Desde que a relação do vírus Zika com a microcefalia foi descoberta, cientistas buscam a cura para doença. Recentemente, um estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a Universidade de Medicina da Califórnia, nos EUA, apontou um caminho promissor nesse sentido. E, o melhor, usando um recurso disponível no mercado. Trata-se do medicamento Sofosbuvir, ministrado para tratar a hepatite C com excelentes índices de remissão. Agora, revelou eficácia semelhante contra a Zika, pelo menos nos experimentos em animais.

Conduzido no Brasil por Patrícia Beltrão Braga, professora de Ciências Biomédicas da USP e, nos EUA, pelo brasileiro Alysson Muotri , biólogo molecular, o trabalho foi publicado na revista Scientific Reports, do conceituado grupo Nature. Ele partiu da procura da dupla de cientistas por uma solução rápida contra a Zika.

Por meio da comparação do genoma dos vírus da hepatite C e da Zika, os cientistas identificaram semelhanças nas enzimas envolvidas na replicação viral das duas doenças. E buscaram drogas disponíveis que atuavam sobre essas substâncias. Foi dessa forma que chegaram ao Sofosbuvir.

Primeiro, o remédio foi testado em minicérebros — estruturas obtidas a partir de células-tronco embrionárias com funcionamento semelhante ao de partes do sistema nervoso central. Depois, investigado em cobaias. Os resultados impressionaram. O vírus foi totalmente eliminado nos camundongos infectados. Nas fêmeas grávidas, o remédio também evitou a transmissão para o feto. Todos os filhotes nasceram sem as complicações neurológicas típicas da infecção. “O grande diferencial é essa prevenção da síndrome congênita”, afirma Patrícia.

A comprovação da eficácia em humanos é o próximo passo. Os primeiros testes começarão em três meses, no Equador, que sofre um surto da doença. “Como já é usado, acredito que a aprovação seja rápida”, acredita Muotri. Segundo o Ministério da Saúde, de outubro de 2015 a dezembro de 2017 foram confirmados 3037 casos de bebês com alterações no crescimento e desenvolvimento relacionadas à infecção pelo Zika no Brasil.

AVANÇO Muotri e Patrícia: ele comandou a pesquisa nos EUA, e ela, no Brasil. Os dois planejam o início do teste em humanos

 

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias