O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, disse que seu primeiro encontro com o líder russo, Vladimir Putin, desde o começo da guerra pode acontecer nas próximas semanas, mas somente depois que as potências ocidentais definirem as garantias de segurança para seu país.
“Queremos entender como ficará a arquitetura das garantias de segurança, dentro de sete a 10 dias”, afirmou Zelensky na quarta-feira (20) em entrevista a vários meios de comunicação, incluindo a AFP, mas que estava sob embargo até esta quinta-feira (21).
Após a definição das garantias, acrescentou, “deveríamos ter uma reunião bilateral (com Putin) em uma ou duas semanas”, como deseja o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que poderia participar do encontro em um possível formato trilateral.
Ao falar sobre o possível local do encontro com Putin, ele mencionou Suíça e Áustria, dois países com tradição de neutralidade, e também a Turquia, membro da Otan e sede das últimas negociações diretas entre delegações da Rússia e da Ucrânia. Mas descartou que a China, aliada de Moscou, possa ser um garantidor da segurança em seu país: “Não precisamos de garantidores que não ajudam a Ucrânia.”
A Suíça informou durante a semana que garantirá a imunidade do presidente da Rússia, objeto de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) pela suposta deportação de crianças ucranianas para território russo.
O presidente russo parece disposto a conversar presencialmente com o líder ucraniano, mas o Kremlin diminuiu o entusiasmo de parte da comunidade internacional e ressaltou que o encontro deve ser preparado “minuciosamente”.
Em seu pronunciamento diário, Zelensky acusou hoje a Rússia de se esquivar “da necessidade” de um encontro entre os líderes dos dois países: “Os sinais atuais da Rússia são, sinceramente, indecentes. Tentam se esquivar da necessidade de se reunir. Não querem encerrar esta guerra.”
Trump se reuniu nos últimos dias separadamente com os dois líderes, primeiramente com Putin, na sexta-feira, e depois com Zelensky e líderes europeus, na segunda-feira.
Apesar da atividade diplomática intensa, um acordo sobre garantias de segurança não é algo fácil. Europeus e americanos apresentaram diferentes propostas, incluindo uma oferta à Ucrânia de garantias similares às registradas no artigo 5 do tratado constitutivo da Otan, que prevê uma defesa conjunta em caso de ataque.
Também foi proposta a presença de um contingente militar em território ucraniano, além de um apoio em matéria de formação, aérea e naval.
A Ucrânia insiste nas garantias por temer que a Rússia volte a invadir o país, mesmo após o anúncio de uma solução para o conflito atual. O Kremlin, por sua vez, ressaltou que é impensável incluir a Ucrânia na Otan, e destacou que suas próprias exigências de segurança devem ser levadas em consideração.
O ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, reiterou nesta quinta-feira que para seu país seria “absolutamente inaceitável” propor a presença de um contingente europeu na Ucrânia.
Nos Estados Unidos, o vice-presidente, JD Vance, pressionou a Europa e alertou que o continente deverá assumir “a maior parte do fardo” da segurança da Ucrânia. “É o continente deles. É a segurança deles, e o presidente [Donald Trump] foi muito claro: eles terão que dar um passo à frente”, disse.
Para continuar ganhando terreno, as tropas russas intensificaram recentemente suas operações na Ucrânia, em particular na região de Donetsk (leste), mas também em Dnipropetrovsk.
Na madrugada de hoje, a Rússia lançou 574 drones e 40 mísseis contra o território ucraniano em seu maior ataque nas últimas semanas. Os bombardeios deixaram dois mortos, um em Kherson e outro em Lviv, no oeste do país.
Os ataques aéreos russos também atingiram um complexo industrial dos Estados Unidos na cidade ucraniana de Mukachevo e deixaram 19 feridos, informou a premier da Ucrânia, Yulia Sviridenko.
Zelensky alertou que Moscou está “reunindo tropas” na parte ocupada da região de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, visando a uma possível operação.
Na área da região ucraniana de Donetsk ocupada pela Rússia, duas pessoas morreram e 21 ficaram feridas em um bombardeio ucraniano, publicou no aplicativo Telegram o chefe regional nomeado pela Rússia, Denis Pushilin.
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