A falta de escrúpulos do candidato Jair Bolsonaro e de seu entorno político é uma característica tão escancarada que fica difícil imaginar como alguém pode apoiá-lo sem ficar vermelho de vergonha. Em pleno século 21, temos um presidente do século 19, época em que a compra de votos era uma prática aceitável tanto para quem comprava quanto para quem vendia.

Ele faz, mais uma vez, uma clara tentativa de compra de votos: não há limites para os absurdos que o presidente e seu Centrão estão fazendo a 40 dias do primeiro turno. A prova mais contundente desse tipo de manobra é a medida que libera a desoneração de Whey Protein, linha de produtos popular entre os frequentadores de academia.

É aí que eu te pergunto: zerar os impostos da importação de Whey Protein vai ajudar o povo brasileiro em quê? Temos 30 milhões de pessoas passando fome, mas o presidente não está nem aí. O que ele quer é “lacrar” com o público das academias, tentando cavar alguns votos dessa turma. Lembrando que o presidente já havia anunciado uma série de isenções de produtos totalmente supérfluos, como jet-skis e coletes para motociclistas. Sem esquecer uma ação extremamente importante para o futuro do nosso País: a desoneração do imposto de asas-delta. Ah! Balões e dirigíveis, outros itens essenciais para a sociedade brasileira, também terão impostos reduzidos. Agora vai, Brasil!

O que mais chama a atenção, além da total discrepância entre a realidade vivida pelo povo brasileiro e o que se passa na cabeça do presidente, é o improviso que marca sua equipe econômica. Paulo Guedes, que assumiu prometendo uma gestão de primeiro mundo, virou um carimbador de medidas que visam apenas agradar categorias ligadas ao bolsonarismo. O festival de humilhações que o presidente impôs a Guedes ao longo do mandato não tem fim, mas o ministro é tão apegado ao cargo que nem se incomoda nem um pouco. Já sabe que entrará para a história como o “ministro da Economia de Jair Bolsonaro”, com todo o peso negativo que esse aposto irá lhe trazer.

O presidente já tinha anunciado outras “compras de votos” com a ajuda no Centrão quando criou o voucher de R$ 1.000 para caminhoneiros e taxistas e elevou o Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600. O vale-gás também foi de R$ 60 para R$ 120. Houve um aumento também no subsídio ao transporte gratuito de idosos, além de repasses para os produtores de etanol. Não há planejamento, estratégia, nada. É um governo “nas coxas”, preguiçoso.

E que age na contramão da Constituição: a lei 9.504, artigo 73, parágrafo 10, veda expressamente a distribuição de benesses em ano eleitoral. Para contornar a lei, Bolsonaro aprovou a PEC Kamikaze , nome inspirado nos pilotos japoneses que aceitavam cometer suicídio para atingir seus alvos na Segunda Guerra. O presidente declarou “estado de emergência” para passar as medidas. Não há nada mais hipócrita do que fazer isso a 50 dias da eleição – e não, por exemplo, durante a pandemia, quando centenas de milhares de brasileiros morriam. Em vez de se preocupar com eles, visitando as famílias nos hospitais ou enviando mensagens de condolências, Bolsonaro zombava das vítimas, imitando as pessoas sem conseguir respirar – apenas mais uma prova de que o presidente não tem escrúpulos e fará qualquer coisa para se reeleger. Veremos.