é um hipnótico que possui alta afinidade a receptores de determinados neurotransmissores (neste caso chamado de GABA) localizadas no cérebro. Sendo assim, é uma medicação para insônia e atua como uma opção de fármaco que tem um inicio de ação rápida, boa capacidade na manutenção do sono e uma meia-vida (que é o tempo de ação) curta, portanto, diminuindo a chance de efeitos colaterais como a sonolência (conhecido popularmente como “ressaca”) pela manhã”, explica.
Atualmente, em redes sociais como TikTok, Twitter e Instagram tem aparecido cada vez mais piadas envolvendo o medicamento. Relatos de compras inesperadas, conversas de madrugada e principalmente atitudes impulsivas têm sido compartilhadas. “A população jovem é uma parcela da sociedade bastante susceptível a diversos estressores pelo nível de atividades que geralmente executa. Isto inclui pessoas que estão nas fases de estudos para iniciar um curso superior ou estejam cursando uma faculdade e necessitam trabalhar de forma concomitante, além de uma fase de intensas descobertas e muitas definições do ponto de vista social (assumir relacionamentos duradouros, ter filhos, sustentar uma família)”, explica Alberto.
“Sendo assim, o prevalente conceito do imediatismo da sociedade atual, juntamente com a pressão destas demandas citadas, em confronto com o pouco tempo de lazer e de descanso, compõem um entendimento de que as soluções dos problemas também precisam ser rápidas e, portanto, a utilização de uma forma artificial (que não dependa do esforço da pessoal) e rápido para proporcionar algumas horas de descanso é o deslinde para a utilização de medicamentos que traga a rápida indução de algo tão fisiológico e necessário como o sono”, esclarece.
Quando não se dorme
Lançado no início dos anos 1990, o Zolpidem é um medicamento da classe dos hipnóticos (para indução do sono) que deve ser usado por um curto período — no máximo, quatro semanas — por quem tem dificuldades para dormir ou manter o sono por um tempo adequado. Apesar de sua eficácia, o remédio possui seus efeitos colaterais como sonambulismo, por exemplo. É daí que vem grande parte dos memes e piadas envolvendo a medicação.
Gente alguem aqui que toma zolpidem tb qnd nao dorme na hora fica fazendo umas coisas doidas tipo COMPRANDO COISAS, falando com pessoas no zap etc?
Essa noite eu mudei meu quarto todo de lugar as 4:30
— Babi (@babi) January 28, 2019
Há relatos de pessoas que entraram em contato com afetos do passado, fizeram compras importantes como pacotes de viagem, arrumaram a casa de madrugada, tiveram alucinações, entre outros, tudo sem ter de fato uma memória do ocorrido. “[o medicamento] pode proporcionar um estado de diminuição considerável ou perda total da memória (amnesia), causando o que é chamado de amnésia anterógrada, que é a perda da memória para fatos que aconteceram logo após o uso do medicamento. Além de sonambulismo e mudança repentina e grave no estado mental. Portanto, o paciente pode não se lembrar de algo que tenha feito na noite anterior, quando fez uso da medicação. Estes efeitos estão relacionados a atuação do medicamento em determinados receptores neuronais em áreas do sistema nervoso central”, esclarece Alberto.
NUNCA MAIS TOMO ZOLPIDEM NESSA VIDA pic.twitter.com/GFQxde0Z9t
— Pedu (@hpedrenrique) August 11, 2022
Os riscos
Apesar de parecerem relatos inofensivos, há riscos nesses efeitos colaterais, que podem colocar o paciente em perigo. “A utilização de forma incorreta ou automedicação não devem ocorrer, pois além de não ter o problema de saúde tratado de forma completa e satisfatória, pode ocasionar agravos e prejuízos ao organismo. No caso de alguns medicamentos que atuam no sistema nervoso central, como por exemplo o Zolpidem, quando utilizados de forma incorreta e sem orientação pode-se incluir o surgimento de complicações com repercussões graves tais como acidentes domésticos ou de transito e exposições sociais (postagens em redes sociais) ou financeiras (gastos desnecessários e bizarros). Além de possíveis problemas hepáticos, renais, pulmonares por exemplo”, aponta.
@overmila nem é meme juro rs #fy #zolpidem #dopadadezolpidem #remediopradormir #alucinações #insônia #borderline #border #humor #viral #tpb #sono ♬ HALLOWEEN THEME SONG (MICHAEL MYERS) – REMIX – ST6 & Trap Music Now
Portanto, apesar de ser um medicamento eficaz e relativamente seguro, é preciso se atentar ao uso correto e com acompanhamento médico. “Quanto aos distúrbios do sono, em especial a insônia, deve-se sempre procurar ajuda de profissionais especializados para que ocorra o entendimento completo do problema, incluindo aspectos individuais e externos que atuem como predisponentes (pré-disposição) […] Assim como a realização de exames complementares se necessário (como por exemplo exames laboratoriais, de imagem, polissonografia) para investigar as causas orgânicas, além de avaliação do estado mental quanto a possíveis transtornos mentais existentes (como os transtornos de ansiedade e de humor). Por fim, o profissional poderá realizar as orientações quanto a medidas relacionadas a higiene do sono (que inclui hábitos saudáveis durante o dia e antes de dormir), psicoterapia e uso de medicamentos, quando indicado”, finaliza.